Um grande inverno, que durou cerca de quatro mil anos, foi responsável pelo desaparecimento dos primeiros habitantes do sudeste da Europa, há 1,12 milhões de anos.

Um novo estudo, divulgado esta quinta-feira na revista Science, sugere que, ao contrário do que se considerava, não houve uma ocupação em permanência na Europa durante o período do Pleistoceno. O clima era também mais irregular do que se pensava, com estações quentes e húmidas intercaladas com períodos de frio moderado.

“A descoberta de um evento de arrefecimento glacial extremo há cerca de 1,1 milhões de anos desafia a ideia de uma ocupação humana precoce e contínua na Europa. É um daqueles momentos na ciência em que se descobre o inesperado e isso é emocionante”, disse Chronis Tzedakis, um dos autores do estudo, que envolveu também cientistas espanhóis, de acordo com o El Español.

“Para nossa surpresa, esse arrefecimento é comparável a alguns eventos mais severos das eras glaciares recentes”, acrescentou outro cientista, Vasiliki Margari, também do Centro de Investigação de Alterações Climáticas do Departamento de Geografia da University College London.

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As amostras de sedimentos, colhidos na costa portuguesa, mostram que a temperatura da água do mar desceu 6.º na zona de Lisboa, provocando mudanças drásticas na vegetação que dificultariam a sobrevivência dos caçadores-recoletores na zona.

“Um arrefecimento desta magnitude terá colocado os pequenos grupos de caçadores-recoletores [na região] sob um stress considerável, especialmente porque os primeiros [destes hominídeos] podiam não ter condições para se adaptar, como gordura corporal suficiente, meios para fazer fogo roupas ou abrigos eficazes”, afirmou Nick Ashton, do Departamento de Pré-História do British Museum, também citado pelo El Español.

Além de sugerirem que a população europeia pode ter desaparecido no Pleistoceno, as conclusões dos investigações indicam que é muito provável que “a Europa possa ter sido colonizada novamente há 900 mil anos”, indicou Chris Stringer, do Museu de História Natural, em Londres, por hominídeos mais resilientes e capazes, que sofreram mudanças evolutivas ou que desenvolveram ferramentas que lhes permitiram sobreviver num clima mais frio.