Algumas centenas de pessoas manifestaram-se esta terça-feira em frente à residência do primeiro-ministro britânico, em Londres, em protesto contra o alargamento da área onde os veículos mais poluentes estão sujeitos a uma taxa diária.
Em vigor desde 2019 no centro da capital britânica, a Zona de Emissões Ultra Baixas (ULEZ, na sigla em inglês) foi ampliada em 2021 e a partir de esta terça-feira passou a incluir toda a área metropolitana de Londres.
Os condutores de automóveis a gasolina maioritariamente fabricados antes de 2006 (norma Euro 4) e de veículos a gasóleo fabricados antes de 2015 (norma Euro 6) devem pagar 12,50 libras (14,80 euros) por dia para entrar na ULEZ, sob pena de serem multados em 180 libras.
Os camiões e autocarros devem pagar 100 libras (116 euros) por dia, mas os táxis estão isentos.
A medida pretende melhorar a qualidade do ar, mas tem sido criticada, nomeadamente, devido ao impacto numa minoria de residentes com dificuldades económicas, bem como conta com a oposição do Governo britânico, liderado pelos conservadores.
No protesto de esta terça-feira, os manifestantes apontaram críticas ao presidente da Câmara Municipal de Londres, Sadiq Khan, empunhando cartazes onde se lia “Khan é um mentiroso”, “Khan tem de sair” ou “Está na altura de o ditador sair”.
“Não tenho dinheiro para comprar um carro novo. Mas preciso do meu carro duas vezes por semana para trabalhar”, explicou à agência AFP Robin Dewey, 64 anos, residente em Bromley (sul de Londres), que trabalha a tempo parcial numa padaria.
Muitos manifestantes usavam coletes amarelos, lembrando o movimento social que agitou a França a partir do final de 2018.
O protesto mobilizou figuras controversas, como o eurocético Nigel Farage e o negacionista Piers Corbyn, irmão do antigo líder do Partido Trabalhista Jeremy Corbyn.
A impopularidade da medida foi identificada como a razão pela qual o Partido Trabalhista, a principal força da oposição britânica e atualmente favorito nas sondagens, não ganhou aos conservadores a eleição parlamentar parcial em julho na circunscrição de Uxbridge, no oeste de Londres.
Na altura, o líder do Labour (Partido Trabalhista), Keir Starmer, pediu a Sadiq Khan, que pertence ao mesmo partido, que “refletisse” sobre a sua decisão de prolongar a ULEZ, procurando distanciar-se da medida.
O ministro dos Transportes, Mark Harper, afirmou esta terça-feira que suspenderia a implementação da zona de baixas emissões se tivesse poder para o fazer.
“É um esquema para cobrar mais dinheiro aos automobilistas em dificuldades por fazerem viagens essenciais e não terá praticamente nenhum impacto apreciável na qualidade do ar”, alegou o ministro conservador, em declarações à estação Sky News.
Apesar das críticas, das ações judiciais e da vandalização de centenas de câmaras ULEZ nos últimos meses, Sadiq Khan mantém-se determinado.
A ULEZ “provou o seu valor no centro de Londres, mas eu acredito que o ar puro é um direito, não um privilégio“, afirmou esta terça-feira, argumentando que a medida projeto vai permitir que “mais cinco milhões de londrinos” respirem “ar mais limpo”.
De acordo com um relatório de 2022, a poluição do ar foi a causa de 1.700 internamentos hospitalares em Londres entre 2017 e 2019.
Ativistas ambientais aplaudiram a medida, incluindo a organização Greenpeace, que disse que a cidade de Londres “pode orgulhar-se hoje de estar entre os líderes mundiais para proteger a saúde pública”.