Os resultados da TAP em 2022 afinal não são assim tão bons, na leitura dos dados que Abel Mateus, economista, fez. Ao programa Cheque In, Abel Mateus revela os cálculos que fez: “A taxa de lucro da TAP é de apenas 0,05% enquanto a da Ryanair consegue taxas na ordem de 4-5%”.
Os cálculos foram feitos com base nos resultados de 2022 que são conhecidos e que, recorda Abel Mateus, “são apelidados como um grande progresso que a TAP fez, por ter conseguido, pura e simplesmente, resultado operacional de algumas dezenas de milhões de euros, que não são absolutamente nada quando comparados com o capital e as receitas da TAP”.
O economista dá ainda mais dois indicadores: o rendimento por passageiro de lugar disponível da TAP é de 5,5 e o custo de passageiro transportado de 4,7 euros. Na Ryanair os valores são, respetivamente, de 4,6 e 2,7. O custo é “inferior em quase metade e nas grandes transportadoras o rendimento é quase o dobro por passageiro transportado”.
Por isso é que Abel Mateus considera que na comissão de inquérito à TAP “está a gastar-se muito tempo sobre os mesmos temas, e de forma desfocada dos verdadeiros problemas da TAP”. Os temas que gostava de ter visto mais abordados era o de saber se “é viável ou não economicamente a médio e longo prazo; qual é efetivamente plano reestruturação que não foi divulgado e gasta o dinheiro de todos nós, dos contribuintes; e que medidas efetivamente foram tomadas”.
Abel Mateus sustenta que “nenhuma destas questões foi tratada”. Aliás, sobre o plano estratégico, diz mesmo que “os dados devem ser conhecidos”.
Ainda fala de um quarto problema que é a relação do Estado como acionista de uma empresa que se rege por princípios comerciais e atua no mercado concorrencial. Para Abel Mateus “deve ter um estatuto, acima de tudo, de empresa comercial e não de uma empresa tutelada que está constantemente a ser ingerida pelo estado”, o que, no seu entender, tem sido justificado pelos atuais governantes pelo facto de estar “num programa acordado com a Comissão Europeia e que, portanto, necessita de acompanhamento mais frequente”. Ora, acrescenta, “não sou da mesma opinião. Acho que a empresa atua no mercado internacional, tem problemas muito sérios. A TAP está entalada entre as low cost, como a Ryanair, e as grandes empresas de bandeira globais que têm um network de linhas de aviação que não é comparável com a TAP”.
E, portanto, o destino da TAP ou é tornar-se numa empresa puramente regional ou low cost, “que não vejo como pode concorrer nesse mercado. E, por isso, Abel Mateus diz que a TAP ainda não encontrou a sua posição e não definiu um plano estratégico que possa torná-la viável no médio e longo prazos”.
Abel Mateus considera, ainda, que se o Governo e o Estado quer assegurar ligações a determinadas comunidades, pode assegurá-lo através de um contrato com quem ficar com a empresa. Estabelecer um contrato com determinados objetivos que o Estado acha que a TAP deve cumprir, ao qual poderá corresponder um custo negociado a pagar. “Se queremos que a TAP assegure determinadas linhas no sentido que o Governo quer que sejam asseguradas, faça-se um contrato com empresas para assegurar essas linhas, não é necessário pagar milhões e milhões de euros, que é o que tem acontecido”.
O economista acrescenta, no programa Cheque In, que esses propósitos não necessitam que o Estado mantenha uma posição acionista, nem simbólica. Mas quanto ao processo de privatização, “não sabemos se de facto está ou não [a correr], mas o facto é que a TAP é uma empresa pública e deve estar sob escrutínio de todos os contribuintes”.
Ainda assim, apesar de considerar que a comissão de inquérito não tem conseguido responder a muitas coisas, diz que, porém, “tem o mérito de procurar descobrir como tem sido o relacionamento do Estado com a empresa e as próprias decisões dentro do próprio Governo”, dando como exemplo a atuação em relação ao SIS e as atuações em relação às intervenções que diz que foram feitas sobre o conselho de administração e a forma como foram atribuídas determinadas indemnizações. Mas, conclui, “infelizmente continua a haver grande contradições entre os governantes”. E ficou a nu o problema da inexistência de contratos de gestão entre o Estado e os administradores, o que permitiria avaliar os resultados da administração.