A proporção de pessoas que procuraram os serviços de urgência no ano passado ficou abaixo dos níveis pré-pandemia, apesar da ligeira subida face aos anos de 2020 e 2021, segundo um estudo que será esta terça-feira divulgado.

Elaborado no âmbito da Iniciativa para a Equidade Social, uma parceria entre a Fundação “la Caixa”, o BPI e a Nova SBE, o documento, da autoria dos investigadores Pedro Pita Barros e Eduardo Costa, indica que a proporção de pessoas que foi às urgências era de 41,1% em 2019 e, no ano passado, caiu para 35,5%.

Em declarações à Lusa, Pedro Pita Barros avisa que os dados das urgências devem ser sempre analisados “com algum cuidado”, questionando: “Qual é a informação que as pessoas têm no momento em que decidem ir?”.

O especialista em economia da saúde considera que, quando se fala em “falsas urgências” por haver muitos casos de utentes com pulseiras de cor verde ou azul – as menos urgentes da cinco cores que compõem o sistema de Manchester —, parece que se está a “culpabilizar as pessoas”.

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“Parece-me sempre [como se estivéssemos] culpabilizar as pessoas por tomarem uma decisão de ir a uma urgência, quando elas têm certeza legítima sobre a sua situação”, afirmou o especialista, lembrando: “Eu posso ser classificado como verde ou azul, mas só depois de lá ter ido”.

Defende que a ideia de canalizar as pessoas pelo SNS24 antes de irem às urgências “é boa”, mas recorda: “Como também sabemos, de dados passados, há pessoas que são enviadas para as urgências pelo atendimento telefónico, mas depois chegam lá e são azuis e verdes”.

“Há decisões que só se conseguem perceber no momento” que se vê o doente, insiste.

Além das medidas para fazer com que as pessoas passem pelo SNS24 antes de ir às urgências — à semelhança de uma experiência piloto que está a decorrer no Norte do país —, Pita Barros diz ainda esperar que os próprios algoritmos de classificação das pulseiras azuis e verdes “consigam ser afinados” para se perceber o que leva estas pessoas a recorrer a uma urgência.

Contudo, diz que é importante tomar medidas no sentido da redução no numero do número de episódios de urgência pois, defende, “o número de pessoas que recorrem, em Portugal, é manifestamente excessivo quando olhamos para o panorama geral da utilização do sistema”.

Apontando exemplos de organizações diferentes nos cuidados primários para garantir a cobertura de utentes sem médico de família — como a Via Verde, no Seixal e em Almada —, recorda: “Por vezes o Serviço Nacional de Saúde tem uma característica que é a gestão de topo achar muito bem, mas depois, em algum momento, as coisas acabam por não acontecer e não é dado o caminho suficiente para estas experiências provarem o seu valor e, eventualmente, serem expandidas”.

“Por vezes, pomos isto do lado das pessoas, de terem de escolher melhor e saber melhor como se orientar dentro do sistema, mas também temos que pensar que o próprio SNS tem de ter alguma flexibilidade adicional para situações especiais, mesmo que seja numa base temporária, e, muitas vezes, não o tem com a rapidez necessária para dar resposta às pessoas”, acrescenta.