Os incêndios florestais que estão a destruir largas áreas de território no estado norte-americano do Havai, em particular a ilha de Maui, e obrigaram a evacuar várias regiões, já provocaram pelo menos 67 mortos. O fogo em Lahaina continuava, sexta-feira, ativo.
O governador Josh Green acredita que o número de vítimas mortais vai continuar a aumentar e que reconstruir a ilha poderá levar vários anos e custar mais de mil milhões de dólares.
Este é o mais recente balanço feito nesta sexta-feira à noite. O número de vítimas mortais ultrapassa assim, oficialmente, o de 1960, quando um tsunami matou 61 pessoas.
Este será provavelmente o “maior desaste natural” na história do Havai, disse o governador do Estado. “O que vimos foi catastrófico. A extensão da destruição de Lahaina [cidade histórica e turística] é chocante. Parece que uma bomba arrasou tudo”, referiu Josh Green, citado pelo The Guardian.
O Presidente norte-americano declarou o estado de emergência para o território e ordenou “ajuda federal” para as áreas afetadas. Segundo a CNN, esta assistência pode incluir alojamento temporário, reconstrução de casas, empréstimos e outros programas para ajudar as famílias.
De acordo com um comunicado emitido pela Casa Branca, Joe Biden falou na quinta-feira com o governador do Havai sobre os incêndios. Biden “expressou as suas profundas condolências pelas vidas perdidas e a vasta destruição de terra e propriedade”.
Lahaina, que em tempos foi a capital do Reino do Havai (estabelecido entre 1795 e 1810), ficou reduzida a cinzas. “É o maior desastre que já vi. Toda a Lahaina está em cinzas. É como um apocalipse”, disse Mason Jarvi, residente nesta zona de Maui, que conseguiu fugir da área, à Reuters. Mais de mil edifícios ficaram danificados na cidade, de acordo com as autoridades locais.
Wildfires, pushed by winds from Hurricane Dora, raced through parts of Hawaii, burning down businesses in Lahaina, Maui, injuring several people, forcing evacuations and leading some to flee to the relative safety of the ocean, where they were rescued by the Coast Guard. pic.twitter.com/SKZibg1J09
— The Associated Press (@AP) August 9, 2023
No X, antigo Twitter, um passageiro a bordo de um avião captou um vídeo que mostra a dimensão dos incêndios em Lahaina.
Passenger captures devastating scenes from the wildfires in Lahaina, Hawaii. pic.twitter.com/7C2XqexNE0
— Breaking Aviation News & Videos (@aviationbrk) August 10, 2023
A igreja de Waiola, a primeira igreja cristã na ilha de Maui que tinha celebrado 200 anos de existência há apenas três meses, foi completamente destruída pelos fogos. Esta era a igreja da família real do Havai quando Lahaina era a capital do reino, e muitos membros da realeza foram enterrados num cemitério próximo do local.
Os fogos também danificaram uma árvore banyan com 150 anos, que foi importada da Índia em 1873 e que se ergue imponentemente no centro da cidade. Tem cerca de 18 metros de altura e é a maior da sua espécie em todo o território dos Estados Unidos da América.
As autoridades já retiraram mais de 11 mil turistas de Maui devido aos incêndios e pelo menos mais duas mil pessoas devem abandonar a ilha até sexta-feira. O espaço aéreo foi restrito pela Federal Aviation Administration (FAA) para impedir que os aviões sobrevoassem a ilha.
Em conferência de imprensa, na quarta-feira, o autarca da ilha, Richard Bissen Jr, já admitia a hipótese de ainda existirem vários desaparecidos e que as forças no terreno continuam as operações de busca e resgaste. Isto quando se sabe que, para escapar aos fogos, algumas pessoas tentaram fugir para o oceano, de onde foram resgatadas por membros da Guarda Costeira dos Estados Unidos.
Segundo o Serviço Nacional de Meteorologia dos EUA (NWS, na sigla em inglês), citado pela Associated Press, o furacão Dora, de categoria 4 e que está passar a uma distância segura de cerca de 800 quilómetros, é parcialmente responsável pelos ventos acima de 60 quilómetros por hora. Também a National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA) avançou, através da rede social X (anteriormente Twitter), que está a acompanhar a evolução dos pontos quentes dos incêndios e do fumo emitido.
