O presidente não executivo da TAP sugeriu que o deputado do Chega estaria a mentir quando Filipe Melo o confrontou com o caso de um funcionário que lhe terá revelado uma situação de forte pressão para assinar um acordo de rescisão da empresa e que Manuel Beja terá ignorado.
No momento de maior tensão na audição ao chairman da TAP, o deputado do Chega ameaçou interromper a inquirição até um pedido de desculpas de Manuel Beja que não fez e levou o presidente da comissão, Jorge Seguro Sanches a pedir moderação nas intervenções.
Filipe Melo começou por confrontar Manuel Beja com notícias, segundo as quais a sua nomeação teria sido imposta pelo primeiro-ministro já que o ministro das Infraestruturas teria preferência por renovar mandato a Miguel Frasquilho. O chairman considerou esses dados especulativos e indica ter sido convidado por Pedro Nuno Santos para presidir à TAP. Na pergunta seguinte o deputado do Chega remete para uma reunião que com Miguel Frasquilho onde, segundo Filipe Melo, o novo CEO teria mostrado pouco interesse na TAP. Manuel Beja nega e diz que a reunião realizada na TAP foi longa e profunda.
E quando entrou em funções, Manuel Beja insistiu para ser tratado por chairperson, em vez de chairman (presidente não executivo em português)? O gestor diz que não, mas admitiu ter usado a primeira expressão em documentos em inglês.
Filipe Melo referiu então um processo disciplinar que a TAP colocou a um comandante por alegados comentários de género, um caso que foi alvo de notícia. O chairman corrigiu — foi um comentário alegadamente homofóbico que até foi noticiado — mas garantiu que não teve interferência nesse nem outros processos disciplinares na TAP. Filipe Melo diz que o funcionário foi castigado e “ficou sem voar durante um mês, foi suspenso e não teve oportunidade de se defender”. Manuel Beja reafirmou que os processos disciplinares são tratados pelo departamento jurídico. As relações com os sindicatos devem ser conduzidas pela comissão executiva, acrescenta.
A conversa sobe de tom quando o deputado do Chega levanta outro caso de um trabalhador da manutenção que se terá queixado, num almoço com Manuel Beja, do tratamento que dado pela empresa e que o terá empurrado a rescindir um vínculo contratual de mais de 30 anos na TAP. O técnico de 55 anos, segundo Filipe Melo, terá sido colocado numa sala vazia durante sete dias por semana, “sozinho e abandonado”.
Manuel Beja afirmou desconhecer o caso e que lhe parece uma prática incorreta, a todos os pontos de vista.
”Ficaria muito surpreendido que tivesse acontecido na TAP.”
“E se eu lhe dissesse que almoçou com este colaborador e que ele lhe contou?”
“Diria que o sr. deputado está a mentir.”
O deputado do Chega protestou com muita veemência e exigiu uma retratação, ameaçando suspender a inquirição até Manuel Beja pedir desculpa.
O presidente da comissão, Jorge Seguro Sanches, pediu moderação ao deputado e a Manuel Beja na forma como se exprimem e as perguntas prosseguem. Não sem antes avisar o ainda chairman da TAP que tinha provas da existência do almoço e avisou-o de que iria responder em outras instâncias.
Mais tarde na audição, Manuel Beja confirmou a realização do almoço com o referido colaborador, mas não o teor relatado pelo deputado do Chega e diz que este até lhe agradeceu por ter tido a oportunidade de desabafar num encontro com o gestor que aconteceu poucos dias depois de ter assumido funções na TAP.