No caminho de regresso ao estacionamento, a área certa estava afinal ao virar da esquina, e a deslocação não foi dada por perdida, depois de terem sondado um outro espaço que “não se adequava de todo”. “Olhámos um para o outro e pensámos que aqui é que seria um bom sítio”, recorda Clemente Rosado, uma das metades da QuartoSala. “Conheço este sítio desde miúdo. Era uma loja de decoração do arquiteto Jorge Burnay. O prédio estava em obras, a ser renovado, e pensámos que seria uma boa loja.”, complementa Pedro d’Orey.
A escolha revela-se através de uma das nove janelas da Minotti, que esta quarta-feira abriu portas no coração da capital, contando com o charme de uma vizinhança histórica. “Queríamos dar-lhe aquilo que só o Chiado tem em Lisboa, com o São Carlos, o nosso Scala de Milão, aqui ao lado. Toda esta componente, a Rua Ivens, o museu [MNAC], é a joia do que poderíamos ter. Não queríamos levar a marca para um shopping ou para a Avenida da Liberdade. É um lugar recatado, de charme, onde se vai pelo apelo da marca.”, acrescenta D’Orey sobre a novíssima flagship da marca de mobiliário italiana inaugurada pela QuartoSala, que passa agora a representar em exclusivo a marca que está integrada no seu portfolio desde 2019.
O projeto de decoração e curadoria de design de Pedro e Clemente investiu um milhão de euros na concretização destes 200 m2, que reúnem peças do catálogo da Minotti e novidades para interiores e exteriores em seis ambientes diferentes. “Percebemos que as pessoas têm uma atração pela marca, que se esforça por ter uma coerência em tudo o que faz, que foi também o nosso desafio aqui. Tudo estava pensado ao detalhe; tudo tem uma ciência por trás em termos de arquitetura, de modo a que as peças tenham uma vida própria no espaço. Esse é o grande mistério”, descreve Pedro d’Orey. Adicione-se o longo historial de uma casa que há três gerações se mantém no seio do mesmo clã. “Para nós que já estamos no mercado há um tempo e assistimos a grandes mudanças de CEO’s nas empresas, compras e take overs, faz toda a diferença ver uma história familiar. Faz-nos sentir parte da família também.”
Uma história de família made in Italy
O ponto de partida situa-se em Itália, no rescaldo da II Guerra. Em 1948, Alberto Minotti dedica-se à então ainda pequena oficina que haveria de seguir o curso da industralização anos 60 adentro. Mais de sete décadas depois desse arranque em Meda, nos arredores de Milão, o que mais terá mudado e permanecido inalterado? “Penso que agora as pessoas quando compram mobiliário querem encontrar algo diferente. Posso dar um exemplo: quando entra numa monobrand como a Louis Vuitton ou Hermès tem automaticamente uma visão muito compacta. O interior, a decoração, a atmosfera… e esta aqui é a nossa visão, minha e do meu irmão, nos últimos 30 anos.”, define Renato Minotti, que com o irmão Roberto assumiu os destinos da marca em 1991, após a morte do pai.
É esse modus operandi que se vê refletido na execução de cada loja, fiel à música, ao aroma emblemático, à disposição de cada peça, no seu intrincado xadrez cromático, uma disposição trabalhado ao milímetro (já lá vão 27 anos) pelo diretor criativo Rodolfo Dordoni, arquiteto e designer multifacetado e “profundo conhecedor da arte contemporânea”.
“É como se numa loja fosse recebido não por um sofá mas pela coleção inteira. Vai sentir-se numa casa real, porque quando vendemos móveis vendemos emoções. É essa emoção que o cliente procura para a sua casa.”, reforça Alessandro Minotti, um dos netos do fundador, e natural seguidor do negócio familiar. Ao lado do gémeo Alessio, e ainda de Susanna e Leonardo, posicionam-se na linha frente dos desafios de um milénio marcado pelo digital e pelo multiculturalismo. Ao todo, dos EUA à Ásia, são agora 56 em todo o mundo, com esta primeira inauguração em Portugal.
Num mundo em veloz transformação, o que fica quando a poeira assenta mantém o seu peso. “Por vezes os clientes chegam-nos com uma página de revista com um anúncio Minotti e dizem que querem isto, “quero este feeling”. Queremos que seja algo que os nosso filhos possam herdar, que perdure, que seja intemporal. Sabem que estão a comprar algo que vai durar.”, define Susanna. Num emblema que no começo dos anos 90 contava com 60 empregados e 5 milhões de euros (hoje falamos de 350 pessoas e 240 milhões), “é importante perceber as tendências, mas manter a identidade”, sublinha Renato, garantindo que o fator de sucesso e internacionalização assenta no “certificado de garantia de qualidade do produto, de dez anos”. Um ingrediente que é combinado com o styling, o design, e restantes variáveis. “É essa visão 360º que se traduz no resultado final. Todas as pontas do mercado devem estar juntas.“, remata Alessandro.
Colaborações e a ponte com a arte portuguesa
Se no novo espaço é possível descobrir coleções assinadas por Rodolfo Dordoni, a este leque juntam-se designers internacionais que têm colaborado com o Studio Minotti, casos do brasileiro Marcio Kogan, Studio Nendo e das duplas Inoda+Sveje e GamFratesi, que também passaram por Lisboa. O traço do par italo-dinamarquês manifesta-se por exemplo na coleção Raphael, com a sua leveza e sofisticação — três variantes de sofá, dois tipos de poltronas, duas poltronas de jantar e uma banqueta para os pés que podem ser vistas na penthouse do edifício. Num projeto de carácter temporário, o último piso foi decorado integralmente com mobiliário Minotti. “Claro que somos um showroom mas, por exemplo, a intervenção que fizemos no último andar é uma oportunidade única para mostrar esse projeto de casa. Se um cliente estiver a pensar investir numa casa em Lisboa, consegue perceber como seria a casa Minotti.”, reforça Alessandro.
“Há imensos apartamentos nas grande capitais com esta tendência neoclássica. Raphael é o habitat perfeito para estas peças. É um exemplo de como uma coleção pode ir dando pequenos passos. Há mercado para esta tipologia de mercado, para além das grande villas que vão surgindo na Europa.”, acrescenta o pai. “A escolha de Marcio Kogan também é importante neste contexto de Lisboa, por exemplo, que tem uma relação forte com o Brasil. O mood das lojas é o mesmo mas é preciso perceber a mentalidade local, cada elemento deve estar no lugar certo. É como uma equipa de futebol que quer vencer a Champions League.”.
De regresso ao rés-do-chão, espaço ainda para apreciar as três peças de arte nacionais expostas no espaço. “Para a Minotti era importante que houvesse alguma coisa portuguesa na loja, daí essa integração. Estamos numa cidade cada vez mais cosmopolita, a Minotti também está em todo o lado, e achámos que era interessante incluir peças como uma tapeçaria de Portalegre, que é única, e que eles adoraram. É uma obra do Eduardo Nery, super impactante”, explica Clemente, sem esquecer as duas pinturas a óleo sobre vidro acrílico de autoria de Gil Heitor Cortesão, representado pela Galeria Pedro Cera, que “parece que foram feitos de propósito para aquele lugar”.
A Minotti Lisboa abriu portas no dia 28 de junho, no número 15 do Largo de São Carlos. Abre de segunda a sexta-feira, entre as 10 e as 19 horas e sábado entre as 10 e as 18 horas.