Esta não foi uma boa semana para Rivian, apontada como um dos mais promissores jovens construtores de pick-ups e SUV eléctricos. Agora que já tem a pick-up R1T à venda no mercado e se aproxima o lançamento do SUV R1S, tudo indicando que a marca entraria numa fase mais desafogada da sua existência, eis que as coisas se complicam.
Por um lado, o construtor anunciou que a capacidade da pick-up girar sobre si própria, realizando o denominado tank turn, não iria passar à produção em série, sendo mesmo retirada do catálogo. Esta era uma das “habilidades” muito apreciadas pelos potenciais compradores da R1T, mas ainda não tinha sido instalada em nenhuma das unidades já entregues a clientes. Agora, o construtor afastou de vez a possibilidade desta tecnologia vir a ser disponibilizada – em que outras marcas se “inspiraram”, como a Mercedes para o seu próximo Glasse G eléctrico -, para tristeza dos aparentemente muitos interessados. Curioso é o argumento utilizado pela Rivian, explicando que acabou com o tank turn por estas manobras, que só eram possíveis em piso de terra ou neve, degradarem muito o piso. É mais provável que este tipo de manobra, que para ser executada necessita que o veículo tenha um motor eléctrico a comandar cada uma das quatro rodas, para fazer rodar as de um lado para a frente e as do outro para trás, submeta a um esforço exagerado semi-eixos, suspensões, motores e transmissões (os redutores que desmultiplicam a rotação dos motores).
Mais grave terá sido o facto do Nasdaq 100, a bolsa norte-americana de Nova Iorque e uma das mais importantes do globo, fazer saber que os títulos da Rivian poderiam ser corridos deste índice já no final do mês de Junho, tudo porque o seu valor caiu mais de 90% desde que começou a ser cotado em 2021. Apesar dos argumentos, tecnologia e design da R1T, que muitos apontaram como importantes e, em alguns casos, até inovadores, as acções da Rivian valiam 129,95 dólares quando foram admitidas no Nasdaq 100, mas nesta última semana caíram para apenas 14,62$, um tropeção que deverá levá-la a ser expulsa do índice já no final do mês.
Os analistas imputam as dificuldades da Rivian ao incremento das taxas de juro, o que não contribui para manter em alta as vendas de veículos mais caros, como a R1T, mas este construtor não está só nesta batalha para ser respeitado pelos mercados. Também a Lucid, outra jovem startup que produz o Air, um automóvel eléctrico muito interessante por ser o mais potente e o mais luxuoso do mercado, tem atravessado momentos difíceis nas vendas pelo mesmo motivo, o que levou as acções a caírem 5,4% nestes primeiros meses de 2023.
Recorde-se que a Nikola, que agitou o mercado ao apresentar camiões eléctricos a bateria ou a fuel cell de hidrogénio muito interessantes, promessas suportadas por uma série de falsidades, o que colocou o seu fundador e ex-CEO em tribunal, foi afastada do Nasdaq 100 em Maio, em virtude de os seus títulos valerem 1 dólar durante 30 dias consecutivos. O mesmo aconteceu com a Lordstown, cujo projecto da pick-up eléctrica Endurance nasceu torto e nunca se endireitou. A empresa acabou por ser empurrada para fora do Nasdaq 100, depois de ser cotada abaixo de 1 dólar.
Enquanto isso, a Tesla tem recuperado bem da desvalorização do final de 2022, tendo visto os seus títulos subirem 98% desde Janeiro. Valiam 108$ a 3 de Janeiro e evoluíram para 214$ no fecho da última sexta-feira. Isto garante-lhe uma capitalização bolsista de 670,47 mil milhões de dólares, longe dos 900 mil milhões que já atingiu no passado, mas ainda assim um valor superior ao dos restantes nove construtores que completam o top 10 do valor de mercado.