Em assembleia-geral realizada nesta quinta-feira, os accionistas da Stellantis deram “luz verde” para que Carlos Tavares, o português que lidera o grupo que resultou da fusão da PSA com a Fiat Chrysler Automobiles (FCA), receba até 23,5 milhões de euros, caso cumpra as metas definidas pelo grupo criado em 2021. O valor coloca a remuneração do gestor português entre as mais elevadas do sector automóvel e representa um evidente realinhamento, pois o ano passado mais de metade dos accionistas votou contra os valores propostos pela administração. Agora, 80,4% dos votos avalizaram a proposta de remuneração de Carlos Tavares.
O engenheiro português tem, assim, a possibilidade de ver o seu saldo bancário aumentar de forma mais expressiva, depois de ter conquistado em 2022 resultados recorde, apesar de todas as contrariedades. Recorde-se que, em Abril de 2022, Carlos Tavares e John Elkann, o chairman da Stellantis, foram “travados” pelos accionistas, que não aprovaram o pagamento de 19,1 milhões de euros ao primeiro e de 7,88 milhões ao segundo. Na assembleia desta quinta-feira, essa “punição” é revertida, mas não para todos. No caso de Carlos Tavares, 9% da remuneração é fixa (2 milhões) e os restantes 91% são variáveis onde se incluem incentivos de 7,48 milhões de euros para objectivos a curto prazo e 11,59 milhões de euros em incentivos a longo prazo, até um máximo de 23,5 milhões de euros. Já a remuneração de John Elkann, representante da família Agnelli e presidente do fundo Exor (o maior accionista da Stellantis), baixa para 5,8 milhões de euros. O antigo CEO da FCA, Mike Manley, também saiu airoso das deliberações accionistas, na medida em que 51% dos votos a favor garantiram que a sua contribuição para a fusão com a FSA lhe renderá o pagamento de 51 milhões de euros.
O presidente da comissão de remunerações da Stellantis, Wang Ling Martello, reconheceu que as condições agora aprovadas são “uma matéria importante, sensível e complexa”, mas não deixou de realçar que, estrategicamente, “importa reter e atrair gestores de craveira mundial, num contexto de concorrência global”. Pelo seu lado, a administração do 4.º maior grupo automóvel mundial defende que a sua política de remunerações está em linha com os valores pagos a altos quadros de outras multinacionais.
Recorde-se que, há um ano, o Governo francês criticou ferozmente os valores que estavam em cima da mesa. Emmanuel Macron disse que a remuneração de Tavares era “chocante e excessiva”, considerando os 19,1 milhões de euros (referentes a 2021) um “valor astronómico”.