Os abandonados. Esse poderia ser o título da homilia do Papa na missa do Domingo de Ramos, que celebrou na Praça de São Pedro, no Vaticano, um dia depois de ter deixado o hospital. Embora a sua voz tenha começado com força, a rouquidão sentiu-se pouco depois, não impedindo o líder da Igreja Católica de falar durante cerca de 15 minutos. Depois, seguiu-se a tradicional procissão dos ramos.
“Cristo, abandonado, impele-nos a procurá-lo e a amá-lo nos abandonados. Porque neles, não temos apenas necessitados, mas temo-lo a Ele, Jesus Abandonado, aquele que nos salvou descendo até ao fundo da nossa condição humana”, começou por dizer o Papa Francisco aos fiéis. “Por isso deseja que cuidemos dos irmãos e irmãs que mais se parecem com Ele, com Ele no ato extremo do sofrimento e da solidão.”
O Papa falou longamente sobre o Evangelho da paixão e morte de Cristo e acabou por lembrar a história de um sem-abrigo que, há algumas semanas, morreu sozinho junto à colunata da Praça de São Pedro. A comparação feita por Francisco foi com a solidão e sofrimento de Jesus crucificado abandonado até à morte, acrescentando que o sem-abrigo que, há umas semanas, morreu sozinho junto à colunata da Praça de São Pedro, era um “entre tantos Cristos abandonados”.
“Há hoje tantos cristos abandonados”, continuou o Papa.
“Há povos inteiros explorados e deixados à própria sorte; há pobres que vivem nas encruzilhadas das nossas estradas e cujo olhar não temos a coragem de fixar; migrantes, que já não são rostos, mas números; reclusos rejeitados, pessoas catalogadas como problemas”, acrescentou Francisco. “Mas há também muitos cristos abandonados invisíveis, escondidos, que são descartados de forma elegante: crianças nascituras, idosos deixados sozinhos, doentes não visitados, pessoas portadoras de deficiência ignoradas, jovens que sentem dentro um grande vazio sem que ninguém escute verdadeiramente o seu grito de dor.”