A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico pede intervenção urgente na área dos cuidados continuados, lembrando que para responder ao envelhecimento da população os trabalhadores deste setor têm de aumentar em cerca de 30% na próxima década.

Um relatório divulgado sublinha o “rápido envelhecimento da população” nos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), frisando que esta situação aumentará muito a procura por trabalhadores nos serviços de cuidados continuados.

Contudo, lembra, “cada vez menos trabalhadores poderão estar disponíveis e dispostos a assumir estes trabalhos, pois muitas vezes são mal pagos, executados em condições de trabalho difíceis e, em geral, não são reconhecidas pela sociedade”.

Para ajudar a resolver o problema, a OCDE defende no relatório um aumento do investimento público e diz que os governos devem liderar a definição de padrões de qualidade nesta área. Defende também que o pagamento de melhores salários nos cuidados continuados no setor público pode forçar os fornecedores privados destes serviços a aumentarem também os vencimentos.

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No relatório, a organização considera que deve ser incentivada a negociação coletiva nos cuidados continuados, assim como reforçada a formação para estes profissionais, em particular os que prestam cuidados no domicílio. Um maior foco nos cuidados geriátricos nos currículos dos enfermeiros, assim como o fortalecimento de políticas de saúde preventiva, com campanhas públicas de informação para promover estilos de vida saudáveis e políticas de reabilitação para mitigar a crescente procura por serviços de cuidados continuados são outras das sugestões para enfrentar o problema.

“As tecnologias podem contribuir para reduzir os riscos para a saúde, atenuar o declínio físico e cognitivo e facilitar a vida independente”, sugere a organização. A OCDE lembra que as homenagens prestadas durante a pandemia aos trabalhadores da área da saúde, incluindo os dos cuidados continuados, foram muito importantes, mas precisam de ser seguidas de “ações concretas”.

Estes profissionais “continuam a trabalhar em condições difíceis, com baixos salários e pouco reconhecimento social, apesar dos aplausos nas varandas”, recorda. O documento adianta que os profissionais dos cuidados continuados estão entre os mais mal pagos, ganhando menos do que aqueles que, com qualificações semelhantes, trabalham no setor da saúde.

Como razões para a falta de atratividade da carreira nos cuidados continuados, além dos baixos salários, a OCDE aponta o trabalho por turnos, associado a “uma ampla gama de riscos para a saúde, como ansiedade, ‘burnout’ e depressão“. Acrescenta que há fatores acrescidos que estão a tornar-se cada vez mais comuns, como as agressões. Quase dois terços dos trabalhadores dos cuidados continuados também são expostos a riscos físicos, pois “movimentam, transferem e reposicionam pacientes”.

Cuidados continuados queixam-se de burocracia: “Deixamos de trabalhar para a rede para ajudarmos os utentes em questões pessoais”.

Para explicar o facto de, apesar de elevada procura por pessoal nos cuidados continuados e da oferta insuficiente, os salários não subirem, a OCDE aponta a falta de negociação coletiva nesta área, justificando que são trabalhadores “difíceis de alcançar” pelos sindicatos pois “muitas vezes não trabalham num local físico comum, mas sim espalhados por vários locais de trabalho”.

Outro fator importante, acrescenta, é que parte dos cuidados continuados são prestados por cuidadores informais.

Embora as políticas a aplicar possam ser diferentes de país para país, dependendo de como a área dos cuidados continuados está organizada, “todos partilham a necessidade de reformar as políticas (…) no sentido de um maior respeito pela profissão de cuidar”, acrescenta a organização, sublinhando a necessidade de um financiamento sustentável deste setor.

Mesmo antes da pandemia, apenas metade das pessoas com mais de 65 anos com graves limitações nas atividades da vida diária recebiam cuidados formais na Europa e as dificuldades acentuaram-se após a Covid-19, refere a OCDE, concluindo que “se os cuidados continuados continuarem a ser um beco sem saída, a escassez de pessoal vai continuar e pode atingir socialmente níveis inaceitáveis“.