A artista Carminho, que atuou na noite de quarta-feira no Festival Músicas do Mundo, em Sines, diz que “o fado está vivo” e não precisa da etiqueta de moderno.
Não acredito em fado moderno, acredito no fado e o fado é vivo”, disse aos jornalistas, no final do concerto que encheu o recinto no castelo de Sines.
Reconhecendo que “existe fado contemporâneo”, a artista realça que isso é resultado de “uma evolução do fado que se fazia ontem e, por sua vez, do que se fazia há 50 anos”.
“Acho que é sempre um caminho vivo, que não tem um portal a partir do qual tu passas e passa a ser um novo fado ou um fado moderno”, distingue.
“Há certas características de músicas que se forem demasiadamente alteradas deixam de o ser como género musical. Podem ser muito pertinentes e podem ter influências em vários géneros, mas deixam de ser o género musical em si“, sustenta.
“Acredito que o fado está vivo e, portanto, é”, frisa.
Carminho – que se estreou no Festival Músicas do Mundo nesta 23.ª edição – considera que o fado tem “um lugar muito importante” nas músicas do mundo, categoria com a qual não concorda “assim tanto”, começa por dizer.
Mas concede: “De alguma maneira, o que descreve é qual é a canção tradicional de cada lugar, como é que nós também nos distinguimos e nos definimos como povo, de uma certa maneira, através da música”.
E isso “acaba por ser muito bonito, perceber que cada país se vai definir de uma forma também bastante distinta”, admite.
E vai ainda mais longe: “Acho que é importante, porque acaba por contrariar um bocado este fluxo da globalidade, que traz coisas boas, mas, ao mesmo tempo, funde tudo e torna tudo muito parecido. E do ponto de vista, por exemplo, da identidade, eu acho que desapega. Acabamos por ter poucas raízes quando tudo é uma fusão”, assinala.
Três anos depois de lançar o último disco, “Portuguesa”, a artista diz que “é sempre uma grande emoção” mostrar esse trabalho em público, que “tem sido recebido fantasticamente”.
É um disco que tem muita tradição“, resume, considerando que “é essa tradição que atrai também, muitas vezes, as pessoas ao fado, para perceber que povo é este, que país é este”.
Carminho reconhece que a vida lhe tem dado “alegrias inesperadas” e que “foi um momento muito feliz” tocar com a banda Coldplay, aquando da sua digressão recente (e enchente) em Portugal.
Sobre o futuro, diz apenas: “Eu deixei de desejar, de ter esse atrevimento, para não estragar o fluxo dos planetas.”