Elon Musk quer criar a sua própria empresa para o desenvolvimento de inteligência artificial (IA). O dono da Tesla e do Twitter afirmou que quer colocar no mercado uma “terceira opção” que possa competir nesta área com a OpenAI, que é apoiada pela Microsoft, e a DeepMind, que pertence à Google.
A revelação foi feita durante uma entrevista a Tucker Carlson, do canal norte-americano Fox News, que abordou temas como o desenvolvimento de IA, liberdade de expressão nas redes sociais e o funcionamento do Twitter.
No mês passado, já tinha sido notícia o facto de Musk ter registado uma nova empresa de inteligência artificial, a X.AI, no Nevada. Mas na entrevista à Fox News foi a primeira vez em que, de viva voz, confirmou esta intenção.
“Acho que vou criar uma terceira opção, que já está a começar no jogo muito tarde, claro”, declarou o agora segundo homem mais rico do mundo, com um património estimado em 181 mil milhões de dólares. “Vou criar uma coisa a que chamarei TruthGPT ou uma IA que procure ao máximo procurar a verdade, compreender a natureza do universo. Acho que isto pode ser o melhor caminho para a segurança, no sentido de uma IA que se preocupa em perceber o universo e em que é pouco provável a aniquilação dos humanos, porque somos uma parte importante do universo – espero eu.”
Musk reconheceu durante a entrevista que é “irónico” que tenha fundado a OpenAI, companhia com a qual agora quer alegadamente concorrer. “Dei-lhes o nome, o conceito”, declarou, acrescentando que até “ajudou a recrutar a equipa inicial”. O dono do Twitter e da Tesla disse que considera que teve um “papel crítico” na criação da OpenAI, mas que a empresa se afastou da rota que esperava que seguisse.
Elon Musk assina carta aberta que defende a suspensão da Inteligência Artificial
“A razão para a OpenAI existir é o facto de eu e o Larry Page [co-fundador da Google] termos sido amigos próximos e de eu ficar na casa dele em Palo Alto”, contextualizou. Hoje em dia os dois já não são próximos, mas Musk recordou que, na altura, Page “não estava muito preocupado com a segurança da IA e queria criar uma super inteligência, um semi-deus.” Na lógica de Musk, a opção mais distante possível daquilo que a Google estava a fazer era uma “empresa sem fins lucrativos”, a OpenAI, onde a palavra open simbolizaria que era uma entidade aberta e transparente.
Mas, aos olhos de Elon Musk, que se afastou há alguns anos da OpenAI por um alegado conflito de interesses, é preciso apresentar outra opção ao mercado. “Fiz um esforço tremendo para criar esta empresa para fazer frente à Google. Depois tirei um bocadinho os olhos da bola e agora eles são closed source [código fonte fechado] e têm obviamente objetivos de negócio, estão fortemente alinhados com a Microsoft. E, com efeito, a Microsoft, tem muito a dizer ou controla diretamente a OpenAI, nesta altura do jogo. Temos de um lado a OpenAI com a Microsoft e do outro a DeepMind com a Google.”
Musk voltou a defender que é necessário ser-se “cauteloso com a IA”, já que pode ser um “perigo para o público”. “A IA é talvez mais perigosa do que um design mal gerido de uma aeronave ou uma má produção de carros”, exemplificou, acrescentando que “tem potencial de destruição civilizacional”.
No final de março, Musk foi uma das personalidades que assinou a carta aberta do Future of Life Institute, onde era pedida uma pausa de seis meses no desenvolvimento de modelos mais poderosos do que o GPT-4, revelado este ano pela OpenAI. A carta alertava que “os sistemas contemporâneos de IA estão agora a tornar-se concorrentes dos humanos em tarefas gerais”, questionando se se deve “deixar as máquinas inundar canais de informação com propaganda” ou se “se deve automatizar todos os trabalhos”. “Sistemas poderosos de IA devem ser desenvolvidos apenas quando se está confiante de que os efeitos vão ser positivos e que os riscos vão ser geridos”, considera o Future of Life Institute, que tem Elon Musk não só como conselheiro externo como também um dos principais patrocinadores.
Musk teve um “timing terrível” no Twitter
O Twitter foi outro dos tópicos de conversa nesta entrevista. Musk pagou no final de outubro cerca de 44 mil milhões de dólares pela rede social, mas reconheceu que financeiramente a compra “não valeu a pena”. “Recentemente avaliámos a empresa em menos de metade do valor de aquisição”, explicou a Carlson.
“O meu timing foi terrível”, disse Elon Musk, entre risos, explicando que comprou a empresa numa altura em que os grandes anunciantes já estavam a abandonar o Twitter.
Quando Musk chegou ao Twitter, a empresa tinha cerca de 7.500 trabalhadores. Hoje em dia, tem 20% desse número, cerca de 1.500, após “80% dos trabalhadores terem saído”. “Afinal não se precisa assim de tanta gente para gerir o Twitter. Se não se tenta gerir uma organização ativista glorificada, se não se preocupa tanto com censura, não é preciso tanta gente.”