No beijo que Joselu deu nas caneleiras antes de entrar em campo estava parte da fé que colocou no desvio que deu na bola e que levou a Espanha até à final da Liga das Nações contra a Croácia. Precisou apenas de cinco minutos em campo e de esperar no limite do fora de jogo para voltar a ser decisivo. À terceira internacionalização, o avançado marcou o terceiro golo com a camisola da seleção espanhola e nem os protestos dos italianos impediram os festejos da passagem ao derradeiro jogo.

Inerente à existência humana é a busca pela sorte. O inglório resultado da procura é compensado pela descoberta de que é ela quem vai ao encontro daqueles que considera serem merecedores dos seus efeitos. Luis de la Fuente que se considere um privilegiado. Mesmo assim, o selecionador espanhol só tinha acertado em cinco números, esperando pela escolha correta de duas estrelas para obter o prémio maior. Nessas estrelas estava escrito “Itália” e “Croácia”. A Espanha precisava de as derrubar para resgatar a luz do dia de uma equipa que mergulhou na escuridão com o rácio negativo entre as expectativas que levou para o Mundial do Qatar e a chegada aos oitavos de final que trouxe. Por isso, mais do que acertar numa chave resultante de um sorteio, La Roja precisava de não se baralhar na escolha do 1 x 2 do boletim do Totobola.

De la Fuente herdou de Luis Enrique, que deixou o comando técnico de Espanha após o Mundial, a qualificação para a Final Four da Liga das Nações, o que fazia com que o novo treinador tivesse a possibilidade de, ao terceiro jogo como selecionador, garantir uma final. “Não se pode exigir a esta equipa que vença a Liga das Nações, mas acreditamos todos que o podemos conseguir. Há potencial mais do que suficiente para podermos ganhar qualquer título”, referiu de la Fuente.

O selecionador espanhol fez uma revolução na convocatória face ao que foram os jogos contra Noruega (vitória por 3-0) e Escócia (derrota por 2-0). Entretanto, Fran García, Ansu Fati e Nacho entraram para os lugares dos indisponíveis Bernat, Nico Williams e David García. Na lista de nomes para o jogo com a Itália a novidade foi o regresso dos experientes Jordi Alba, Jesús Navas e Canales. De la Fuente justificou as opções com as especificidades da competição. “São dois jogos para ganhar um título, o cenário para esta competição é o que é. Não se fazem mudanças por capricho, fazem-se alterações avaliando e analisando de depois tomam-se decisões. Este momento não tem nada a ver com uma fase de qualificação que é um processo mais longo”, assumiu o treinador. “Escolhi jogadores que acredito que vão render neste contexto. Estamos tranquilos e acreditamos que fizemos a lista perfeita ao dia de hoje”.

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Da últimas duas vezes que Espanha e Itália se encontraram, disputaram meias-finais, a última das quais na Liga das Nações, tendo sido La Roja a sair por cima, ao contrário do que tinha acontecido três meses antes no Euro 2020. “Temos pela frente rivais que têm o mesmo nível que nós”, explicou Luis de la Fuente que apontou a conquista da Liga das Nações como a melhor forma de começar o novo ciclo da seleção. “A Itália é uma seleção muito parecida connosco, nesse processo de formação, jogadores jovens, jogadores veteranos de um grande nível.  Ainda assim estamos nesse processo de consolida uma ideia, um conceito, uma seleção. Temos muito pouco tempo para o fazermos. Agora, mais do que nunca, temos muitas semelhanças, agora, podia ser a final de uma Campeonato da Europa ou do Campeonato do Mundo”.

O selecionador italiano, Roberto Mancini, também reconheceu que se tratam de duas equipas em renovação. Acontece que para a squadra azzurri, os riscos de uma transição geracional são maiores, visto que a Itália falhou o último Mundial. “Olhamos para trás e vivemos momentos bonitos e momentos muito duros. Faz parte do desporto e da vida. É preciso saber aceitar tudo”, disse Mancini na antevisão ao jogo que ia decidir o adversário da Croácia na final.

