Os “liberais clássicos” da Iniciativa Liberal, conhecidos por representarem a ala mais conservadora do partido, estão de saída, avançou o Jornal de Notícias e confirmou o Observador. A gota de água foi a votação da IL relativamente à autodeterminação da identidade de género e o facto de considerarem que o partido está cada vez mais próximo da esquerda.

O comunicado, que vai chegar ao partido no dia 25 de Abril por uma questão de “simbolismo”, foi assinado por 13 liberais e o Observador sabe que há outros membros a ponderarem bater com a porta pelas mesmas razões. Nuno Simões de Melo e Mariana Nina, duas das caras mais conhecidas dos “liberais clássicos” eram conselheiros nacionais e abandonam agora o partido. No maior órgão entre convenções deverão seguir-se Carlos Roquette e Gualdim Ramos, da Lista B, que conseguiu quatro lugares.

“[A questão da ideologia de género] é a minha linha vermelha, é um assunto que me é muito caro. O apelo à identidade de género é uma ideologia das mais baixas patrocinadas pela esquerda e recuso em absoluto e em consciência ter o meu nome associado a um partido que alinha nesta ratoeira”, referiu Mariana Nina em declarações ao Observador.

A até agora conselheira nacional considera que com a posição do grupo parlamentar sobre as propostas de autodeterminação da identidade de género (a aprovação da proposta do PS e abstenção na do Bloco de Esquerda) é “atraiçoada a declaração de princípios da IL” e “os valores liberais democráticos foram absolutamente abastardados”.

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Mariana Nina acredita que há falta de democracia interna no partido, percebeu após a primeira reunião do Conselho Nacional que não havia “hipótese de ter uma voz forte ou presente” e prefere afastar-se por considerar que “o partido e o rumo que a maioria dos membros quer” não é aquilo em que acredita. E sublinha ainda que as últimas decisões no Parlamento apontam para “um caminho que vinha a ser anunciado e que esta direção vem cimentar: a indefinição do liberalismo no partido”.

Também Nuno Simões de Melo, que foi cabeça de lista numa candidatura ao Conselho Nacional, defende, em declarações ao Observador, que após a reunião magna houve “a continuação de um caminho muito mais próximo da esquerda do que da área onde [acreditam] que está o eleitorado da IL”.

No comunicado que será entregue ao partido, os membros que agora batem com a porta acusam a IL de “negar honestamente ser um partido de direita e negar falsamente ser um partido de esquerda” e de não ser um “partido de todos os portugueses”, mas sim “um partido de certos portugueses”.

“O facto de não ser um partido de direita granjeou-lhe muitos eleitores de esquerda e determinou o rumo recente do partido. A IL tem apelado ao eleitorado urbano afluente, instruído, progressista, cosmopolita, desenraizado e tem sistematicamente alienado aqueles que prezam os valores intemporais, que sentem uma ligação à terra de origem ou de acolhimento, e que desconfiam das desnorteadas inovações ideológicas e sociais dos últimos dez, quinze anos, advindas das torres de marfim académicas, e votadas à retirada do indivíduo livre do centro da democracia”, criticam os “liberais clássicos”.

No mesmo sentido, apontam até que o partido tem a “tentação de seduzir esse eleitorado com assuntos da moda que só tangencialmente se ligam à liberdade” e que “pouco ou nada a IL falou aos pequenos empresários, aos agricultores, aos habitantes dos bairros sociais, aos trabalhadores pobres, à classe média-baixa, às famílias monoparentais, aos que perderam as suas liberdades durante a pandemia”.

Com a aproximação do dia 25 de Abril, o dia escolhido para entregar as desfiliações, os liberais atiram-se ainda a um partido que participa “em marchas ao lado da extrema-esquerda”, que “deprecia o eleitorado do Chega” e que não “resolve os verdadeiros e importantes problemas do dia a dia dos portugueses”.

Iniciativa Liberal dividida entre os conservadores que procuram mais espaço e o desconforto dos progressistas