Marcelo Rebelo de Sousa foi previamente informado por Luís Montenegro da carta que o líder da oposição enviou ao primeiro-ministro na quinta-feira ao final da tarde, quando já estava “a bordo do avião” do qual seguiu para Portugal a partir da África do Sul, onde decorreu a primeira parte das comemorações do 10 de junho. O Presidente da República chegou ao Peso da Régua, para a segunda parte das celebrações, seis horas mais cedo do que o previsto no programa oficial, mas a querer fugir à atualidade política.
Apesar de precoce na hora de chegada, Marcelo não se quis precipitar sobre o conteúdo da carta (que pede a demissão do ministro João Galamba e da secretária-geral do SIRP): “Tal como tem acontecido em relação a muitas outras intervenções, outras tomadas de posição, entendo que estamos num processo e no decurso do processo não me vou pronunciar sobre isso.”
O Presidente da República não quis colocar a carta no domínio da guerra partidária e sugeriu que uma resposta virá daqui a umas semanas. “Está em curso, está em curso [a comissão parlamentar de inquérito]”, justificou aos microfones da RTP, que se encontrava a cobrir o arranque das cerimónias militares e foi surpreendido pela chegada do chefe de Estado. Os jornalistas desconheciam que o Presidente já estivesse no Douro vinhateiro, onde a chegada prevista era para o final da tarde. Marcelo vai assim adiando nova análise à situação governativa para julho, altura em que vai ouvir os partidos e reunir o Conselho de Estado sobre a situação política nacional.
Minutos depois, desta vez apanhado pelas câmaras da CNN, o Presidente avisou que não vão existir avisos ou recados ao Governo no discurso do 10 de junho, que irá proferir no sábado. “[O discurso] será sobre o País, nunca sobre os acontecimentos do dia a dia. Não esperem que eu fale daquilo que se fala todos os dias nos jornais”, disse o Presidente.
A atualidade política desta sexta-feira está a ser marcada por uma carta que o presidente do PSD escreveu ao primeiro-ministro em que insiste que a secretária-geral do Sistema de Informações da República Portuguesa, Graça Mira Gomes, seja demitida, sob pena de perder a confiança do maior partido da oposição, algo que adverte ser inédito. “Pode teimar em manter tudo na mesma. É até o mais provável face à promiscuidade que, neste caso, existiu entre o Governo e os serviços de informações. Mas nessa circunstância quebra-se a regra política segundo a qual os dirigentes destes serviços beneficiam simultaneamente da confiança do Governo e do principal partido da oposição”, escreveu Montenegro.
Na mesma carta, Luís Montenegro pede a demissão de João Galamba, advertindo o primeiro-ministro para “a necessidade de substituir o seu ministro, por ele ter tido um comportamento que não é admissível por parte de um governante num Estado de Direito Democrático”.