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A equipa transalpina via na Liga das Nações uma oportunidade para consagrar o estatuto que pode ter perdido ao falhar os últimos dois Campeonatos do Mundo. “A Liga das Nações é uma competição a que se dá pouco valor quando se perde e muito quando se ganha”, afirmou Mancini. “Sabemos que os jogos contra a Espanha são sempre muito difíceis, porque são uma grande equipa, jogam um tipo de futebol muito ofensivo e técnico. O jogo vai ser equilibrado”.

No onze inicial para o partidazo a Espanha estreou Le Normand, central que obteve passaporte espanhol em maio e que também tem nacionalidade francesa, à semelhança do que acontece com o defesa que atuou ao lado do jogador da Real Sociedad, Laporte. A Itália deixou o avançado sensação, Mateo Retegui, no banco e utilizou Immobile. Verratti também foi suplente pelo que viu o seu lugar ser ocupado por David Frattesi. Zaniolo que não jogava pela seleção desde novembro de 2022 fez parte das escolhas inicias.

Antes do apito inicial no Estádio De Grolsch Veste, cumpriu-se um minuto de silêncio homenagem a Silvio Berlusconi. A Itália começou o jogo a querer experimentar o risco na construção. Donnarumma fez um passe frontal para Bonucci. Yeremy Pino (2′) pressentiu que podia obter algo e roubou a bola ao central. Tão perto que estava da baliza, foi só finalizar. A Itália tentou reagir desde logo. Ainda não se tinha percebido qual a intensidade da resposta e Zaniolo despachava uma bola que lhe tinha sido bombeada para o braço de Le Normand. O árbitro assinalou grande penalidade e Immobile (10′) converteu, rasteiro para o lado esquerdo.

A Espanha tentava ser a Espanha. Ter bola, sair a partir de zonas baixas, construir de forma apoiada. Só que bateu de frente com uma crise de identidade entre o futebol que lhe corre nas veias, com genética de Busquets, Xavi e Iniesta, e o que estava a ser capaz de produzir. Jorginho fez uma passe que feriu a defesa de La Roja. Jordi Alba, o lateral-esquerdo, estava concentrado no extremo adversário, aberto junto ao corredor e não foi capaz de anular o espaço que o distanciava para Laporte. Nessa brecha, Frattesi apareceu a correr para fazer o segundo para a squadra azzurri que acabou anulado pelo VAR devido a fora de jogo.

A Espanha recuperou alguma qualidade na posse, embora tenha falhado no momento de rutura (salvem-se as cavalgadas de Jesús Navas à direita). Alguns remates com pouca preparação de Morata funcionavam como conclusão dos lances assim que se esgotava a paciência perante a ausência de avanços. Para tentar ter mais verticalidade no ataque, de la Fuente lançou Asensio ao intervalo para o lugar de Rodrigo. Em simultâneo, Mancini, que não contou com o central Bastoni (doente), fez alterações no setor defensivo com Dimarco a entrar para o lugar de Spinazzola e Darmian para o lugar de Bonucci.

Ainda que a Espanha tenha mantido o 4x2x3x1 e a Itália o 3x5x2, a tendência mudou. Os espanhóis começaram a aproximarem-se com perigo da baliza de Donnarumma. Morata, desta vez, rematou um pouco ao lado, e Rodri, depois de ter decidido a Liga dos Campeões, tentou de pontapé de bicicleta ser de novo herói. Responderam os campeões da Europa por Frattesi. Completamente sozinho dentro de área, o médio permitiu uma grande defesa a Unai Simón.

A Itália deu-se ao luxo de lançar a Verratti a 15 minutos dos 90. A Espanha fez a mesma coisa com Fabián Ruiz. Esperava-se que estes fossem reforços para o prolongamento. No entanto, apareceu Joselu (88′) para fazer o 2-1 e desempatar o encontro, carimbando a passagem de La Roja à final.