A viúva do primeiro Presidente de Angola, Maria Eugénia Neto, disse esta quarta-feira que a Ordem Amílcar Cabral, a maior distinção do Estado cabo-verdiano, une os povos de Cabo Verde, Angola e Portugal.
Saúdo e agradeço o gesto do Presidente da República, José Maria Neves, em atribuir esta distinção à companheira de Agostinho Neto, pois demonstrou ser um líder com visão ampla da história e uma perspetiva clara do futuro. Esta distinção une os povos de Cabo Verde, Angola e Portugal”, disse Eugénia Neto, após ser condecorada, na cidade da Praia, com a Ordem Amílcar Cabral, segundo grau, no dia em que o país celebra 48 anos da independência de Portugal, em 1975.
Numa altura em que notou vive-se “tempos surpreendentes”, com tentativas de “reescrever a verdade da história“, a antiga primeira-dama de Angola disse, por isso, que é relevante revisitar a sua vida, “com toda a brevidade” que a cerimónia impõe.
“A minha vida foi, em resumo, uma luta pelo amor e pela pátria. Lutei por amor a Agostinho Neto, aos meus filhos e a Angola. Lutei para a libertar homens, mulheres e crianças“, recordou, enfatizando que enfrentou o racismo em Portugal e em África, mas nunca desistiu nem abandonou a luta.
“Era a branca com ‘alma de negro’, como dizia a PIDE-DGS [a polícia política do regime do Estado Novo. Era a branca casada com o líder guerrilheiro e fui a primeira-dama da República de Angola”, referiu Maria Eugénia Neto, partilhando a distinção coma geração de Agostinho Neto, Amílcar Cabral, Marcelino dos Santos, Samora Machel.
E entrego-a aos meus filhos, netos e bisnetos, para que continuem a lutar pela felicidade e bem-estar da humanidade“, terminou a também escritora angolana.
Por sua vez, o Presidente da República de Cabo Verde, José Maria Neves, destacou o facto de Agostinho e Amílcar Cabral terem assumido a responsabilidade de fundar simbólica e politicamente as Nações angolanas e cabo-verdianas.
“Mas neste momento de companheirismo tivemos uma mão que soube sempre afagar o ânimo dessa luta de liberação de Angola e de Cabo Verde, e a Eugénia Neto esteve sempre na linha da frente desse combate, com muita afetividade, com muita entrega, para que as sementes lançadas à terra pudessem germinar e pudéssemos, em 1975, ascender a independência de Cabo Verde e de Angola“, descreveu Neves.
O chefe de Estado cabo-verdiano agradeceu o contributo de Maria Eugénia Neto pela luta de libertação de Angola, de Cabo Verde e do continente africano, mas também pelo “combate permanente” com a escrita de crónicas, poemas, livros que contam às crianças e às gerações futuras a “enorme gesta” de libertação.
Na mesma ocasião, foi distinguido igualmente com a Ordem de Amical Cabral, primeiro grau, o antigo primeiro-ministro da Tanzânia e antigo secretário-geral da Organização da União Africana (OUA), Salim Ahmed Salim, que foi recebida pelo filho.
“Recebam estas medalhas como símbolo da nossa amizade, da nossa gratidão, mas sobretudo do nosso empenhamento em continuar a manter acesso o facho desta luta que é permanente, por uma África muito melhor”, endereçou Neves, que condecorou ainda diversas organizações e personalidades ligadas à defesa do ambiente.