O ministro dos Negócios Estrangeiros da China, Qin Gang, não é visto em público há mais de três semanas e já perdeu compromissos diplomáticos importantes, o que gerou dúvidas crescentes sobre o seu paradeiro.
Qin, um dos rostos da nova geração de diplomatas da China conhecidos como “lobos guerreiros”, foi visto em público pela última vez no dia 25 de junho, quando reuniu na capital chinesa com autoridades do Sri Lanka, Rússia e Vietname.
Desde então, não houve qualquer referência a Qin Gang, que serviu anteriormente como embaixador em Washington, pela diplomacia ou imprensa oficial chinesa.
Na semana passada, Pequim disse que a ausência de Qin na reunião entre os ministros dos países do Sudeste Asiático, em Jacarta, se deveu a motivos de saúde. Esta justificação está ausente da transcrição oficial da conferência de imprensa regular com a porta-voz da diplomacia chinesa, colocada posteriormente no portal do ministério dos Negócios Estrangeiros. O organismo exclui frequentemente conteúdo que considera sensível das transcrições da conferência diária.
A ausência prolongada contrasta com a repentina ascensão em dezembro passado, quando o seu tom firme e agressivo foi premiado com o cargo de ministro, dando início a meses de atividade frenética, na sequência da reabertura da China, após quase três anos de política zero Covid.
Qin substituiu Wang Yi — que é agora o diretor do Gabinete da Comissão para as Relações Externas do Partido Comunista da China — com uma agenda internacional marcada pela guerra na Ucrânia ou a crescente rivalidade entre Pequim e Washington.
A sua última aparição pública de grande visibilidade aconteceu em junho passado, quando se reuniu em Pequim com o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, numa altura em que ambas as partes tentavam recuperar a comunicação, visando evitar que a competição resulte num conflito aberto.
Qin deveria ter reunido com o chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell, este mês, em Pequim, mas adiou a reunião sem fornecer explicação.
Na segunda-feira, a porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeiros da China, Mao Ning, disse que não tinha “nenhuma informação” sobre quando Qin poderia retornar ao cargo. As “atividades diplomáticas da China continuam com normalidade”, apontou.
Na China, o desaparecimento de altos funcionários, celebridades e empresários é comum. Frequentemente, as autoridades anunciam mais tarde que a pessoa desaparecida está a ser investigada ou foi punida.
Qin também não participou nas reuniões realizadas em Pequim com a secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen, nem recebeu na capital chinesa o enviado especial da Casa Branca para as alterações climáticas, John Kerry.
Uma pesquisa pelo nome de Qin Gang na rede social Weibo, equivalente ao Twitter na China, retorna resultados de há mais de um mês.
O jornalista e analista Phil Cunningham disse ainda que cinco frases sobre Qin foram cortadas sem aviso prévio de um artigo de opinião que ele escreveu acerca das relações China — Estados Unidos para o jornal South China Morning Post (SCMP), com sede em Hong Kong.
Phil comentou no artigo que foi um momento infeliz para um ex-embaixador em Washington desaparecer da cena política e questionou se se deveu a doença ou “desfavorecimento político”.
Qin é considerado uma estrela em ascensão no aparelho do Partido Comunista Chinês. Ele é visto como próximo do Presidente chinês, Xi Jinping, com quem trabalhou como chefe de protocolo, antes de servir como vice-ministro dos Negócios Estrangeiros, entre 2018 e 2021.