O motivo de saída de Alexandra Reis da TAP, nomeadamente as divergências com a CEO, tem dominado a audição da gestora que saiu da transportadora com uma indemnização de 500 mil euros na comissão de inquérito.

Alexandra Reis já disse que o mandato acabou sem razão objetiva e assume que CEO quis afastar pessoas da TAP por entender que não tinham perfil para a função. Mas revelou outro caso, envolvendo um motorista.

Questionada por Mariana Mortágua sobre se conhecia situações de utilização de carros de serviço para questões não profissionais, nomeadamente por familiares da CEO — podendo esse ser um dos causos a causar diferendo entre ambas — Alexandra Reis explicou que o presidente do conselho de administração, Manuel Beja, estabeleceu uma regra. Só poderia haver recurso aos motoristas da empresa para motivos profissionais. Alexandra Reis reconheceu que essa regra poderia estar relacionada “com alguma situação mas não conheço detalhes”. “Não sei que uso a CEO dava ao carro”.

Sobre a origem dessa regra, e que pode ter partido de uma queixa de um motorista, Alexandra Reis relatou depois um caso específico. “Houve uma situação com um motorista, que terá partilhado com alguma candura que outro motorista estava a fazer uma deslocação não diretamente para a CEO”.

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Mariana Mortágua quis saber se Oumières-Widener poderá ter retaliado, e antes de responder Alexandra Reis fez uma pausa. “Por essa altura, em dezembro de 2021, a CEO deu nota que um dos motoristas não estava vacinado contra a Covid-19 e que não podia continuar na empresa a exercer funções. A situação foi contornada, fiz a gestão do tema e o rapaz decidiu vacinar-se”.

Esse “rapaz” foi o mesmo que falou sobre o uso do carro da empresa pela CEO para motivos extra-profissionais, confessaria Alexandra Reis. “Eram a mesma pessoa”.

O tema voltou à audição depois de perguntas do Chega. “Pedi a membros da equipa para terem uma conversa com a pessoa em questão, para saber se tinha uma visão fundamentalista, mas era algo simples, resolveu-se”. Diz que este não seria despedido por não ser vacinado, porque tal era impossível, a vacinação não era obrigatória. “Manteve a sua função naquele lugar porque entendeu que a vacinação ia ser importante para desempenhar as funções”.

“Não foi por ter comentado que estava constantemente a transportar a família da CEO a restaurantes e visitas guiadas?”, insistiu o Chega. “Havia a possibilidade de ele sair da empresa, não seria possível promover a saída, comecei diligências para sanar a situação, foi considerada a possibilidade de mudar funções mas não foi necessário”.

O deputado Filipe Melo do Chega acabou por questionar Alexandra Reis sobre se tinha conhecimento que este motorista era familiar do presidente de um dos sindicatos da TAP. “Sei dessa relação, mas só soube depois de já não estar na empresa”, garantiu, não admitindo que o pedido de saída seria uma represália.

“Não tenho essa informação. Nem sabia da relação familiar quando estive na empresa. O presidente do conselho de administração impôs a regra sobre o uso de viaturas e motoristas, a generalidade dos administradores não o fazia, não era um tema, ficou resolvido”. Aliás, Alexandra Reis diz que o familiar do motorista só chegou à presidência do sindicato depois da gestora deixar funções. Não terá tido qualquer reunião com esse sindicalista em representação dos trabalhadores.

[Já saiu: pode ouvir aqui o quarto episódio da série em podcast “O Sargento na Cela 7”. E ouça aqui o primeiro episódio, aqui o segundo episódio e aqui o terceiro episódio. É a história de António Lobato, o português que mais tempo esteve preso na guerra em África.]