Um documento da ONU alerta para o crescimento da ameaça terrorista no Afeganistão, avisa que a Al-Qaida tem campos de treino no país e que uma das suas filiais se está a tornar “mais sofisticada e letal nas suas ações”. A advertência consta do último relatório da equipa da ONU de controlo das sanções contra os talibãs, divulgado neste domingo pela Europa Press.
Segundo o documento, os talibãs, no poder no Afeganistão desde agosto de 2021, mantêm atualmente uma ligação “forte e simbiótica” tanto com a Al-Qaida como com o Tehrik-e-Taliban Pakistan (TTP, os talibãs paquistaneses) e, embora tenham desencadeado ações contra o Estado Islâmico Khorasan (ISKP, afiliado do grupo terrorista), em geral, “não cumpriram as disposições antiterroristas” incluídas no acordo alcançado com os Estados Unidos.
No Acordo de Doha, assinado em fevereiro de 2020 com a administração de Donald Trump, os talibãs comprometeram-se a não utilizar o território afegão como plataforma de lançamento para novos ataques, como o perpetrado pela Al-Qaida em solo americano em 11 de setembro.
Em contrapartida, Washington concordou com a retirada das suas tropas no Afeganistão, cuja saída apressada levou à queda do governo de Hamid Karzai em agosto de 2021, permitindo o regresso dos talibãs ao poder.
Afeganistão. Thomas Barfield: “Joe Biden criou um problema onde ele não existia”
Segundo o documento, baseado em informações fornecidas pelos Estados membros da ONU, os talibãs não cumpriram os seus compromissos, uma vez que “a Al-Qaida está a reconstruir a sua capacidade operacional” e as operações do ISKP “estão a tornar-se mais sofisticadas e letais”.
A Al-Qaida “mantém um perfil discreto”, usando o Afeganistão “como um centro ideológico e logístico para mobilizar e recrutar novos combatentes, ao mesmo tempo que reconstrói secretamente a sua capacidade de ação externa”, afirma.
O relatório afirma que alguns membros da Al-Qaida ocupam cargos no regime talibã ou servem como conselheiros no aparelho administrativo e de segurança, dando o exemplo dos governadores das províncias de Kapisa e Nuristan, que aponta como membros do grupo terrorista.
Por outro lado, diz que o ISKP tem tentado manter o ritmo dos ataques, intercalando alguns ataques de grande impacto com outros que “provocam conflitos sectários e desestabilizam a região a médio e longo prazo”.
De acordo com o relatório, o ISKP reivindicou a responsabilidade por mais de 190 ataques suicidas, com mais de 1.300 mortos ou feridos, e tem cerca de 4.000 combatentes no Afeganistão, incluindo as suas famílias.
Tal como a Al-Qaida, também possui campos de treino, principalmente no Norte e no Leste do país, cinco dos quais foram construídos no ano passado, e dispõe, igualmente, de uma rede de células adormecidas no centro do país, incluindo a capital, acrescenta.
O documento afirma que o ISKP é atualmente “a mais séria ameaça terrorista no Afeganistão, nos países vizinhos e na Ásia Central”, sublinhando que, no último ano, o grupo “beneficiou de capacidades operacionais crescentes e de liberdade de movimentos” no país.
O teor do documento foi desvalorizado por altos funcionários dos Estados Unidos, tendo um deles afirmado à Voz da América que se a Al-Qaida tivesse criado campos de treino após a retirada norte-americana em agosto de 2021, isso não passaria despercebido a Washington, contestando igualmente os dados sobre o número de combatentes do Estado Islâmico.
Edmund Fitton Brown, que anteriormente dirigiu o grupo de controlo da ONU, assumiu a responsabilidade pelo relatório, argumentando que o seu conteúdo é uma triangulação de todas as informações e que apenas inclui informações sobre as quais existe “confiança razoável”.