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Conhecido pelas campanhas brutais em cenários de guerra, o grupo paramilitar Wagner, liderado pelo empresário russo Yevgeny Prigozhin, opera uma extensa rede de propaganda. Das campanhas de recrutamento nas prisões russas, aos anúncios insólitos divulgados nas redes sociais para reforçar as suas fileiras, a influência da companhia militar privada passa também pela indústria cinematográfica.

São vários os filmes que centram os seus holofotes nas ações do grupo Wagner, que tem uma rede de operações desde o Médio Oriente ao continente Africano e contribuiu também para a “operação militar especial” russa na Ucrânia – assim designa Moscovo a guera que começou a 24 de fevereiro de 2022. A mais recente obra cinematográfica, “Best in Hell”, tem mesmo como inspiração os combates no território ucraniano.

O filme de ação, dirigido por Andrey Batov, estreou no ano passado e glorifica as ações dos combatentes do grupo Wagner. É uma das mais recentes produções da Aurum, uma empresa controlada pelo próprio Prigozhin. A obra acompanha, durante praticamente duas horas, os combates entre as forças “brancas” (“whites”), que representam o grupo Wagner, e as tropas “amarelas” (“yellows”), identificadas apenas como as forças inimigas.

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A ação arranca numa estação de comboios abandonada, com o comandante russo Polygon a marcar no relógio uma contagem decrescente, enquanto as suas tropas avançam ao ataque. “Nós temos um contrato, um contrato com a empresa, um contrato com a pátria, com a nossa consciência, e vamos cumpri-lo até ao fim. Vivos ou mortos. Sabemos que vamos para o inferno, mas seremos os melhores no inferno”, pode ouvir-se, segundo a tradução.

https://www.youtube.com/watch?v=qmDiCVyg8U4

O filme é assinado pelo próprio Prigozhin e também por Aleksey Nagin, combatente do grupo Wagner que se revela no início do filme ter morrido em setembro de 2022, “a proteger os interesses da Rússia”.

Os filmes produzidos pela empresa parecem destinar-se, em parte, a uma audiência nos países em que o grupo Wagner opera, mas também aos expectadores nacionais, uma vez que alguns chegaram a ser emitidos na televisão estatal russa. “É possível que o objetivo de Prigozhin seja chegar aos russos com um gosto por ação, armamento e com poucas opções de trabalho — pessoas que podem estar tentadas a lutar por dinheiro e que podem já ver conteúdos suficientes das redes sociais pró-Wagner a ponto de seguir o universo de memes e referências internas”, resume o jornalista do New York Times Amos Barshad.

Este universo vive principalmente de redes sociais como o Telegram e do Youtube e é inclusivamente conhecido com o nome “Wagnerverse”. “Um modelo com muito dinheiro e mais inspiração em Hollywood”, explica Marlene Laruelle, que dirige o Institute for European, Russian and Eurasian Studies na George Washington University, ao Hollywood Reporter.

O “Best in Hell” é apenas a mais recente criação que acompanha os feitos dos Wagner. Em 2021 era lançado o “Granit”, filme que acompanha a história de um combatente do grupo paramilitar mobilizado para Moçambique para ajudar a treinar as as Forças Armadas do país, que combatem o Estado Islâmico. A história é inspirada por alguns factos verídicos, nomeadamente a personagem principal, com o nome de código Granit. Segundo o New York Times, trata-se de um membro do grupo Wagner que morreu durante operações em Moçambique, em 2019.

No mesmo ano em que “Granit” chegava ao grande ecrã, os fãs do “Wagnerverse” recebiam a chegada do “Tourist”. O filme segue combatentes do grupo Wagner mobilizados para a República Centro-Africana — esta era uma das principais fontes de rendimento da companhia paramilitar antes do início da guerra na Ucrânia. A estreia aconteceu na capital, Bangui, e encheu um estádio com mais de 10.000 pessoas.