Cerca de três centenas de pessoas manifestaram-se este sábado nas Caldas da Rainha (distrito de Leiria) contra a construção do novo hospital do Oeste no Bombarral, numa ação promovida pela Câmara, que recusa aceitar o encerramento do hospital local.
“Caldas da Rainha está de luto e os edifícios da autarquia e de vários estabelecimentos comerciais mostram isso mesmo”, afirmou o presidente do município, Vitor Marques (independente), no arranque do protesto, junto à estátua da Rainha D. Leonor, este sábado tapada com um pano preto.
Cerca de 300 pessoas concentraram-se junto à estátua da fundadora da cidade, vestindo t-shirts pretas com a frase “Eu luto pelo hospital”.
Na base do protesto esteve o anúncio feito pelo ministro da Saúde, Manuel Pizarro, em 27 de junho, de que o novo hospital do Oeste (denominado pela sigla NHO) vai ser construído na Quinta do Falcão, no Bombarral, também no distrito de Leiria.
O autarca, que já tinha tornado público que não aceitaria esta decisão, reiterou este sábado não se rever “na forma como ela foi feita, não tendo em conta critérios que têm que ser tidos em conta para uma decisão desta natureza”.
“Um investimento de 250 milhões de euros e que perdurará no tempo muito acima dos 30 anos não pode ser feito de ânimo leve”, afirmou Vitor Marques, considerando que a escolha do Bombarral teve apenas em conta um estudo encomendado pela OesteCim — Comunidade Intermunicipal do Oeste (e que concluía ser esta a melhor localização) e “desconsiderou em absoluto” um parecer técnico entregue pelas autarquias das Caldas da Rainha e de Óbidos defendendo que a escolha do local deveria considerar outros critérios.
O presidente da autarquia recusa aceitar “a delapidação de um território que teve na sua essência a saúde […] para se criar um novo território”. O concelho, assegurou, vai promover novas ações de luta para reivindicar que o NHO seja construído na confluência dos concelhos das Caldas da Rainha e de Óbidos.
A Câmara solicitou à equipa da Universidade de Aveiro, que elaborou o parecer técnico, “uma avaliação do relatório” do grupo de trabalho formado pelo Ministério da Saúde e que serviu de base à decisão do ministro.
Essa avaliação vai ser entregue ao Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, ao primeiro-ministro, António Costa, à ministra da Coesão Territorial, Ana Abrunhosa e à presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Territorial (CCDR) Centro, Isabel Damasceno.
No entendimento da autarquia, a localização no Bombarral “contraria o Plano Regional de Ordenamento do Território (PROT)”, que estipula que um hospital de grande dimensão só pode ser construído em centros urbanos regionais – no caso do Oeste, estes centros são Caldas da Rainha e Torres Vedras (no distrito de Lisboa).
O município marcou também para a próxima terça-feira (dia 11) uma Assembleia Municipal extraordinária aberta à participação da população e que tem como ponto único o NHO.
A sessão vai ser realizada no Centro Cultural e de Congressos, num auditório com 640 lugares.
Em novembro de 2022 a OesteCim entregou ao um estudo encomendado à Universidade Nova de Lisboa para ajudar o Governo a decidir a localização, documento que apontava o Bombarral como a localização ideal.
Em março, as câmaras das Caldas da Rainha e de Óbidos entregaram ao ministro um parecer técnico a contestar os critérios utilizados no estudo, a defender que fossem tidos em conta outros critérios e que a localização do novo hospital deveria ser na confluência daqueles dois concelhos.
O NHO substituirá o atual Centro Hospitalar do Oeste, que integra os hospitais das Caldas da Rainha e de Peniche, no distrito de Leiria, e de Torres Vedras, no distrito de Lisboa.
Estas unidades têm uma área de influência constituída por estes concelhos e os de Óbidos, Bombarral (ambos no distrito de Leiria), Cadaval e Lourinhã (no distrito de Lisboa) e de parte dos concelhos de Alcobaça (Leiria) e de Mafra (Lisboa), abrangendo 298.390 habitantes.