Mais de 50 pessoas sofreram esta segunda-feira ferimentos ligeiros num protesto sérvio no norte do Kosovo, dispersado com gás lacrimogéneo e granadas de fumo por forças da missão KFOR da NATO (Organização do Tratado do Atlântico-Norte).
Os sérvios, minoria no Kosovo mas grupo maioritário no norte do país, manifestavam-se em frente à Câmara Municipal da localidade de Zvecan para exigir a demissão do novo presidente da autarquia, pertencente à maioria albanesa.
Segundo o portal digital Kossev, a KFOR (Kosovo-Force) interveio quando a multidão se recusou, apesar do apelo dos seus líderes políticos, a permitir a passagem de dois veículos da polícia especial kosovar que estavam bloqueados entre os manifestantes desde a manhã.
Os manifestantes exigiam a retirada de todos os agentes da polícia especial que se encontravam no edifício da Câmara Municipal e alguns meios de comunicação noticiaram disparos.
Mais de 50 pessoas receberam atendimento num hospital por problemas causados por intoxicação com gás lacrimogéneo e por contusões, três das quais foram internadas, e uma pessoa foi baleada e encontra-se gravemente ferida, em perigo de vida, indicou o diretor do Centro Clínico de Mitrovica, Zlatan Elek, citado pelo canal televisivo N1.
Centenas de sérvios manifestaram-se esta segunda-feira em três municípios do norte do Kosovo para exigir a retirada das respetivas câmaras de novos presidentes eleitos em abril último, numas eleições boicotadas pela comunidade sérvia, maioritária nesses municípios.
Soldados da missão KFOR, encarregada de zelar pela segurança no Kosovo, colocaram-se entre unidades da polícia especial kosovar, que se encontra em frente ao edifício municipal, e os manifestantes, e pelo menos 25 também sofreram ferimentos: alguns foram atingidos por cocktails molotov, outros sofreram fraturas.
Onze deles são italianos, e três encontram-se em estado grave, embora não corram perigo de vida – uma situação que levou a uma reação de condenação da primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni.
A Aliança Atlântica também já condenou os acontecimentos desta segunda-feira no norte do Kosovo, classificando-os como “inaceitáveis”.
“A NATO condena firmemente os ataques não-provocados às tropas da KFOR no norte do Kosovo, que fizeram vários feridos. Tais ataques são totalmente inaceitáveis. A violência deve parar imediatamente”, declarou um porta-voz da organização de defesa ocidental.
Os Estados Unidos e a União Europeia (UE) juntaram-se também ao coro de condenações dos ataques no norte do Kosovo, pela voz do embaixador norte-americano em Pristina, Jeffery Hovenier, e do chefe da delegação da UE no país, Tomas Szunyog.
“Os Estados Unidos condenam energicamente as ações dos manifestantes hoje em Zvecan, incluindo o uso de explosivos, contra as tropas da KFOR que querem manter a paz. Reiteramos o nosso apelo para que cessem a violência e as ações que estão a aumentar as tensões e a promover o conflito”, escreveu Hovenier na rede social Twitter.
Szunyog instou também ao “cessar imediato da violência e a uma redução das tensões”.
Os sérvios do norte do Kosovo não reconhecem a autoridades dos novos presidentes das câmaras, eleitos em abril num escrutínio em que a participação foi de apenas 3%, devido ao boicote da população sérvia, que é uma minoria no país, mas constitui uma larga maioria em quatro municípios do norte kosovar.
As eleições foram convocadas depois de os representantes dos sérvio-kosovares terem abandonado em novembro passado as instituições do Kosovo em protesto contra a discriminação de que, asseguram, são alvo por parte do Governo central.
Pristina rejeitou a proposta do embaixador norte-americano para, em prol da redução das tensões, os novos autarcas exercerem as suas funções noutras instalações.
O Kosovo, antiga província sérvia povoada por uma maioria de albaneses, proclamou em 2008 a sua independência, que a Sérvia não reconhece. Os dois países estão a negociar a normalização das suas relações com base num novo plano da UE, apoiado por Washington, num processo com frequência interrompido pela ocorrência de confrontos.