Mais de um mês depois de o Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra ter anunciado a criação de uma comissão independente para investigar as suspeitas de assédio sexual e moral vindas a público num conjunto de denúncias visando especificamente o sociólogo Boaventura de Sousa Santos, o organismo ainda não existe, noticia esta quinta-feira o jornal Público.
“O processo revelou-se bastante mais moroso do que prevíramos”, argumentou, em declarações àquele jornal, o diretor do CES, António Sousa Ribeiro, apontando para os “próximos dias” o anúncio da constituição do organismo. Uma semana depois, perante a insistência do jornal, uma vez que ainda não foi feito qualquer anúncio, António Sousa Ribeiro classificou como “prioritária” a criação da comissão independente.
O diretor garantiu mesmo ao jornal Público que a instituição “está a colocar o máximo empenho e zelo na constituição desta comissão, para garantir que ela funcionará de forma verdadeiramente independente e que os seus membros reunirão a disponibilidade, as competências e o perfil (experiência e conhecimento da área) adequados para liderar o processo com isenção e respeito por todas as partes envolvidas”.
A polémica em torno do nome de Boaventura de Sousa Santos eclodiu no dia 11 de abril, quando surgiram notícias sobre a publicação de um capítulo de um livro académico, assinado por três investigadoras que passaram pelo CES, no qual eram descritos casos de assédio sexual por parte de um “Professor-Estrela” e de um “Aprendiz” numa instituição de ensino superior não identificada — um conjunto de referências que foram rapidamente, e até pelos próprios, associados aos académicos Boaventura de Sousa Santos e a Bruno Sena Martins.
Depois da publicação daquele artigo, outras mulheres vieram a público denunciar alegados casos de assédio sexual da parte de Boaventura de Sousa Santos, que se defendeu considerando estar a ser caluniado, e o Centro de Estudos Sociais comprometeu-se com a criação de uma comissão independente para investigar todas as denúncias. A comissão deverá ser composta pela provedora do CES, Sílvia Portugal, e por dois outros elementos externos, que ainda não estão escolhidos.