Passaram 10 dias desde que o canal de YouTube da Volkswagen Brasil publicou o vídeo inserido numa campanha de celebração dos 70 anos da marca no país. Esta sexta-feira, 14 de julho, já tinha acumulado 23 milhões de visualizações e mais de 6 mil comentários com reações emotivas, entre o arrepio e o choro. Nele, a cantora brasileira Maria Rita aparece ao volante de uma carrinha “pão de forma” elétrica a interpretar o tema eternizado pela mãe, “Como Nossos Pais”. Um pouco mais à frente, Elis Regina junta-se à filha ao volante de uma versão antiga do mesmo modelo da marca alemã.
Este “ressuscitar” através da Inteligência Artificial (IA) foi conseguido ao fim de mais de 2.400 horas de trabalho e recorrendo a uma dupla feminina cuja cara foi alterada para se parecer com Elis Regina através de um software de reconhecimento facial. A artista brasileira morreu em 1982, quando Maria Rita tinha 4 anos. Deixou mais dois filhos: João Marcelo Bôscoli, na altura com 11 anos, e Pedro Mariano, com 9.
O anúncio gerou reações emotivas e nostálgicas entre muitos brasileiros. Poucas horas após ser lançado, Rosângela Lula da Silva, mulher do Presidente do Brasil, escreveu no Twitter: “São 7 da manhã aqui na Argentina e eu a chorar.”
A par de todos os elogios, o anúncio está a levantar um debate ético sobre os limites da IA. O Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar) instaurou um processo para investigar o anúncio produzido pela agência AlmapBBDO, onde questionam “se é ético ou não o uso da Inteligência Artificial para trazer uma pessoa falecida de volta à vida”.
Sobre a polémica, a Volkswagen defendeu a campanha. Citada pelo The Guardian, declarou que “a ideia era usar a IA para criar um momento único que reuniu uma das maiores cantoras na história da música brasileira à sua filha, Maria Rita, um ícone contemporâneo”.
Elis Regina, 40 anos depois: as canções que continuam a enganar a despedida
João Marcello Bôscoli, o filho mais velho da artista, disse que prefere deixar o grande impacto que a tecnologia vai ter sobre a raça humana para os especialistas e considerou o resultado “um triunfo”. “Porque é que esta campanha comoveu as pessoas?”, questionou. “Porque as pôs cara a cara com Elis. E praticamente qualquer pessoa que ouça Elis Regina fica comovida, mesmo que seja através de uma máscara de IA. É este o poder da grande música: emoções, sentimentos e ideias.”
“Elis Regina é um dos últimos tesouros desconhecidos do século XX que o mundo ainda pode descobrir e está a apenas um clique de distância”, acrescentou em declarações ao jornal britânico, mostrando-se esperançoso de que a polémica possa levar amantes da música a nível internacional a descobrirem a artista. Elis Regina teria hoje 78 anos.