Depois de a missão russa Luna-25 se ter despenhado na Lua no passado sábado, os olhos estavam postos na missão indiana Chandrayaan-3 que, esta quarta-feira, pelas 13h34 (hora de Lisboa) fez o que nunca ninguém tinha feito: pousar no polo sul da Lua.

Luna-25, a primeira missão russa à Lua em quase 50 anos, colidiu com a superfície antes de alunar

“O sucesso pertence a toda a humanidade”, afirmou o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, que assistiu ao momento a partir da África do Sul. “Todos podemos ter aspirações para a Lua e mais além”, disse, dirigindo-se especificamente aos países do Sul Global. Para o primeiro-ministro da Índia, a missão à Lua é centrada no homem, tal como a abordagem que faz de outros temas, daí defender que esta missão não é só uma vitória para a Índia, mas também para todo o mundo.

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A agência espacial russa, Roscosmos, felicitou os colegas da Organização Indiana de Investigação Espacial (ISRO) no Telegram: “A Roscosmos congratula os colegas indianos pela alunagem bem sucedida da nave Chandrayaan-3. A exploração da Lua é importante para toda a humanidade; no futuro, poderá tornar-se uma plataforma para a exploração do espaço profundo”.

Pode voltar a ver a alunagem da Chandrayaan-3 no canal de YouTube da Organização Indiana de Investigação Espacial (ISRO).

Nos últimos dias a sonda indiana encontrava-se numa órbita elíptica em torno da Lua, a cerca de 30 quilómetros de altitude. Pelas 13h14 (hora de Lisboa), tal como planeado, o veículo autónomo ligou os motores e iniciou a descida até à superfície lunar. São esses mesmos propulsores que ajudam a travar a sonda para a pretendida alunagem suave.

Durante a descida, que não foi controlada pela equipa em Terra, a velocidade da sonda teve de descer de 1.680 metros por segundo para pouco mais de três metros por segundo e, depois, praticamente zero a uma altitude de 800 metros para permitir uma descida vertical e uma alunagem suave.

A 150 metros de altitude iniciou-se uma das fases mais críticas da alunagem. Os sensores da sonda avaliaram a superfície lunar para escolher o melhor sítio onde pousar com sucesso. A Organização Indiana de Investigação Espacial (ISRO) conseguiu assim ser a primeira agência espacial a pousar no polo sul da Lua.

Antes da Índia, apenas três países tinham conseguido fazer as suas naves pousar na Lua: Estados Unidos, Rússia e China; mas nenhuma delas o tinha feito no polo sul da Lua, onde existem tantas crateras que a manobra se torna particularmente difícil.

O administrador da NASA, Bill Nelson, felicitou a ISRO por ter tornado a Índia o quarto país a pousar na Lua e destacou que estava satisfeito por a agência espacial norte-americana ter sido parceira neste projeto.

Mesmo a Índia, que envia agora a sua terceira missão à Lua, já tinha visto frustrada a primeira tentativa de alunar, quando Chandrayaan-2 acabou por se despenhar no nosso satélite natural em 2019. Mas estudar o que aconteceu permitiu melhorar a missão atual. “Na Chandrayaan-2, certas variações inesperadas no desempenho do módulo de aterragem resultaram em velocidades mais altas na alunagem do que a capacidade projetada para as pernas do módulo, resultando num pouso brusco.”

O principal objetivo desta terceira missão era, precisamente, pousar suavemente na Lua. Melhorias nos equipamentos e software na missão Chandrayaan-3 tornaram-na capaz de lidar autonomamente com estas variações. As operações tinham sistemas de recurso, que pudessem funcionar em caso de emergência, e antes do lançamento foram realizados inúmeras simulações e testes adicionais, refere a página da ISRO.

Os outros dois objetivos desta missão incluem o funcionamento do rover e a realização de experiências científicas em solo lunar. O interesse no polo sul da Lua é a provável existência de água que poderá ser útil em futuras missões tripuladas: fornecendo hidrogénio como combustível e oxigénio para os astronautas.

A missão Chandrayaan-3 foi lançada a 14 de julho, quase um mês antes da missão russa (lançada a 11 de agosto), e faz parte desta nova corrida à Lua, na qual Estados Unidos e China (de forma independente) tentarão colocar astronautas na superfície, nomeadamente no polo sul.

O dia 23 de agosto foi escolhido porque é o dia em que nasce o sol no local de aterragem. A missão terminará duas semanas depois com o pôr do sol no horizonte lunar. A missão, composta por uma sonda fixa e um rover alimentados a energia solar, terá assim duas semanas para recolher informação com os seus equipamentos térmicos, sísmicos e de amostragem de rochas.

Quais os equipamentos a bordo da sonda Vikram e rover Pragyan?

A missão Chandrayaan-3 é composta por sete instrumentos científicos, quatro na sonda Vikram, dois no rover Pragyan e um no módulo de propulsão. Além disso, a sonda está também equipada com câmaras fotográficas que, em conjunto com um altímetro de radiofrequência, auxiliaram na alunagem.

A sonda Vikram tem:

  • um sismógrafo, para registar vibrações no solo, seja por sismos ou queda de meteoritos;
  • uma sonda Langmuir, que mede temperatura, densidade e potencial elétricos do plasma (iões e eletrões) à superfície;
  • uma sonda térmica, para registar a temperatura e condutividade térmica até a profundidade de 10 centímetros;
  • um retrorrefletor, que funcionará como estação geodésica de longo prazo e marcador de localização na superfície lunar. O retrorrefletor LRA (“Laser Retroreflector Array”) resultou de uma parceria com os Estados Unidos e pertence à NASA (agência espacial norte-americana).

O rover Pragyan tem um espetrómetro de raios X e outro baseado em laser, que servem para estudar a composição do solo e rochas lunares, nomeadamente identificando elementos como sódio, magnésio, alumínio, sílica, potássio, cálcio, titânio e ferro, noticiou o jornal Indian Express.

O módulo de propulsão, que fez com que a sonda saísse da órbita da Lua e auxiliou na travagem antes da alunagem, tem um espetropolarímetro. Este equipamento, resulta da combinação entre um espetroscópio e um polariscópio, e servirá para ler as assinaturas espectrais da Terra a partir da órbita lunar. Observar a Terra a partir de outro planeta, dará pistas sobre a informação que se pode recolher de um exoplaneta observado à distância.

Fotografias registadas durante a descida até à Lua.

Várias estações, incluindo de organizações internacionais, apoiaram a navegação da missão indiana e a comunicação com a base de comando na Terra: estações da ISRO localizadas no Brunei, Indonésia e ilhas Maurícias; da Agência Espacial Europeia (ESA) localizadas na Guiana Francesa, Reino Unido e Austrália; da NASA localizada nos Estados Unidos, Espanha e Austrália; e da agência espacial sueca (SSC) localizadas no Chile e nos Estados Unidos.

Curiosidades da missão Chandrayaan-3

  • Chandrayaan significa “nave lunar” em Hindi;
  • A sonda que vai pousar na Lua chama-se Vikram, em homenagem ao fundador da ISRO, Vikram Sarabhai;
  • Assim que pousar, o rover vai sair de dentro da barriga da sonda;
  • rover de 26 quilos chama-se Pragyan, significando “sabedoria” em sânscrito;
  • A missão Chandrayaan-3 custo menos de metade da produção do filme Interstellar;
  • Narendra Modi, primeiro-ministro da Índia, assistiu em videochamada a partir da África do Sul, onde se encontra na cimeira dos BRICS.

Última atualização às 18h10