Carlos Eduardo Reis, deputado do PSD e um dos nomes mais citados na Operação Tutti-Frutti, rejeita servir “idiota útil para fazer combate político ao Governo” e garante que todas as suspeitas reveladas pela investigação da CNN são resultado de “peças incompetentes, mentirosas e mal trabalhadas”.

Em declarações aos jornalistas, à saída da reunião da bancada parlamentar, o deputado social-democrata começou por recordar que está “há cinco anos à espera de ser ouvido” pelas autoridades e que isso nunca aconteceu. “Nunca confundi a minha atividade política com empresas”, notou, antes de lamentar que o regular funcionamento da Justiça tenha dado lugar aos “tribunais populares que agora são as redações”.

Carlos Eduardo Reis criticou ainda o jornalista Henrique Machado, coordenador da investigação da CNN Portugal, revelando que o repórter ainda esta quinta-feira perguntou em off the record se tinha sido constituído arguido. “Ainda não conseguiu perceber se eu era arguido ou não. O tempo do off acabou. Agora é o tempo do on“, criticou, antes de revelar que vai processar a CNN e o próprio Henrique Machado.

“Não preciso da solidariedade das pessoas. Preciso que estejam preocupadas com o estado a que isto chegou. Isto é Tutti Frutti sobre Tutti Quanti e o que pode sair é uma maçã descascada. Não vou ser idiota útil para fazer combate político ao Governo”, rematou.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Rioísmo pressiona Montenegro e recorda outros telhados de vidro

Já antes, durante reunião da bancada parlamentar do PSD, que decorreu, como habitualmente, à porta fechada, Carlos Eduardo Reis fez uma intervenção de fundo, reiterando que nunca cometeu qualquer ilegalidade e que, até ao dia de hoje, não foi sequer ouvido pelo Ministério Público — algo que já tinha dito quando, em agosto de 2021, deu uma entrevista ao Observador.

De resto, segundo apurou o Observador junto de deputados que estiveram na reunião da bancada, Carlos Eduardo Reis apontou diretamente o dedo a Joaquim Miranda Sarmento, presidente do grupo parlamentar, acusando-o de ter usado a Operação Tutti-Frutti para atacar o Governo em pleno debate com o primeiro-ministro sem sequer ter falado com o próprio deputado.

Recorde-se que, esta quinta-feira, no Parlamento, à boleia da investigação da CNN, Miranda Sarmento desafiou António Costa a ter a “mesma clareza política” que o presidente do PSD, repudiando qualquer ação que viole a ética e referindo-se diretamente aos dois ministros citados, Fernando Medina e Duarte Cordeiro.

À frente dos deputados, Carlos Eduardo Reis criticou o seu líder parlamentar. “Não estarei disponível para ser o idiota útil e muito menos sangrado na comunicação social porque dá jeito tirar dois ministros do Governo para haver eleições antecipadas”, avisou. Na resposta, Miranda Sarmento explicou que, havendo um caso desta dimensão e a envolver os dois partidos, o tema não poderia ficar de fora do debate com o primeiro-ministro.

De resto, foram vários os deputados a defender Carlos Eduardo Reis. Paulo Rios de Oliveira, vice da banca, referiu-se à investigação, cujos indícios foram sendo revelados ciclicamente desde 2017, como um “nojo”. André Coelho Lima, ex-vice-presidente de Rui Rio e muito próximo de Carlos Eduardo Reis, insurgiu-se contra o que chamou de “julgamentos de tabacaria”.

Uma das intervenções mais relevantes foi a de Nuno Carvalho, deputado eleito por Setúbal, que recordou que ainda há um par de semanas Luís Montenegro foi notícia pela casa que tem em Espinho — antes, já tinha sido referenciado na Operação Vórtex, à boleia do caso que envolveu Pinto Moreira, agora ex-vice-presidente da bancada do PSD e figura muito próxima de Montenegro.

Segundo defendeu Nuno Carvalho, a solidariedade que o líder do PSD recebeu deve ser a mesma para com Carlos Eduardo Reis. Tese defendida também pela deputada Joana Barata Lopes, igualmente próxima do antigo diretor de campanha de Jorge Moreira da Silva, chegando a sugerir que não se podiam aproveitar as notícias apenas quando convém.

João Montenegro, um dos mais influentes operacionais de Rui Rio nas eleições internas contra Luís Montenegro e Paulo Rangel, recordou, de resto, que também o nome de Miguel Pinto Luz, vice-presidente na atual direção e número dois da Câmara de Cascais, surgiu na reportagem da CNN. Nas entrelinhas: estão todos no mesmo barco.

Amigos e sem negócios à parte. Como os protagonistas da Tutti Frutti controlaram o aparelho laranja