Quase dois meses depois da publicação de um artigo, da autoria de três investigadoras, com descrições de episódios de assédio sexual numa instituição de ensino superior, que entretanto se soube tratar-se do Centro de Estudos Sociais, de Coimbra, ainda não existe a comissão independente prometida pelo CES para investigar as denúncias feitas e que visam, entre outros, Boaventura Sousa Santos. Ao Observador, a direção do Centro de Estudos Sociais explica que está a “colocar o máximo empenho e zelo na constituição desta comissão”, enumerando as dificuldades que tem sentido.
É preciso garantir, explica a mesma fonte, que o grupo de trabalho “funcionará de forma verdadeiramente independente e que os seus membros reunirão a disponibilidade, as competências e o perfil [experiência e conhecimento da área] adequados para liderar o processo com isenção e respeito por todas as partes envolvidas.”
“O procedimento de constituição da referida Comissão encontra-se em curso e a equipa do CES está a trabalhar em permanência para assegurar que tal acontece o mais rapidamente possível”, explica ainda a direção do Centro de Estudos Sociais, compromentendo-se “a comunicar de forma transparente a composição, os métodos de trabalho e os canais de comunicação da Comissão Independente assim que esta esteja constituída.”
Questionada sobre se a demora na criação desta comissão não poderá ser entendida como um sinal contrário à celeridade que investigações como estas requerem, a direção do CES limita-se a dizer que o assunto “é prioritário”.
Já quanto às recentes declarações de Boaventura Sousa Santos, numa opinião publicada no Expresso, nem uma palavra. Recorde-se que nesse artigo o sociólogo assume que “não é sempre fácil perceber conscientemente que se está a ter comportamentos que antigamente não eram vistos como inapropriados”.
Ao Observador, a direção da instituição afirma que “os órgãos diretivos do CES reiteram que, até à conclusão dos trabalho da Comissão Independente, mantêm a devida reserva sobre as matérias em análise, abstendo-se de comentar qualquer situação específica”.
As denúncias de assédio foram tornadas públicas em abril, a propósito de um dos capítulos do livro “Sexual Misconduct in Academia” (Conduta Sexual Imprópria na Academia), publicado pela editora britânica Routledge. No texto, são referidas três personagens-chave que assediavam ou pactuavam com os assédios: o professor-estrela, o aprendiz e a vigilante.
Em nenhum momento as autoras (Lieselotte Viaene, Catarina Laranjeiro e Miye Nadya Tom) identificam o nome real de cada personagem, o nome do centro de estudos, nem tampouco o país onde tudo aconteceu.
Ainda assim, logo de seguida, ao DN, Boaventura Sousa Santos acabou por dizer reconhecer-se na descrição do professor-estrela, ainda que rejeitasse as acusações. Depois das primeiras notícias, houve outras alegadas vítimas a virem a público fazer denúncias.