Começou em Jorge Jesus, teve prolongamento com Abel Ferreira, contou com as passagens de Ricardo Sá Pinto e Paulo Sousa, segue hoje com um contingente maior do que nunca: entre as 20 equipas que vão jogar o Campeonato do Brasil em 2023, 40% têm treinadores portugueses entre Abel Ferreira (Palmeiras), Vítor Pereira (Flamengo, ex-Corinthians), Luís Castro (Botafogo), Pedro Caixinha (Bragantino), António Oliveira (Coritiba), Ivo Vieira (Cuiabá), Pepa (Cruzeiro) e Renato Paiva (Bahia). Por isso, e de forma quase inevitável, há sempre qualquer notícia em torno dos técnicos, entre a vitória do Flamengo frente ao Fluminense que deu vantagem na primeira mão da final do Campeonato Carioca e a derrota do Palmeiras com o Água Santa que deixou o atual campeão estadual e nacional em desvantagem na final do Campeonato Paulista. Mas este fim de semana já foi de decisões em algumas provas e o primeiro título chegou através de Renato Paiva.

Depois do empate sem golos na primeira mão do Campeonato Baiano, o Bahia venceu por 3-0 o Jacuipense com golos na segunda parte de Everaldo Stum (67′), Cauly Souza (69′) e Vítor Jacaré (90+5′, g.p.) e ganhou a competição pela 50.ª vez na história, quebrando um jejum de três anos sem vencer a mesma numa Arena Fonte Nova (um dos estádios mais bonitos construídos para o Mundial-2014) que registou a assistência mais alta do ano com um total de 48.085 adeptos pagantes e 48.598 adeptos presentes nas bancadas.

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“Nós só pedimos paciência. O bloco do Jacuipense esteve mais baixo do que estávamos à espera. Os jogadores não tiveram paciência para girar a bola e isso fez-nos perder a bola algumas vezes e gerou intranquilidade. O que faltava era paciência para entender quando e onde entrar no bloco adversário. Não jogos sozinhos e não há finais fáceis. As folhas salariais não jogam, se jogassem o PSG ainda estava na Champions. É preciso respeitar os adversários. O meu colega montou muito bem a equipe dele mas sentia que depois do primeiro golo os espaços iriam aparecer. Foi o que aconteceu”, comentou o técnico português, que levou o habitual “banho” no relvado… e na sala de imprensa. “É o segundo choque térmico que tenho hoje, olha que o coração está bom…. De facto perdi o elenco… Permitam-me que seja um pouco mau, de facto os jogadores não gostam de nós… Perdi a equipa e afinal eles deram-me um banho de gelo só porque não gostam de mim. Desculpem, foi só um desabafo”, atirou em resposta às críticas.

“Críticas por jogar com três defesas? Comigo jogam aqueles que mais se entregam ao treino e ao jogo. Acho que sempre fui mal interpretado aqui. O meu pai foi preso pela ditadura em Portugal, se o meu pai imaginasse que eu era contra crítica, jamais olharia para a minha cara. Chamam-me teimoso. Eu não posso, na questão da mudança do sistema tático, ser considerado teimoso por não fazer o que as pessoas acham que poderia fazer… Qual foi o momento para encontrar esse sistema? Quando tive estes jogadores. Não tinha o Kanu, Raul Gustavo… O Cicinho chegou depois, o André foi para o Mundial. É uma comunidade no jogo e precisam de encontrar-se. A única coisa que eu não posso aceitar é quando me insultam ou interpretam mal e manipulam as minhas palavras mas tenho respeito pela crítica”, fez questão de destacar a esse propósito.

“Continuámos a ser competentes no estadual e confirmámos o favoritismo. Independentemente do que digam da facilidade, título é título. Hoje entramos para a história do clube. O treinador sozinho não faz nada. Queria dedicar este título ao Bruno Queiroz [assessor do clube que está a lutar contra um cancro desde o final do último ano]. Merecia estar connosco e temos a certeza que ele vai voltar a estar connosco. Quero dedicar também ao Carlos Santoro [diretor desportivo do Bahia], que passou por tempos difíceis e, com tempo e paciência, compôs o plantel da forma que pedimos e foi possível. Quero dedicar ainda este título à torcida. São eles que sofrem muito com clube, têm imensas alegrias com o clube. No pior momento apareceu e foi fundamental para dar força. Não há nada que nos orgulhe mais do que olhar à volta e ver a alegria deles. Agora vamos continuar o trabalho com o Brasileirão e com a Taça do Brasil. Continuamos a precisar de tempo, a equipa ainda está longe do que queremos”, concluiu Renato Paiva após a conquista do título.

Depois de um largo período nas camadas jovens do Benfica, onde passou pelos juvenis e pelos juniores antes de chegar à equipa B em 2018/19 até 2020/21 (ganhou três títulos nacionais e dois regionais nos Sub-17 dos encarnados), Renato Paiva, de 53 anos, teve a primeira experiência no estrangeiro no Equador, onde se sagrou campeão pelo Independiente del Valle. No ano passado orientou a formação mexicana do Club León sem grande sucesso, tendo chegado em 2023 ao Bahia onde não passou à fase a eliminar da Copa do Nordeste mas ganhou agora o Campeonato Baiano, estando ainda na Taça do Brasil com duas vitórias.