À terceira ainda não foi de vez. António Costa Silva, ministro da Economia, voltou a negar dar números finais sobre a venda da Efacec ao fundo alemão Mutares. Mas, em entrevista à RTP, deu uma nova razão para ter marcado uma conferência de imprensa a anunciar o vencedor — o que aconteceu na passada quarta-feira, 7 de junho.

“Não podemos revelar números”, atirou, novamente, em entrevista à RTP, depois de já o ter feito esta tarde no Parlamento pedindo sentido de Estado aos deputados. À RTP explicou que o contrato de promessa com a Mutares deverá ser assinado dentro de duas semanas, para a operação poder estar concluída em dois meses. “E quando for concluída serão revelados os pormenores”.

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Há três condições precedentes à finalização da compra. As conversas com a Comissão Europeia por causa das ajudas de Estado, negociações que “têm sido favoráveis e boas”, pelo que Costa Silva diz não antever daí “grandes questões”. Haverá outra condição que é o aval das autoridades da concorrência — esta tarde falou ainda do Tribunal de Contas.

Mas há uma terceira condição, que já tinha sido revelada, mas que agora Costa Silva aponta como a razão de se ter feito a conferência de imprensa a anunciar o vencedor. “Há uma terceira questão muito importante, e é por isso que fizemos a conferência de imprensa e anunciamos que era vencedora da Mutares”, para que pudesse ser “empoderada e para ficar com capacidade para negociar com credores financeiros, é isso que está a acontecer”. 

Volta a explicar porque tem dado poucas explicações. “Estes negócios não é para se fazer no bazar e na praça pública”, já que “se se começar a discutir tudo na praça pública acaba”.

Costa Silva pede sentido de Estado e que “não ponham em causa o negócio da Efacec. “Qualquer número que se revele pode contaminar negócio”

Ainda à RTP, volta a defender a existência da Efacec em Portugal, assumindo que a Mutares se comprometeu a recuperar a Efacec mas “ao mesmo tempo manter a empresa para renascer e ficar em Portugal”, mantendo a força de trabalho, e reafirma a possibilidade de o Estado reaver o dinheiro que meteu na Efacec. No final de maio a exposição do Estado português à Efacec atingia os 217 milhões de euros: 132 milhões em suprimentos acionistas e 85 milhões de euros em garantias

As garantias, disse Costa Silva, não foram acionadas e “esperemos que não sejam”.

Sobre a demora na privatização, Costa Silva diz que foi difícil avançar no processo nos anos de pandemia e assume, agora à RTP, que o “Governo [anterior] decidiu, e a meu ver bem, não deixar cair a empresa [Pedro Siza Vieira era ministro da Economia quando a empresa foi nacionalizada] que tem dois mil trabalhadores e referência na tecnologia”.

Na entrevista à RTP, Costa Silva volta a frisar a necessidade de se mexer na fiscalidade. E logo na primeira pergunta assume que houve coisas na política que o surpreenderam. “Temos um país muito polarizado, muito fragmentado, com uma cultura política muito baseada no curto prazo. Com a discussão de casos e casinhos e discussões muito pessoalizadas. Se a política se deixa arrastar pelo curto prazo e se não tem visão estratégica que permita focar no essencial podemos perder-nos na azáfama do quotidiano. Precisamos de visão estratégia e atuar com paixão”, atirou.