O C-SUV Atto 3, o SUV de sete lugares com tracção às quatro rodas Tang e o sedan Han, todos exibindo a insígnia da chinesa BYD (de “Build your Dreams”) e todos modelos exclusivamente a bateria, já começaram a desembarcar em Portugal pela mão do Grupo Salvador Caetano. Este que é o maior grupo automóvel da Península Ibérica, estando presente com as suas diferentes áreas de negócio em 41 países de três continentes, conseguiu ser o distribuidor nacional e o responsável pela comercialização e serviços de pós-venda dos veículos da BYD Auto. O anúncio desse “entendimento” com os chineses foi divulgado a 2 de Maio, mas foi nesta terça-feira que decorreu oficialmente o lançamento da marca no mercado português. O Observador esteve lá, pelo que procuramos responder às questões que, eventualmente, serão colocadas pelos potenciais clientes ou simples curiosos.

Afinal que marca é esta? Uma curiosidade e uma revelação

O nome pode dizer-lhe pouco, mas na volta já teve alguma experiência que envolvia a BYD há uns anos, quando a Nokia era rainha e senhora dos telemóveis. O que talvez não saiba é que a BYD – que os responsáveis da marca querem que se leia soletrando as letras em inglês, mas que o português potencialmente vai descomplicar chamando-lhe “bide” – era quem fornecia as baterias para os tão desejados telemóveis na altura. A explicação é simples: a companhia foi criada em 1995 e teve, desde início, genes químicos ou não fosse o seu fundador um homem formado nessa área. Em 2002, a empresa criada por Wang Chuanfu ascendeu ao estatuto de maior produtor de baterias recarregáveis da China e hoje é o segundo maior produtor mundial de acumuladores. Partilhada a curiosidade em relação à Nokia, talvez não se surpreenda com o facto de a BYD ser uma das empresas que fornece baterias para a Toyota com quem, aliás, estabeleceu uma joint-venture em 2020. Mas sabia que a BYD também fornece acumuladores à Tesla, especificamente para algumas versões dos modelos Long Range?

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Este verdadeiro colosso asiático, que teve em 2022 um volume de negócios de 57.000 milhões, hoje emprega mais de 600 mil pessoas pelo mundo fora e, dessas, cerca de 70 mil estão exclusivamente dedicadas à Investigação e Desenvolvimento (I&D), para que a BYD continue a encabeçar o pelotão da liderança, agora claramente focada na sustentabilidade. Daí que a BYD Auto, 12 anos depois de ter lançado o seu primeiro eléctrico a bateria (BEV), o que aconteceu em 2010, tenha decidido acabar com a concepção e a produção de modelos exclusivamente animados por motores térmicos. Desde 2022 que a marca só fabrica híbridos plug-in (PHEV) e BEV, não sendo de ânimo leve que esta “tomada de assalto” à Europa redobre de intensidade à medida que se vai aproximando a morte anunciada dos motores que queimam combustíveis fósseis. E, a avaliar pelo crescimento das “novas energias”, grande parte dos consumidores nem está disposto a esperar por 2035. “Sorte” a da BYD que, depois de ter demorado 13 anos para atingir 1 milhão de vendas, conseguiu em meio ano de 2022 vender globalmente 3 milhões de veículos e, em 2023, até Abril, deu o salto para 4,1 milhões.

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E qual é a estratégia que tem alimentado o crescimento deste gigante com tentáculos um pouco por todo o lado? Basicamente, a BYD procura impor-se no mercado dos veículos eléctricos dominando as tecnologias essenciais desta alternativa de mobilidade, dos semicondutores aos acumuladores, passando obviamente pelos motores e pela electrónica associada à gestão das baterias. Sérgio Ribeiro, membro do conselho executivo da Salvador Caetano Auto realça isso mesmo: “A liderança, a inovação tecnológica e a forte aposta em I&D presentes no ADN da BYD são factores diferenciadores e que tornam esta marca tão interessante para os consumidores portugueses.”

A abordagem de integração vertical para controlar o que é “essencial” nos carros eléctricos e a economia de escala decorrente do seu volume de produção permitem ao construtor chinês apresentar ao mercado modelos cada vez mais acessíveis, como é o caso do Seagull, uma das mais recentes novidades da marca que deu que falar pelo seu preço. Na China, esse pequeno hatchback de cinco portas é proposto por valores a partir 78.800 yuan, cerca de 10.350€. Trata-se de um valor extremamente baixo, o que explica o facto de ter recebido 10.000 encomendas logo no primeiro dia de vendas. Mas por cá as intenções da BYD são outras, com a Salvador Caetano a apostar num posicionamento “premium acessível”, o que parece uma contradição mas que, na prática, vai materializar-se numa oferta de modelos tecnologicamente mais sofisticados, mais equipados e, como tal, com um preço a condizer. Daí que o BYD mais barato que vai chegar este ano ao mercado português implique desembolsar três vezes mais do que o custo de um Seagull na China… Mas já lá vamos.