Several #wildfires are burning across parts of Hawaii this week, fueled in part by strong winds from Hurricane Dora passing to the south. @NOAA's GOESWest was tracking the hotspots and smoke from the fires as they burned across parts of Maui and the Big Island yesterday evening.… pic.twitter.com/WzApS2ddTi
— NOAA Satellites (@NOAASatellites) August 9, 2023
A governadora em funções do Havai, Sylvia Luke, descreveu os incêndios como “sem precedentes” e admitiu que o estado está a ter severas dificuldades a combater as chamas. “Quando lidamos com um furacão e os consequentes desastres que se seguem, lidamos tipicamente com chuvas intensas, com inundações. O facto de termos incêndios florestais em múltiplas áreas como resultado indireto de um furacão é algo que nunca aconteceu”, afirmou, citada pela CNN. Na ausência do governador Josh Green, que está a viajar, Sylvia Luke já emitiu uma declaração de emergência na ilha.
À cadeia de televisão norte-americana, o meteorologista Robert Bohlin explicou que os ventos que estão a prejudicar o combate ao incêndio “não provêm diretamente do furacão Dora”. “São antes ventos de gradiente entre um forte centro de alta pressão a norte do Arquipélago do Hawaii e um forte centro de baixa pressão, o furacão Dora”, apontou.
Em comunicado, a Guarda Costeira revelou que teve de resgatar 12 pessoas perto de Lahaina, depois de terem fugido para o oceano para escapar ao fogo e ao fumo intenso em algumas partes da ilha. “Os indivíduos já estão em áreas seguras”, garantem.
A histórica zona de Lahaina tem sido uma das mais afetadas na ilha. Segundo as autoridades, os incêndios já destruíram partes da Front Street, uma das suas áreas turísticas mais populares. Através da rede social X, a população foi avisada que todas as estradas em Lahaina estão cortadas e que apenas é permitida a passagem de equipas de emergência.
ROAD CLOSURE UPDATE: All roads in Lahaina Town are closed. Emergency personnel only https://t.co/cWZuDjmzfP pic.twitter.com/MVD5uh9KjO
— County of Maui (@CountyofMaui) August 9, 2023
Mahina Martin, porta-voz do condado, afirmou que são incêndios “sem precedentes”. Têm sido dias “muito desafiantes” na ilha, admitiu, acrescentando que cerca de 13 mil pessoas estão neste momento sem eletricidade. Além disso, segundo a CNN, os fogos cortaram os serviços de comunicações móveis, o que acaba por afetar também os serviços de emergência.
À CBS News, um comerciante local afirmou que edifícios em ambos os lados da rua foram “engolidos” pelas chamas. “A certo ponto não se via carros dos bombeiros, eles estavam sem mãos a medir”. “Maiu não pode lidar com isto … Muitas pessoas acabam de perder os seus negócios. Isto vai ser devastador”, afirmou.
Um vídeo captado por um drone e partilhado com a CNN por um apresentador de rádio local mostra a força das chamas durante esta tarde.
North Kihei wildfire footage. Evacuation orders in place for Kihei east of Pi’ilani Highway. Prayers for everyone’s safety
VC: Clint Hansen #Wildfire #Maui #Kihei #Hawaii #Dora #HurricaneDora #Heatwave #Fire #Climate #Weather #Firefighters #Viral #ForestFire pic.twitter.com/G8QaekmoTh
— Earth42morrow (@Earth42morrow) August 9, 2023
Um oficial da Casa Branca, que já está em contacto com as autoridades locais, garantiu que o Presidente Joe Biden está a acompanhar a evolução da situação. Não adiantou, para já, se o líder norte-americano está a considerar enviar apoios para auxiliar as forças locais.
Governo garante que não há portugueses afetados pelos incêndios
O Ministério dos Negócios Estrangeiros anunciou esta quinta-feira que, até ao momento, não há registo de cidadãos portugueses afetados pelos incêndios florestais no Havai.
Numa resposta enviada ao Observador, pode ler-se que a tutela “está a acompanhar a situação através do Consulado-Geral de Portugal em São Francisco”. O Ministério dos Negócios Estrangeiros está também “em contacto com os líderes da comunidade portuguesa no Hawai”.
“Até ao momento, não há cidadãos nacionais afetados”, resumiu a tutela de João Gomes Cravinho.