O grupo Jerónimo Martins, que, em território nacional, detém as cadeias Pingo Doce, foi condenado a pagar uma coima superior a 160,9 milhões de zlotys (cerca de 36,2 milhões de euros) pela prática de políticas de preços enganadores na Polónia, segundo um comunicado do regulador para a proteção do consumidor (UOKiK) divulgado esta terça-feira e citado pelo jornal Eco.
A retalhista portuguesa tem uma forte presença no mercado polaco através da cadeia de supermercados Biedronka. Desta vez, o supervisor polaco entendeu que a campanha realizada nas lojas da cadeia entre abril e junho de 2022 transmitia uma “mensagem de marketing enganadora destinada a atrair multidões de consumidores às lojas da cadeia Biedronka”. A campanha tinha como mote: “se encontrar um produto na nossa lista de 150 produtos comprados com mais frequência com um preço mais baixo em outra loja, devolvemos a diferença”.
De acordo com o UOKiK, além de ser “enganadora”, a campanha continha “regras complicadas”, “benefícios desproporcionais”, bem como “acesso limitado a regras e regulamentos”. Entre as exigências estavam a necessidade de comprar o mesmo produto em ambas as lojas em datas específicas, fotografar as etiquetas, guardar os recibos, reportá-los eletronicamente e enviar tudo por correio (com os custos a cargo do consumidor). Outra das nuances da campanha criticada pelo supervisor polaco era a forma de pagamento. A marca afirmava que iria “reembolsar” a diferença de preço, o que sugere que o pagamento desse valor seria em dinheiro, mas, na verdade, o reembolso acontecia através de um “voucher” com uma validade de sete dias.
O supervisor polaco liderado por Tomasz Chróstny criticou também a falta de transparência sobre o regulamento que regia a campanha. “Era suposto – de acordo com o material publicitário – estar exposto nas lojas, mas não estava em lado nenhum”, lê-se no comunicado. Era necessário que o cliente pedisse a um funcionário da Biedronka o regulamento, que depois o teria de imprimir. Considera o regulador que “na prática era impossível a leitura do regulamento na loja”.
O presidente da UOKiK considera assim que a “Jerónimo Martins Polska promoveu uma campanha em que os materiais de publicidade violaram o interesse coletivo dos consumidores”.
Esta não é a primeira vez que a retalhista portuguesa é multada na Polónia. Em 2020, a autoridade da concorrência polaca castigou a empresa por “demonstrar uma desonestidade profunda” pelas outras empresas com uma multa de 163 milhões de euros. Na época, a Jerónimo Martins considerou a “decisão tendenciosa, injusta e imerecida”. No ano seguinte, o grupo que detém o Pingo Doce foi acusado de “induzir os consumidores em erro quanto ao país de origem dos legumes e frutas”, com uma coima de 13,2 milhões. No ano passado, em agosto, a retalhista recebeu nova multa, desta vez por publicidade enganosa.