O Chelsea transformou-se no último ano numa espécie de Football Manager real, com poucos ou nenhuns limites de dinheiro com essa novidade dos contratos a muito longo prazo que conseguem (ou conseguiam) ir à volta daquilo que são as limitações do fair-play financeiro mas também com poucos ou nenhuns resultados práticos. O que faltou sempre? Política desportiva. Se dúvidas ainda existissem, juntar no mesmo plantel um sem número de estrelas não faz uma equipa e muito menos garante por si só o sucesso. Por isso, este verão, ou não andasse o clube nesta espécie de realidade virtual mas a sério, tudo voltou a mudar. O treinador, os jogadores, o contexto competitivo desta vez sem provas europeias. E ainda com muito por contratar…

200 milhões em vendas, saídas a custo zero e muitos negociáveis: como o Chelsea está a arrumar a casa depois da época de terror

O grande volume de saídas, num total de mais de 250 milhões de euros de receitas que podem ainda subir, foi talvez a principal surpresa nesta nova era de Pochettino. Sabia-se que alguém teria de ser vendido, não se pensava que tantos seriam vendidos. Havertz rumou ao Arsenal, Mason Mount foi para o United, Kovacic seguiu para o City e o êxodo prosseguiu com N’Golo Kanté (Al Ittihad), Koulibaly (Al Hilal), Mendy (Al-Ahli), Pulisic, Loftus-Cheek (ambos para o AC Milan), Aubameyang (Marselha) e Azpilicueta (Atl. Madrid). Uma revolução completa que foi acontecendo ao mesmo tempo em que os diretores entravam numa versão mais Moneyball de ataque ao mercado com nomes não tão conhecidos mas com números de relevo.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Também aqui, a sorte não esteve com o Chelsea: Nkunku, avançado do RB Leipzig que seria a grande figura de proa desta nova era, sofreu uma lesão grave e vai estar afastado durante alguns meses. Robert Sánchez, Axel Disasi, Lesley Ugochukwu ou Nicolas Jackson são algumas das caras novas, sendo que as potenciais melhorias viriam mais do campo de treino do que propriamente dos reforços. Agora, começava a Premier League em Stamford Bridge e logo num clássico do futebol inglês. Se fora de campo os blues lutam com o Liverpool pelo equatoriano Moisés Caicedo, agora o foco estava na hipótese de abrir a época a ganhar.

Também os reds se apresentam numa viragem de ciclo mas neste caso mais ponderada, antecipada e quase inevitável. Fabinho, Firmino e Jordan Henderson seguiram também para o novo El Dorado das Arábias, Naby Keita (Werder Bremen) e James Milner (Brighton) saíram a custo zero e ainda houve a cedência de Fábio Carvalho ao RB Leipzig. Entradas? Para já, apenas duas: Dominik Szoboszlai, húngaro que era um dos destaques do RB Leipzig, e Alexis Mac Allister, campeão mundial argentino que jogava no Brighton. Jürgen Klopp ainda espera mais caras novas mas por ora apostava no que tinha, um plantel mais novo, com mais irreverência e que em muitos casos teve lesões duradouras que marcaram a última época.

No final, ficou claro que o Liverpool precisa de mais soluções para o meio-campo, sobretudo jogadores de equilíbrio que possam segurar a equipa sem bola, e que o Chelsea precisa de tempo para conseguir moldar um conjunto que tem alguns princípios mas está longe do que pode render. E as boas notícias chegaram de jogadores com passagem por Portugal: com Luis Díaz bem fisicamente, os reds ganham um jogador que desequilibra e marca; com Enzo Fernández na posição e no contexto certos, os blues sobem a pique.

O encontro começou a um ritmo alucinante e com o Liverpool, em posse, a mostrar que é uma real ameaça em Inglaterra e na Europa (quando não tem bola sente problemas mas já lá vamos). Porquê? É uma equipa totalmente projetada para o ataque, com dois laterais ofensivos como Alexander-Arnold e Robertson, com Mac Allister e Szoboszlai num meio-campo que se projeta sempre para a frente, com quatro unidades mais atacantes como Salah, Gakpo, Luis Díaz e Diogo Jota. Foi assim que, até à meia hora, Salah teve uma bola na trave numa saída rápida quando o Chelsea se expôs um pouco mais (12′), Luis Díaz inaugurou o marcador numa jogada de antologia que passou pelos pés de Alisson, Van Dijk e Szoboszlai até ao passe a “rasgar” de Mac Allister para Salah que fez a assistência para o flanco contrário (18′) e Salah aumentou após um grande passe de Alexander-Arnold num lance que acabaria anulado por fora de jogo (29′). Depois, tudo mudou.

A subida das linhas do Chelsea e a melhor reação à perda tiveram o condão de tirar bola ao Liverpool e, com isso, colocar mais expostas as dificuldades que uma equipa tão ofensiva pode sentir sem posse. O empate chegou na sequência de uma insistência após bola parada, com Chilwell a assistir Disasi após um cruzamento de Enzo Fernández que não foi afastado da área e o central ex-Mónaco a marcar na estreia pelos blues (37′), mas houve de seguida outro golo anulado a Chilwell depois de uma assistência de génio de Enzo (39′) e mais uma grande oportunidade perdida por Nicolas Jackson na pequena área após assistência de Reece James (44′). Quando o intervalo chegou, já eram os londrinos que estavam por cima do encontro.

Jürgen Klopp necessitava do descanso para fazer algumas correções na equipa e foi o Liverpool que voltou melhor dos balneários com mais ataques e um remate muito perigoso de Van Dijk a rasar a trave mas mais um lance de antologia de Enzo a colocar Chilwell na carreira de tiro apesar da receção ligeiramente para fora, com Alisson a travar o remate para canto, voltou a equilibrar os acontecimentos (55′) numa partida que podia cair para qualquer um dos lados e voltou a ter Jackson na cara do golo a perder o duelo contra Alisson (71′), sendo que nos derradeiros minutos Darwin Núñez também podia ter feito melhor após erro de Roberto Sánchez. No entanto, o nulo iria mesmo imperar até ao final, numa espécie de mal menor para ambos.