O presidente do principal partido da oposição de Moçambique, Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), Ossufo Momade, disse que as irregularidades no último recenseamento eleitoral ameaçam o processo de paz no país.

“Ao manter o resultado deste recenseamento, vamos estar a adiar a paz que temos vindo a conquistar duramente”, referiu. Momade falava na cerimónia de encerramento da última base do braço armado da Renamo, na serra da Gorongosa, centro do país.

Ossufo Momade fez um apelo às autoridades para resolverem os erros do recenseamento que decorreu entre abril e junho e disse também esperar uma “atitude mais proativa” da comunidade internacional na salvaguarda da democracia em Moçambique.

Os conflitos que levaram à existência de bases nasceram “de sucessivas fraudes eleitorais”, disse Momade, sublinhando que tal se repetiu nas eleições de 2019: classificou-as de “mega-fraude”, com “manipulação do recenseamento eleitoral, enchimento de urnas, detenção de membros e candidatos da Renamo”.

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“O recenseamento terminado no dia 3 de junho foi caraterizado por várias irregularidades” e as queixas foram feitas às entidades competentes, mas sem o tratamento devido, realçou, deixando a pergunta: “Será sinal de nova fraude eleitoral ou de um conflito pós-eleitoral?”

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“Não há paz quando o ódio, perseguição, intolerância e exclusão continuam a ser raiz de discórdia no nosso país”, sublinhou.

“Num país que se pretende reconciliado, não pode nem deve haver cidadãos da primeira e segunda categoria”, numa alusão a simpatizantes da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), partido no poder desde a independência, e outros da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo).

Não pode haver diferenças, disse, “porque todos são filhos da mesma pátria e o poder político deve ser alcançado através de eleições livres, justas e transparentes”, referiu Ossufo Momade.

O atraso na atribuição de pensões, por ter ficado dependente do encerramento da última base, degradou a vida dos primeiros desmobilizados desde 2019, queixou-se Ossufo Momade, referindo que foi preciso ir falando com todos para manter a serenidade.

“Queremos ver nos próximos dias a fixação, o pagamento das pensões aos nossos combatentes e apelamos para que não haja mais incumprimentos nos entendimentos que temos vindo a alcançar”, disse, realçando que o empenho pela paz efetiva não significa “apenas o calar das armas”.