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Porque festejamos os Santos Populares? A tradição evoluiu para que a festa continue

Este artigo tem mais de 1 ano

Portugal adotou Santos Populares para dar um novo significado às festas de junho. Os pedidos de amor são herança pagã e a boa mesa, com sardinha e vinho português, dá um renovado sentido aos festejos.

Santo António em Lisboa, São João no Porto, São Pedro em Ponta Delgada. Junho é o mês de fazer a volta a Portugal em Santos Populares: começar à beira Tejo no dia 12, subir ao Douro no dia 23 e acabar na ilha açoriana a 29. E provavelmente, sem se afastar muito de casa, também consegue dar um pé de dança num arraial popular, já que estas festas se celebram um pouco por todo o país — desde tempos imemoriais.

A influência católica adotou alguns dos santos mais acarinhados pelo povo para dar um novo sentido aos festejos, oferendas e anseios pré-cristãos, um pouco por todo o país. Escolheu-se São João, o “apóstolo do amor”, nascido a 24 de junho, celebrado hoje em Abrantes, Braga, Figueira da Foz, Almada; São Pedro, guardião das chaves do céu, celebra-se a 29, e substituiu a tradição romana de festejar Rómulo e Remo neste dia. Hoje, dá festa em Porto de Mós, Évora, Montijo ou Póvoa do Varzim; Santo António, nascido em Lisboa e falecido a 13 de junho, é tratado por tu pelos marinheiros e raparigas casadoiras que protege e as suas festas em Famalicão foram reconhecidas como Património Cultural Imaterial de Portugal no ano passado.

A fertilidade da natureza

Já antes da cristandade, esta altura do ano era momento de celebração pagã, por causa da primavera instalada e da chegada do verão, com solstício a 21 de Junho. Estas eram festas dedicadas à fertilidade da natureza — se tudo corresse como pediam os homens, haveria colheitas fartas dentro de pouco tempo. Para as sociedades dependentes da agricultura e dos caprichos da natureza, este era um assunto de extrema importância, tal como a fertilidade dos homens e mulheres, que também era alvo de oferendas e celebrações. Não se estranhe, portanto, que Santo António e São João sejam, por excelência, os santos casamenteiros.

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O saltar da fogueira noite fora, tradição que ainda se mantém em algumas festas populares, é uma das heranças pagãs das festas de junho, relacionada originalmente com uma representação da luz do sol que irrompe pela noite, deixando os dias mais longos. No São João do Porto, o lançamento dos balões tem também origem nas tradições de tributo ao sol, uma forma de iluminar a grande noite que é o inverno e pedir que chegue o tempo quente e fértil de vez.

Outra tradição que nos ficou das festas pré-cristãs é o uso do alho-porro para bater nas cabeças da multidão durante a festa. Era usado por ser um símbolo fálico que reforça a ligação da época com a fertilidade. Hoje, no Porto, os martelinhos são mais comuns do que o alho porro, afastando este significado ancestral. A ideia foi de Manuel Boaventura, industrial do Porto, que nos anos 60 distribuiu martelinhos azuis e brancos na Queima das Fitas em maio. Foram de tal forma bem recebidos que no mês seguinte continuaram a andar pelas ruas, na noite de São João, até de manhã. Afinal, a tradição tripeira é começar o dia 24 na Foz, a tomar banho no mar e ver o nascer do sol na praia. Mais um tributo às noites em claro.

Ó meu santo casamenteiro

A vocação casamenteira das festas é visível em várias tradições e na sabedoria popular: queima-se a alcachofra à meia-noite e, se florescer dias depois, há amor verdadeiro; rega-se e põem-se ao luar o manjerico para ter sorte no amor, e diz-se que o orvalho da manhã de São João traz fertilidade e purificação. Além de tudo isto, em Lisboa, castiga-se o Santo António.

Os castigos de Santo António são de tal forma frequentes nos bairros lisboetas (e não só) que o Museu de Santo António, perto da Sé de Lisboa, exibe alguns dos mais frequentes: virar o santo António para a parede ou fechá-lo numa gaveta são os mais famosos, mas havia também quem o pusesse debaixo de água, por exemplo. O castigo terminava quando o santo arranjasse namoro ou casamento à rapariga.

Se o amor e o casamento continuam bem presentes nas festas populares do mês de junho — não esquecer dos casamentos de Santo António que ainda têm lugar em Lisboa — a dança e uma mesa recheada compõem os serões. Não há verdadeira festa nacional sem uma mesa recheada e os Santos Populares são o momento de provar as primeiras sardinhas do ano, assar os pimentos da época, e brindar com um vinho bem português.

Um brinde ao seu Santo

Se as festividades associadas aos Santos Populares já existem há muito tempo, o mesmo se pode dizer dos vinhos Periquita, que desde 1850 nos mostram o seu rótulo. Foi o primeiro vinho tinto engarrafado no país e, se os Santos Populares devem primar pela tradição, esta será uma escolha segura para qualquer uma das noites de junho.

Se, por um lado, a tradição é importante, por outro, a evolução e adaptação são vitais, como nos mostra a história destas festas. Os herdeiros são indispensáveis: são eles que mantêm a memória, atualizando-a surgiu o Periquita Reserva Branco 2022, herdeiro do primeiro Periquita tinto de 1850, capaz de conjugar o passado e o presente.

É um branco bem ao gosto português, com acidez e fruta combinadas com notas de madeira e um final de boca longo e persistente, pensado para ser servido bem fresco (idealmente a 8º), e para acompanhar as delícias da costa nacional — como as sardinhas a pingar no pão, claro.

A sardinha já pinga no pão

A tradição de comer sardinhas assadas pelos Santos Populares terá começado por Lisboa e mais tarde, na década de 40 do século XX, terá subido ao norte. No livro Culinária Portuguesa, de Olleboma, de 1936, a época das sardinhas está registada de maio e outubro. Esta foi também a década em que as marchas lisboetas foram oficializadas pelo Estado Novo, dando um caráter oficial àquilo que, até então, tinha uma organização informal, nos bairros e coletividades.

Foi em 1932 que as primeiras marchas populares se organizaram oficialmente em Lisboa. Com a participação dos bairros mais típicos da cidade, os arraiais, os tronos de Santo António e as marchas tornaram-se um símbolo da capital — tanto que protagonizam algumas das cenas de Canção de Lisboa, o filme de Cottinelli Telmo, de 1936. Além de um símbolo alfacinha, ficaram também muito associadas ao regime e, com o 25 de Abril de 1974, as marchas e festas organizadas pela cidade sofreram uma interrupção, regressando em 1980. Mas os festejos e devoção populares sempre se mantiveram — antes e depois da ditadura.

A tradição de pescar sardinha nesta época juntamente com o cunho popular destas festas explica que este peixe seja uma das estrelas das celebrações que abraçam todo o mês de junho. Culturalmente, ao olhar para o final do século XIX e início do século XX, os peixes grandes eram destinados às mesas abastadas, e os pequenos — as sardinhas, os jaquinzinhos e esses cardumes fora —, aos pratos mais modestos.

As histórias dos Santos Populares, das sardinhas e do vinho Periquita mostram como a tradição pode evoluir e atualizar-se para continuar presente. Com mais ou menos vontade de dançar, à espera de casamento ou para implorar por um verão próspero, escolha um santo padroeiro, asse umas sardinhas e faça-lhe um brinde.

 
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