A Jornada Mundial da Juventude (JMJ) de Lisboa, o enorme acontecimento da Igreja Católica com a presença do Papa Francisco que se realiza em agosto deste ano, deverá trazer à capital portuguesa cerca de 1,2 milhões de participantes, de acordo com a estimativa do plano de mobilidade e transportes para o evento que será apresentado na tarde desta quarta-feira. A informação consta de uma súmula do plano que será divulgada esta tarde e que o Observador consultou.

Segundo o documento, a afluência de participantes da JMJ 2023 deverá começar a fazer-se sentir a partir do dia 30 de julho, sendo esperadas entre 300 mil e 400 mil pessoas na cidade de Lisboa nos primeiros três dias de agosto. Entre os dias 4 e 5 de agosto, porém, prevê-se a chegada de um grande número de peregrinos à cidade — com o máximo de participantes, estimado em 1,2 milhões de pessoas, a ser previsto para o dia 6 de agosto, o último dia da JMJ, no qual se vai celebrar a missa de encerramento da Jornada com o Papa Francisco, no Parque Tejo-Trancão.

O plano de mobilidade e transportes tem sido apontado como um dos instrumentos fundamentais para o sucesso da JMJ, uma vez que a presença de 1,2 milhões de pessoas além dos habituais residentes em Lisboa vai trazer enormes constrangimentos de mobilidade e segurança à cidade. Como o Observador noticiou em fevereiro, o atraso na divulgação deste plano estava a dificultar o trabalho à organização do evento (a Fundação JMJ, da Igreja Católica), que precisa destes dados para poder conceber os planos concretos para o que vai acontecer em Lisboa e nos territórios envolventes, que se estendem às dioceses de Setúbal e Santarém, entre os dias 3 e 6 de agosto.

No plano, efetuado para o Grupo de Projeto do Governo para a JMJ pela empresa de engenharia VTM, é assumido que “a JMJ tem sido o maior evento alguma vez realizado em cada um dos países/cidades onde aconteceu“.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“Embora exista incerteza, quanto ao número de participantes, estima-se que o número nunca será inferior a um milhão, pelo que será o maior evento alguma vez realizado em Lisboa e em Portugal”, lê-se ainda no documento. “A JMJ, pela sua dimensão, coloca grandes desafios de organização, em múltiplos domínios, sendo o setor da mobilidade e transportes complexo, pelas várias escalas territoriais.”

O plano de mobilidade e transportes tem de responder ao desafio de gerir os “fluxos de tráfego adicionais consideráveis“, enquanto é dada “prioridade máxima ao transporte público” e é garantido, tanto quanto possível, que os transportes da cidade continuam a funcionar normalmente para o resto da população.

O que é apresentado esta quarta-feira é apenas a primeira fase do plano de mobilidade e transportes, que corresponde à “elaboração do conceito de mobilidade e transportes a implementar“. A segunda fase, que vai corresponder à “operacionalização” do que foi agora definido, terá de estar pronta até 15 de julho: é aí que poderá haver novidades mais concretas sobre os meios de transporte que vão estar a funcionar em cada momento em cada lugar da cidade, os reforços que vão ser implementados, e outros dados. A terceira fase do plano corresponde ao próprio evento, em agosto — durante a qual poderá haver necessidade de implementar alterações em resposta a mudanças na organização do evento.

Prioridade às deslocações a pé dentro da cidade

O plano apresentado esta quarta-feira prevê a existência de três escalas: em maior escala, as deslocações nacionais e internacionais que vão trazer os participantes até às dioceses de acolhimento (Lisboa, Santarém e Setúbal), onde vão ficar a pernoitar; na escala média, a deslocação diária dos participantes entre as dioceses de acolhimento e a cidade de Lisboa, onde decorrem os grandes eventos; e, em pequena escala, as deslocações dentro da cidade de Lisboa.

Dentro da cidade de Lisboa, é expectável que tenha de haver deslocações entre os lugares dos eventos principais, que incluem o Parque Tejo-Trancão, o Parque Eduardo VII, a Alameda Dom Afonso Henriques, o Terreiro do Paço, Belém e o Passeio Marítimo de Algés — mas também por toda a cidade de Lisboa, onde haverá dezenas de pequenos eventos associados à JMJ.

O plano de mobilidade e transportes alerta para a especificidade do público-alvo da JMJ, “jovens católicos, com predisposição para caminhar, em peregrinação, distâncias significativamente superiores ao habitual, em particular em ambiente urbano”. Isto significa que, dentro da cidade de Lisboa, será expectável que “um peregrino caminhe vários quilómetros por dia, todos os dias da JMJ“.

A mobilidade pedonal vai, por isso, funcionar “de forma articulada e complementarmente com o transporte público, que será a espinha dorsal da mobilidade ao longo da semana da JMJ”.

Vai ser também necessário recorrer a aluguer de autocarros para reforçar os serviços de transporte público, sobretudo para reforçar “as ligações entre Lisboa e zonas de acolhimento de peregrinos que não dispõem de ligação direta à cidade”. Isto vai obrigar a, numa segunda fase, identificar locais de tomada e largada de passageiros para estes reforços, bem como lugares de estacionamento de longa duração para os autocarros de aluguer que vão chegar à cidade com peregrinos de todo o mundo.

Concretamente, o plano de mobilidade estima que 200 mil peregrinos estarão na cidade de Lisboa durante a semana da JMJ, 500 mil chegarão à cidade por transporte público regular, 200 mil em autocarros alugados e 300 mil em transporte individual. Isto vai obrigar a reforçar os transportes públicos, a assegurar estacionamento para 4.000 autocarros e a criar condições para 120 mil carros adicionais circularem e estacionarem na cidade — tudo medidas que vão ser desenvolvidas na segunda fase do plano.

No caso dos transportes públicos, a ideia será manter abertas e em funcionamento as principais interfaces de transportes da cidade (estações de comboio, metro e barcos, por exemplo), à exceção da estação de metro do Marquês de Pombal, que não poderá funcionar normalmente devido aos eventos que vão decorrer no Parque Eduardo VII.