A estratégia do PSOE mantém-se. Pedro Sánchez e os membros do governo espanhol foram de férias, como tinham dito que fariam, deixando o caminho livre para Alberto Núñez Feijóo (PP) negociar com quem quiser. Dessa forma, acreditam fontes do PSOE citadas pela imprensa espanhola, ao tentar garantir a investidura do líder do partido que venceu as eleições — cenário cada vez mais distante por falta de apoios e de maioria absoluta no parlamento —, Feijóo vai parecer uma figura solitária, abrindo espaço a Sánchez para fechar acordos, mantendo-se no poder. Esses acordos passam necessariamente pelos movimentos independentistas, catalães e bascos, que nesta sexta-feira pareciam mais dispostos a reduzir as exigências, pelo menos em Euskadi.

A bola foi atirada para o campo de Pedro Sánchez, de quem os bascos esperam uma proposta “formal e solene” para garantirem a sua investidura como Presidente do governo de Espanha. No entanto, do lado dos socialistas não há ninguém disponível para receber o arremesso. A palavra de ordem no PSOE é “calma”. Antes de 17 de agosto, dia em que são constituídos o Senado e o Congresso, Sánchez não negoceia com ninguém.

Em Espanha, só há uma certeza: o próximo Governo (de direita ou de esquerda) vai nascer de um acordo entre partidos muito diferentes

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Enquanto o atual primeiro-ministro espanhol descansa em Lanzarote, no palácio de Mareta, um presente do rei Hussein I da Jordânia a Juan Carlos I em 1989, os partidos independentistas do País Basco e da Catalunha reúnem-se, escolhem equipas para negociar e fazem exigências ao PSOE.

A mais extremada foi a do Junts per la Catalunya, partido formado pelo exilado Carles Puigdemont, hoje eurodeputado: exigia a amnistia de todos os envolvidos no referendo pela independência da Catalunha (2017) e a convocação de uma nova consulta popular, desta vez com efeitos vinculativos. Uma proposta a que vários membros do Governo já responderam com um “nem pensar”.

Da amnistia a um referendo. As exigências independentistas a Sánchez

Catalunha. Junts e ERC juntam-se para acertar agulhas

No nordeste de Espanha, Junts e ERC (Esquerda Republicana da Catalunha) começaram a conversar. A ideia, segundo escreve o El País, é terem mais força enquanto bloco, conseguindo que os 14 deputados que têm no total (sete para cada partido) os ajude a caminhar no caminho da autonomia, conseguindo ganhos para a Catalunha em troca de apoio a Sánchez

Uma coisa já têm em comum: deve ser o líder do PSOE o primeiro a avançar para as negociações, mostrando o que tem para oferecer em troca do apoio na investidura. No entanto, fontes internas, também apontam para que as conversas com Sánchez só comecem no final de agosto.

A ERC já organizou a sua equipa negocial e, nesta sexta-feira, reúne o mais alto órgão de gestão do partido entre congressos para decidir qual a melhor estratégia a seguir. Para já, sabe-se que irá atuar em duas frentes: uma equipa para negociar com o Junts, outra para negociar com o PSOE.

O líder do PSC, os socialistas da Catalunha, deixou um recado aos independentistas: encontrem um caminho para que as negociações “cheguem a bom porto” e Sánchez seja indigitado. Salvador Illa, líder da oposição catalã, aconselhou os dois partidos a arrancarem com as conversações com “discrição, serenidade e tranquilidade”, durante uma entrevista à agência Efe. “A Catalunha disse claramente ‘não’ a ​​um governo do PP e do Vox, a um governo de direita, e disse ‘sim’ à convivência, ao diálogo, a um governo liderado por Pedro Sánchez.”

Euskadi. Bascos dizem que “cabe a Sánchez fazer uma jogada”

“Enquanto os outros ficam a trabalhar, Sánchez vai de férias.” O presidente do PNV, Partido Nacional Basco, não perdeu a oportunidade de criticar o Presidente de Governo por ter escolhido ir para Lanzarote, em vez de ficar em Madrid a garantir que o PP não consegue formar um executivo.

Em declarações à Rádio Euskadi, Andoni Ortuzar disse, na quinta-feira, estar à espera de uma proposta “formal e solene” de Pedro Sánchez aos “soberanistas bascos e catalães”, cabendo ao PSOE dar início às negociações. Os nacionalistas bascos apoiaram a investidura de Sánchez em 2019 e participaram em vários acordos durante a atual legislatura.

Secretária-geral do PP nega “polémica” sobre liderança de Feijóo. Há “unidade inquestionável”

Agora, com os seus cinco deputados eleitos (mais os seis do EH Bildu e os 14 dos partidos catalães), o partido independentistas sabe que tem maior poder para negociar. Ortuzar fui duro nas críticas e acusou Sánchez de estar a adiar as negociações para que se chegue a um cenário de “ou ele ou o caos, ou ele ou o bloqueio, ou ele ou a repetição eleitoral”.

Em contrapartida, Ortuzar chamou a si o feito de ter destruído o sonho de Feijóo de ser investido. “Fomos nós que demos cabo das hipóteses de Feijóo ir à investidura direta.”

Apesar de ser o partido separatista radical, o EH Bildu tem-se mostrado mais moderado nas negociações, mantendo uma postura discreta. Herdeiro do Batasuna (braço político da ETA), o Bildu teve nas suas listas antigos militantes do grupo armado, sete deles condenados a penas de prisão por assassinato. O que é certo, como seria de esperar, é que o Bildu nunca irá facilitar a investidura de Feijóo, como deixou claro o líder do partido, Arnaldo Otegi.