O secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, Paulo Cafôfo, disse esta quarta-feira que a cooperação de Portugal com Timor-Leste é “interessada e desinteresseira“, reafirmando a solidez dos laços bilaterais entre os dois países.
Portugal está aqui de uma forma interessada e desinteresseira. Interessada porque quer o melhor para Timor-Leste e desinteresseira porque não tem aqui outro objetivo que não seja ajudar e acompanhar a estratégia que este país define”, afirmou Paulo Cafôfo em declarações à Lusa em Díli.
“Não estamos aqui com atitude de imposição, pelo contrário, mas de um amigo que ajuda outro amigo a poder caminhar e prosseguir. É esse o nosso papel porque aos timorenses cabe a decisão do seu destino e do seu futuro, e é aí que Portugal se revê, nesta postura de cooperação e não de imposição“, disse.
Cafôfo falava à Lusa no final de uma curta visita de dois dias a Timor-Leste durante a qual contactou com alguns projetos da cooperação portuguesa, se reuniu com o Presidente da República, José Ramos-Horta, e ainda com mais de uma centena de cidadãos portugueses e luso-timorenses.
Timor-Leste é efetivamente longe de Portugal, do ponto de vista geográfico, mas esta distância é encurtada com a relação que Portugal tem com Timor-Leste, essa relação muito chegada, que foi algo constante no programa e diversas iniciativas que tive aqui em Timor-Leste”, disse.
“Não deixa de ser emocionante ver que Portugal ajudou a construir e continua a ajudar a construir a dignidade de um país e de um povo, em diversas vertentes. Essa construção da dignidade faz-se sentir”, considerou.
Entre as áreas de cooperação destacou o sistema educativo, com a “forte aposta na promoção da língua portuguesa”, que acaba por ser igualmente “fator de reforço da relação de amizade entre Portugal e Timor-Leste”.
Pude constatar isso na escola CAFE de Liquiçá, onde, seja na música do Max, nas diversas áreas curriculares dos alunos, há aqui uma forte aposta naquilo que é a construção deste país. E o futuro só se pode fazer com a qualificação da sua população”, afirmou.
Cafôfo referiu-se ainda ao contributo de Portugal para a criação e construção do sistema de segurança nacional de Timor-Leste.
Ajudámos os timorenses a fundarem algo que não existia, um sistema que garante a tal dignidade a tantos timorenses. E isto tem um valor insubstituível”, afirmou.
“A minha presença aqui acaba de ser uma forma de valorizar estas áreas, da educação, segurança ou justiça, onde temos também um importante papel”, acrescentou.
Na noite de terça-feira, Cafôfo participou num evento promovido de forma espontânea pela comunidade portuguesa em Díli, onde participaram mais de uma centena de pessoas, incluindo José Ramos-Horta, que deu boleia e conduziu o secretário de Estado português até ao local num dos seus jipes.
Questionado sobre a pressão nos serviços consulares de Díli, especialmente devido ao elevado número de pedidos de nacionalidade, Cafôfo disse que essa questão não se resolve com a colocação de mais funcionários em Timor-Leste, já que está relacionada com o constrangimento dos serviços em Lisboa.
Portugal está na moda e encontro isso no mundo todo. Timor é diferente de todas os outros [sítios], atribuímos nacionalidade pelas relações históricas e o contexto em que o país alcançou a sua independência e a relação que tinha no passado histórico comum”, disse.
“Noutros países onde não há esta relação, lusodescendentes que até agora não quiseram adquirir nacionalidade, filhos e netos de imigrantes portugueses, e que agora querem adquirir o passaporte português. Isso em Lisboa acaba por causar algum constrangimento e o Governo está atento para haver maior celeridade, face ao maior fluxo de pedidos de nacionalidade”, afirmou.
Cafôfo reiterou que os timorenses “são bem-vindos”, seja pelo seu direito de acesso à nacionalidade, seja “por opção própria quererem ir para Portugal criar uma vida e ter um projeto de vida”, vincando a necessidade de garantir que o processo é organizado.
De braços abertos recebemos estes timorenses, de uma forma regrada, organizada, acompanhada. Não queremos que haja situações de desregulação ou de abuso por parte de entidades externas, que de forma ilegítima e ilegal procuram aproveitar-se das pessoas. A nossa preocupação tem sido de acompanhar, sinalizar e evitar que situações menos dignas possam acontecer”, afirmou.
Relativamente aos laços com os portugueses em Timor-Leste e entre estes e os timorenses, Cafôfo disse que em cada local do mundo se exige uma estratégia “diferenciada” e que, neste caso, a maior aposta deve ser feita “através da língua e da cultura portuguesa“.
Esse é um chão comum que pisamos, onde podemos caminhar juntos e onde os timorenses sentem uma identidade. A identidade muito própria dos timorenses que têm a sua história, os seus dialetos, mas tem uma ligação a Portugal tem um ADN que é também português, entre outras características”, disse.
“A língua e a cultura portuguesas são a forma melhor de reforçar esta ligação, com o ensino, mas também com eventos. É por aqui que devemos ir para estabelecer pontes entre Portugal e Timor”, afirmou.