O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, anunciou esta segunda-feira uma pausa no processo de aprovação da reforma do sistema judicial. Em resposta, o principal sindicato decretou o fim de greve geral.
Num discurso ao país, feito após consultas políticas com “alguns” parceiros da coligação governamental, Netanyahu anunciou que a adoção final dos vários projetos de reforma, que prevê o reforço do poder executivo em detrimento do sistema judicial, comprometendo a sua independência, foi adiada para a próxima sessão parlamentar, que vai acontecer após as celebrações da Páscoa (5 a 13 de abril), a 30 de abril.
Netanyahu disse esperar que esta pausa no processo legislativo seja um momento de diálogo aberto. “Quando há uma oportunidade de evitar a guerra civil por meio do diálogo, eu, como primeiro-ministro, estou a dar tempo ao diálogo”, explicou.
Adotando um tom mais conciliador do que em discursos anteriores, o primeiro-ministro israelita mostrou-se determinado a aprovar a reforma judicial, mas pediu “uma tentativa para alcançar um amplo consenso”.
Com esta tomada de posição, o líder do Governo israelita cedeu em parte às exigências dos adversários políticos, fazendo também concessões aos parceiros de coligação, alguns dos quais se manifestaram contra a intransigência do Governo sobre esta matéria.
O Presidente israelita, Isaac Herzog, aplaudiu o anúncio, dizendo que é necessário haver “uma discussão franca, séria e responsável para acalmar os espíritos e as tensões”. Reino Unido e Estados Unidos da América mostraram-se também satisfeitos com o discurso de Netanyahu.
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Histadrut cancela greve geral mas protestos continuam na rua. Mais de 50 pessoas foram detidas em várias cidades
Em reação ao anúncio de Netanyahu, a Histadrut, principal central sindical israelita, anunciou o fim da greve geral decretada, que tinha como objetivo contestar a polémica reforma da justiça. “Após o anúncio do primeiro-ministro, declaro o fim da greve anunciada”, afirmou o líder do Histadrut, Arnon Bar David, num comunicado. Consequentemente, as embaixadas israelitas em vários países, incluindo em Portugal, anunciaram que voltariam a abrir portas.
Os principais organizadores garantiram, no entanto, que vão manter os protestos e que estes vão acontecer como planeado. “Enquanto a legislação continuar e não for arquivada, vamos continuar na rua”, declarou um grupo de protesto informal conhecido como “a luta HQ”, citado pelo The New York Times. “Esta é apenas outra tentativa de enfraquecer o protesto”, disse o mesmo organismo.
Em Jerusalém, cerca de 200 manifestantes entraram em confronto com a polícia quando as autoridades tentaram travar a marcha em direção à casa de Netanyahu, refere o The Times of Israel. De acordo com o The New York Times, após o final do discurso de Netanyahu, a maioria dos manifestantes que estavam junto ao Parlamento começaram a caminhar em direção à residência do primeiro-ministro. As autoridades foram obrigados a usar canhões de água. Em Jerusalém, apoiantes de Netanyahu bloquearam a avenida Yitzhak Ben Zvi, a principal estrada da cidade.
Ao todo, foram detidas 53 pessoas em várias cidades. A maioria das detenções, 33, foram feitas na cidade de Tel Aviv.