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Tal não impede Sérgio Ribeiro de acreditar que a estratégia balizada para a BYD em Portugal tem tudo para triunfar. “Estamos certos de que contribuiremos para o crescimento da marca e para uma mobilidade mais sustentável, com uma rede altamente qualificada e 70 anos de experiência na indústria e no sector automóvel”, afirma.

Por seu turno, o COO da BYD Portugal, Pedro Cordeiro, sublinha que o grupo Salvador Caetano tem muito a ganhar com a representação desta nova marca, admitindo inclusivamente que a parceria agora lançada poderá muito em breve evoluir para outras áreas de negócio. Contudo, por enquanto, os olhos estão postos no plano de produto da BYD e esse, tal como o jornalista Alfredo Lavrador já teve ocasião de detalhar e de partilhar as primeiras impressões ao volante, passa pelo lançamento este ano de cinco novos modelos.

Chinesa BYD chega a Portugal em Maio com preços a partir de 30.000€

O que comprar? O melhor fica para o fim…

A própria Salvador Caetano reconhece que o lançamento de uma marca chinesa na Europa e, em concreto, em Portugal, vai depender muito da queda de alguns preconceitos. Nomeadamente os relacionados com a qualidade que, até há pouco tempo, deixava a desejar para satisfazer os padrões europeus. Não obstante, atendendo a que a BYD tem mais de 40 mil candidaturas de patentes e viu 28 mil delas serem registadas, o distribuidor julga que o produto se vai impor pela tecnologia e isso, necessariamente, tem um custo. Em Portugal, a estreia faz-se com três pontas de lança com preços a partir de 41.990€, mas que podem chegar aos 72.570€. E, para apimentar o lançamento, os primeiros 100 clientes recebem uma wallbox, estando ainda disponíveis soluções de carregamento, de financiamento e de renting operacional.

Os 41.990€ da “casa de partida” são os exigidos na compra do Atto 3, um SUV que se destina a concorrer no disputado segmento C, que no mercado nacional representou em 2022 a venda de 27321 unidades, 24% das quais BEV. A concorrência é forte e fortes são também os argumentos com que o Atto 3 quer conquistar clientes. O SUV eléctrico chinês recorre à plataforma dedicada 3.0 e monta baterias Blade, cujas vantagens explicaremos num outro artigo.

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Com 204 cv e 310 Nm, o Atto 3 anuncia 7,3 segundos de 0 a 100 km/h, um consumo médio de 15,6 kWh/100 km e 420 km de autonomia em ciclo misto, de acordo com o protocolo de homologação europeu WLTP. No seu rol de atributos deste tracção à frente, limitado a 160 km/h de velocidade máxima, destaca-se um interior irreverente e bastante jovial, com as cordas de guitarra nas portas a darem uma musicalidade ao conjunto, devidamente acompanhadas por detalhes como as saídas de ventilação tipo CD e a alavanca da caixa ao estilo manche de avião. Ao que parece, os clientes têm “delirado” com o ecrã central de 15,6 polegadas rotativo, por comando no volante ou toque no próprio display. A lista de atributos prossegue com itens como o carregamento wireless de smartphones, tecto de abrir panorâmico e bagageira de abertura eléctrica. De série, este SUV monta jantes de 18 polegadas e oferece a tecnologia V2L, ou seja, o veículo pode fornecer energia a outros equipamentos eléctricos, o que torna a aventura de acampar, por exemplo, bastante mais cómoda. Outra das virtudes do Atto 3 é o facto de receber actualizações over-the-air (OTA), o que “neste momento acontece quase a um ritmo semanal, com a introdução de novas funcionalidades ou a melhoria das existentes”, segundo Diogo Montenegro, responsável pelo pós-venda e desenvolvimento da rede da BYD Portugal. Consulte aqui as especificações técnicas e equipamento deste modelo.

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Com um preço de 72.570€, o Han e o Tang também já começaram a chegar aos concessionários. Conforme referimos, o primeiro é uma berlina claramente apontada aos executivos que apreciam um modelo de linhas mais fluidas e estatutárias, que neste caso resultam num coeficiente aerodinâmico de 0,23. O Han (equipamento e especificações aqui) partilha muitos elementos com o Tang, o SUV de sete lugares com tracção integral (AWD) e 517 cv de potência, que cumpre os 0-100 km/h em 4,6 segundos, exigindo apenas 36 metros para uma imobilização completa de 100 a 0 km/h. Este par de modelos inscreve-se no segmento E, com o sedan a ser mais rápido (0-100 km/h em 3,9 segundos) e mais eficiente, o que se traduz por uma autonomia de 521 km em ciclo misto ou de até 662 km em circuito urbano. Enquanto isso, o Tang anuncia respectivamente 400 e 528 km.

