O uso de carro e motorista da TAP para questões pessoais e não profissionais levou Manuel Beja a confrontar Christine Ourmières-Widener. Foi “das poucas situações que perdi a paciência”, assegura na comissão de inquérito à TAP.

Todo o caso iniciou-se, conforme contado por Manuel Beja, ainda chairman da TAP, numa deslocação de serviço em que perguntou casualmente ao motorista se tinha muito trabalho. De forma cândida, o motorista respondeu: “sim está complicado, eu estou aqui consigo, um colega está com Christine Ourmières-Widener e um terceiro está com marido o dia todo”. Perguntou se já antes tinha acontecido, ao que lhe foi dito que “acontece de vez em quando”.

Manuel Beja conta que foi confirmar junto da secretaria geral, que geria o serviço de automóveis, se havia registos. E confirmou que acontecia a utilização de carros da TAP para situações pessoais da presidente executiva.

Confrontou Christine “diretamente”, que teve três reações: num primeiro momento disse que se era um problema acabava com isso, num segundo momento falou em perseguição pessoal e num terceiro momento tentou justificar a prática. “Foi das poucas situações que perdi a paciência”, assumiu Manuel Beja, argumentando que a CEO tentou “justificar o injustificável. Não seria uma prática desejável e aceitável em qualquer empresa, em qualquer contexto, mas particularmente num contexto em que estava a haver muitos despedimentos, e de encerramento do infantário. Os argumentos não eram aceitáveis e revelavam uma liderança pouco servidora e uma preocupação de bom senso e razoabilidade que me preocupou”.

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Foi aí que Manuel Beja pediu a criação de uma regulamentação para utilização de carros da TAP, conforme já tinha dito Alexandra Reis que ainda contou que a CEO da TAP tentou despedir o motorista. Manuel Beja relaciona as duas situações, questiona Mariana Mortágua, do Bloco de Esquerda.  “As coincidências podem ter essa leitura”, mas num segundo momento tentou reduzir-se a equipa de motoristas.

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Um outro caso trazido à comissão por Mariana Mortágua foi o da contratação de Isabel Nicolau, uma amiga de Christine Ourmières-Widener. Manuel Beja diz que não conhece a pessoa em causa que foi contratada para um cargo de diretora de segunda linha. Mas considera que as características do processo de contratação foram um motivo de desconforto.

“Do ponto de vista reputacional não foi bom para a TAP e revelou falta de bom senso”.

Depois de ter sido noticiada essa contratação, Manuel Beja falou com Christine, com a diretora de recursos humanos e com Sofia Lufinha, gestora com pelouro dos recursos humanos. A 25 outubro foi pedida uma auditoria interna “que será do conhecimento da comissão e eu enviei à diretora de auditoria interna”. O relatório foi discutido em sede de comissão auditoria. Uma reunião “particularmente tensa porque ainda havia questões para esclarecer em relação ao tema. A conclusão global era que não havendo política de conflitos de interesse não havia incumprimento, mas de qualquer forma existiram dúvidas sobre tema”. Manuel Beja diz que manifestou dúvidas e pediu esclarecimentos mais cabais. Não teve respostas. “Foi um momento preocupante para vida da TAP pelas não respostas. Pode ser a melhor profissional possível, mas do ponto de vista reputacional não foi bom momento para a TAP e não revelou bom senso”.

Mariana Mortágua ainda perguntou se Manuel Beja se opôs à contratação e se Isabel Nicolau “não tem capacidade para ocupar lugar ou foi uma mera verificação de conflitos”. Manuel Beja diz que “não tenho opinião. Era uma diretora de segunda linha, que nunca conheci. Conheci todos os de primeira linha, não os de segunda linha, que são dezenas. Pareceu-me que o processo de contratação não foi adequado”. Mas pedindo feedback uns meses depois recebeu boas indicações e com isso conclui: “ponho a hipótese de ter sido uma excelente escolha para a TAP”.

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