O Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) aprovou esta sexta-feira o fim do mandato da sua missão no Mali (Minusma) a partir de 30 de junho e a sua retirada do país após 10 anos de serviço. O chefe da diplomacia russa renovou “apoio inabalável” ao Mali numa conversa telefónica com o seu homólogo maliano.
Serguei Lavrov “reiterou o apoio inabalável do seu país ao Mali, tanto na esfera técnico-militar como em termos de assistência humanitária e económica”, lê-se num comunicado publicado nas redes sociais, pouco depois de o Conselho de Segurança da ONU ter adotado a resolução que põe fim à missão Minusma.
A resolução — redigida pela França — foi adotada de forma unânime com 15 votos favoráveis de todos os Estados-membros que integram o Conselho de Segurança, após o Governo do Mali ter pedido explicitamente a retirada “imediata” da missão do país, que conta atualmente com mais de 17 mil membros e é uma das maiores do mundo.
Além de encerrar o mandato da Missão Multidimensional Integrada de Estabilização das Nações Unidas no Mali (Minusma) a partir de 30 de junho, a resolução agora aprovada determina que a missão inicie imediatamente em 1 de julho a transferência das suas tarefas e a retirada ordenada e segura do seu pessoal, cessando as suas operações, com o objetivo de concluir este processo até 31 de dezembro deste ano.
O prazo de retirada de seis meses é o dobro do que o Governo do Mali pedia, mas é menor do que o prazo que os especialistas da ONU consideram realista para conseguir tirar do país todos os militares envolvidos.
A resolução aprovada inclui a necessidade do Governo do Mali garantir a segurança dos membros da Minusma neste período de transição, bem como a sua liberdade de circulação, apesar de nos últimos dias terem sido reportadas situações de assédio contra alguns dos militares, segundo denunciaram os Estados Unidos da América.
Ainda segundo a resolução, os bens – viaturas, armas pesadas, entre outros – devem ser repatriados de forma ordenada pela Minusma e o Governo do Mali deve colaborar no seu desmantelamento, evitando que caiam nas mãos de outros atores que operam no país.
Após a votação, vários membros do Conselho reconheceram os sérios riscos que a partida da Minusma representa para a segurança e a situação humanitária no Mali e na região mais ampla da África Ocidental e do Sahel.
“Embora lamentemos profundamente a decisão do Governo de transição de abandonar a Missão e os danos que isso trará ao povo do Mali, votamos a favor desta resolução, pois estamos satisfeitos com o plano de retirada que este Conselho acaba de adotar”, disse a delegação norte-americana.
“A comunidade internacional continuará a monitorizar a situação dos direitos humanos no Mali e a denunciar violações e abusos. Embora esta resolução marque o fim da Minusma, o compromisso dos Estados Unidos com o povo do Mali permanece forte e duradouro”, acrescentou.
Em 16 de junho, o Governo do Mali apanhou os membros do Conselho de surpresa ao exigir a retirada “imediata” da missão de paz no país, numa reunião em que se debatia precisamente a renovação do seu mandato. Na ocasião, o ministro das Relações Exteriores do Mali, Abdoulaye Diop, avaliou que a Minusma “se tornou parte do problema” do país e que tem despertado “grande desconfiança” entre a população e o Governo.
Citado no comunicado, Abdoulaye Diop, ministro dos Negócios Estrangeiros do Mali, garantiu que o seu Governo “adotará todas as medidas necessárias para assegurar uma retirada ordenada e segura dos ‘capacetes azuis’ o mais rapidamente possível”.
De acordo com o ministro, a situação no país em 2023 é pior do que há 10 anos — quando a Minusma foi implementada – o que demonstra o “fracasso” da missão. Desde o ano passado, no entanto, as autoridades malianas vêm restringindo a liberdade de movimento da missão e opondo-se aos seus relatórios sobre direitos humanos.
As relações tensas entre o Governo e a missão, juntamente com o destacamento de mercenários russos do grupo Wagner no Mali desde o final de 2021, já haviam feito com que vários países contribuintes de tropas se retirassem da Minusma.
A Minusma foi uma das missões mais mortíferas implantadas em todo o mundo nesta década, com 304 vítimas mortais em ações violentas, quase todas em ataques de grupos jihadistas presentes em várias regiões do Mali. O Governo que pede a retirada da Minusma é uma junta militar que derrubou o executivo anterior de Ibrahim Boubacar Keita, que havia solicitado a implantação do Minusma.
A junta militar de Bamaco chegou ao poder com um discurso marcadamente antiocidental, que se materializou primeiro na retirada abrupta das forças francesas, e depois na exigência da saída da Minusma. Ao mesmo tempo, levou ao destacamento no país da força de mercenários russos Wagner, cujas atividades no Mali são realizadas com pouca transparência.