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Em termos de equipamento, no caso do Tang o destaque vai para os bancos em pele climatizados e para o ecrã central rotativo de 12,8 polegadas, a que se junta a tecnologia NFC e uma bagageira com até 1655 litros de capacidade. Já o Han tenta seduzir os portugueses com trunfos como os puxadores das portas embutidos, jantes de 19 polegadas, faróis Matrix LED e um ecrã central de 15,6 polegadas ao serviço do infoentretenimento. Mas atrás, no encosto de braço, encontra-se um segundo ecrã que permite controlar praticamente tudo a bordo, excepção feita para as funções afectas ao condutor. Esse display pode ser particularmente útil para quem se deixa guiar por um motorista ou para a criançada que, no processo de se entreter, pode fazer a vida negra aos pais nos percursos mais longos…

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Em Agosto/Setembro, a “equipa” da BYD volta a ser reforçada. E esse reforço não é de somenos importância, dado que entram em cena os eléctricos “oceânicos” da BYD, nomeadamente o Dolphin (segmento C) e o Seal (D), ambos claramente com potencial de representar um volume de vendas superior, pois os preços serão inferiores. O Dolphin monta o mesmo motor do Atto 3 (204 cv), anuncia 0-100 km/h em 7 segundos, 427 km de autonomia em ciclo combinado e demora meia hora a ir de 30 a 80% da capacidade da bateria num posto de carga rápida. Mas o seu principal motivo de interesse é mesmo o preço, a definir num intervalo entre 30 e 37 mil euros. Contudo, fica já a garantia de que a marca vai ser muito “agressiva” com as frotas, propondo uma versão menos equipada, mas com um preço-canhão. Quanto ao Seal, espere naturalmente um preço mais elevado, pois a bitola sobe e a potência também (até 520 cv), com a autonomia máxima a fixar-se em 570 km entre recargas.

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É com este quinteto que, logo no seu ano de estreia em Portugal, a BYD pretende conquistar um lugar no top 5 de veículos eléctricos, de acordo com o COO da marca. Isso significa vender pelo menos perto de um milhar de veículos, para integrar um lote que em 2022 foi dominado pela Tesla (2616 unidades), seguida da Peugeot (1603), BMW (1583), Mercedes (1464) e Hyundai (851).

O stand na Avenida Fontes Pereira de Melo, em Lisboa

Onde comprar?

No arranque, a Salvador Caetano opta por estabelecer cinco concessionários com a insígnia da BYD na fachada, um numa das principais artérias da capital e outro no Porto. Estes dois são exclusivamente showrooms, com os três restantes a juntar a essa valência os serviços de oficina e de pós-venda, como é o caso de Vila Nova de Gaia, Chelas e Alcabideche. Se lhe for útil, tome note das moradas na infobox abaixo. De resto, até Junho, Setúbal vai ampliar a rede da BYD Portugal. Complementarmente, o site vai também evoluir para uma versão mais elaborada, de modo a facilitar as vendas online.

Pontos de venda e assistência BYD Portugal

Mostrar Esconder

Caetano TEC Lisboa
Avenida Fontes Pereira de Melo, 17
1050-208 Lisboa

Caetano TEC Chelas
R. Dr. José Espírito Santo, 34
1950-096 Lisboa

Caetano TEC Cascais
R. São Francisco, 539
2649-503 Alcabideche

Caetano TEC Porto
Rua do Campo Alegre, 718
4150-171 Porto

Caetano TEC Madalena
Rua do Barreiro, 547
4405-730 Vila Nova de Gaia

 

Note que as ambições da marca chinesa, em termos de pontos de venda e de assistência, são expressivas, na medida em que a BYD quer passar da centena de espaços que possui actualmente na Europa para mais de 200, já este ano, e mais de 500 em 2024. 

Com que garantia?

Este é um quesito cada vez mais valorizado pelos clientes, sobretudo numa fase de transição para a mobilidade eléctrica. Isto porque as baterias, além de pesadas (literalmente), tendem a pesar no esforço financeiro exigido ao cliente na hora da sua substituição.

Segundo nos disseram, a BYD Portugal vai alinhar pela linha dominante na concorrência, cobrindo o acumulador pelos habituais 8 anos ou 160 mil quilómetros. Excepção feita para o Atto 3, que estende a quilometragem até aos 200 mil quilómetros.