Um gesto que aparentemente poderia ter muitas interpretações, sorrisos e dedos em riste apontados para o banco contrário, vários elementos a agarrarem outros para a tensão não escalar um pouco mais. O final da receção do FC Porto ao Casa Pia, sobretudo os minutos entre o golo da vitória de Danny Loader e o último apito de Manuel Oliveira, acabou por marcar não só a última jornada mas também a própria semana, até pelo anúncio da instauração de processos disciplinares a Sérgio Conceição, técnico dos dragões, Vasco Matos, que é adjunto dos gansos, o quarteto de arbitragem composto por Manuel Oliveira, Carlos Campos, Fábio Silva e Hélder Carvalho e os delegados da Liga, Alexandre Bento e Faustino Santos. Por isso, e na antecâmara da jornada que pode decidir em definitivo o título, o foco voltou a não estar tanto na deslocação dos azuis e brancos a Famalicão mas sim à decisão do órgão da Federação e a tudo o que se disse esta semana.

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“Essa abertura do processo é exatamente pelos comentadores de diferentes canais, que passaram a semana toda a deduzir o que seria esse gesto que tive [para o banco do Casa Pia]. A insinuar que tenha sido algo. Abriu-se um processo porque comentadores do futebol, não de futebol, que alguns são ligados ao FC Porto, outros ao Benfica, outros ao Sporting, têm de ter o seu tacho ao fim do mês. Algo factual, escrito, e contrapondo também o relatório do árbitro, sem dúvida que isto é difícil compreender para mim, mas estou habituado àquilo que é o lixo do futebol português, ao que é tóxico, onde eu sou a primeira figura para toda essa gente. Não é isso que me torna mais forte mas cria-me mais um escudo e uma proteção para o que sou como pessoa e profissional. Era interessante era que esses comentadores… É difícil mudarmos isso”, começou por dizer o técnico dos portistas na habitual conferência antes do encontro deste sábado à noite.

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“Não se perguntam do porquê daquele golo acontecer, do porquê de tirar o Fábio Cardoso e mexer no Uribe, de meter o Veron… O que implicou no momento defensivo, o que provocou no próprio jogo. Disso ninguém quer saber porque percebem muito pouco, e mesmo os que percebem não falam disso. Preferem falar do gesto, do gesticular, do meu olhar fulminante… De insinuar ou deduzir. Há algum comentário para o banco quando faço esse gesto? Sorri e fiz aquilo. Estava a receber uma proposta de duelo e obviamente que a minha reação foi ir ao túnel buscar duas mini balizas para fazer um um contra um. Eu disse: ‘Um duelo?’. Fixe, 1×1 e vamos lá para dentro. Futebol não querem saber, pois não? Não vou falar de jornalismo porque não percebo. São perguntas pertinentes e interessantes mas não são de futebol”, prosseguiu o treinador, que abordou também a questão emocional de um encontro que pode terminar com o título para… o Benfica.

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“O que é verdadeiramente importante foi o que aconteceu no último jogo. Isso é que é interessante. Obviamente que acontecem coisas no final que não dignificam ninguém mas mais grave é quando se está sentado a uma mesa com toda a tranquilidade no mundo e sem ninguém a provocar, e aí ser ainda mais grave algumas coisas que vêm cá para fora. Ali é normal. Ou melhor, não é normal mas há muitas emoções à flor da pele. À medida que o Campeonato vai caminhando para o final, é natural que essas emoções venham cá para fora com mais facilidade. Acho que se dá muito protagonismo aos treinadores dos quatro grandes e pouco aos outros treinadores e equipas que fazem um trabalho fantástico. Por vezes sinto mais dificuldades em enfrentar equipas mais acessíveis do que a jogar na Liga dos Campeões, sinceramente”, comentou.

“Trabalha-se muito bem em Portugal e não se dá o devido mérito e depois as pessoas também se chateiam. Alguns treinadores já me chamaram mal educado, mal formado porque querem ter protagonismo e aparecer, têm todo o direito disso. Toda a gente devia dar mais mérito a estas pessoas que trabalham e trabalham muitíssimo bem. É o que tenho a dizer. O segundo jogo com mais tempo útil de jogo é o Benfica-Casa Pia, quando aqui houve pouco tempo útil de jogo. Mas eu aceito isto, estrategicamente é normal. As equipas técnicas adversárias, pela qualidade que têm, percebem pontos fortes do FC Porto, a intensidade, o ritmo alto,e há várias formas de quebrar isso. Pode ser a jogar, tirando a bola, ou de outra forma, com essa tal agressividade, parando mais o jogo, provocando de uma forma ou outra… É natural do jogo”, acrescentou.

Antes, Sérgio Conceição tinha abordado o encontro frente ao Famalicão, que complicou e muito a vida dos dragões nas meias-finais da Taça de Portugal no Dragão caindo apenas nos descontos do prolongamento. “Os jogos são todos diferentes. O que sei é que às vezes, mudando um jogador torna a dinâmica diferente. Sei que no Famalicão um ou outro jogador não poderá estar e vai ser diferente com certeza. Cada jogo tem a sua história e depois depende do que fizermos e permitirmos ao adversário fazer dentro dos diferentes momentos de jogo. Em termos gerais, é isso”, referiu Sérgio Conceição sobre o jogo de sábado (20h30).

“Estamos a duas jornadas do fim e os jogos são todos importantes e fundamentais. Mesmo para clubes que não estejam a lutar ou pela manutenção ou por ida à Europa ou até por serem campeões… O Marítimo-Vizela de hoje [sexta-feira] tem o seu peso para o Marítimo e também terá para o Vizela. Terá influência na manutenção e no título, porque depois o Santa Clara irá jogar à Luz… Mesmo os clubes que estão tranquilos, nunca estão tranquilos. O Casa Pia contra o Benfica fez sete faltas e contra nós fez 18, e foi uma equipa que veio tranquila ao Dragão. No primeiro pontapé de baliza foram cerca de 22 segundos que o guarda-redes demorou e é uma equipa tranquila. As equipas todas querem ganhar, todas têm equipas técnicas grandíssimas, grandíssimos jogadores, e todos querem ganhar os três pontos a duas jornadas do fim”, concluiu o treinador dos azuis e brancos, numa fase em que o FC Porto continua a quatro pontos do Benfica apesar de estar nesta altura a atravessar a melhor série de vitórias consecutivas no Campeonato.

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