A grande capacidade de Pep Guardiola como treinador é a forma como se consegue reinventar, a si, aos seus jogadores e à sua equipa, com o passar dos anos. Foi assim que assumiu uma hegemonia no futebol inglês com a conquista de cinco Campeonatos nos últimos seis anos, foi assim que foi ganhando mais uma série de competições internas entre Taça de Inglaterra, Taça da Liga e Supertaça, foi assim que quebrou a maldição do clube na Champions. No entanto, o espanhol tem esse condão de olhar sempre para aquilo que foi feito de bom e de mau para ser melhor na época seguinte. Dois exemplos: não “prendeu” os jogadores que queriam um novo desafio e contratou depois para colmatar saídas; não caiu no erro das últimas temporadas e não facilitou um milímetro no início oficial, somando por vitórias os quatro encontros realizados na Premier League. E esse era o maior problema para os principais adversários na luta pelo título.

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Arsenal e Manchester United encontravam-se no Emirates numa semana marcada pelo sorteio dos grupos da Liga dos Campeões que assinalou o regresso de ambas à principal prova europeia sabendo que chegavam à quarta jornada já com pontos perdidos que funcionavam como aviso para as melhorias que teriam de fazer. Em relação aos gunners, que empataram em casa com o Fulham de Marco Silva com um golo de João Palhinha a acabar, havia essa necessidade de “trancar” vantagens e ter outra eficácia em termos ofensivos; no que toca aos red devils, que perderam na deslocação a Londres frente ao Tottenham, sobrava a certeza de que a equipa teria de jogar muito mais para dar o passo em frente depois do terceiro lugar em 2022/23.

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“Sabemos a história que existe entre os dois clubes e os jogos que tivemos no passado. Eles são um exemplo muito bom de como ser uma equipa competitiva e será uma grande batalha. Jogo para medir forças pelo título? Não sei, acho que ainda estamos numa fase muito precoce da temporada. Agora, sabendo que se vai seguir uma paragem para compromissos das seleções, é mais um motivo para querermos ganhar”, tinha comentado Mikel Arteta no lançamento de uma partida que teve sempre muitos golos nos últimos duelos. “Sabemos que é um dos maiores jogos da Premier League e estamos ansiosos por mais esta luta porque têm sido sempre encontros interessantes, intensos e entre equipas que têm um futebol ofensivo com propósitos certos”, salientara Erik ten Hag, que no final do mercado ainda recebeu Amrabat e Reguilón.

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Depois de resultados menos conseguidos durante o período de jejum que ainda agora se prolonga a nível de títulos no Campeonato, o Arsenal mudara em termos históricos os desfechos das partidas e era preciso recuar até 2017 para se encontrar um triunfo do Manchester United no terreno do rival, sendo que entre as quatro vitórias e um empate dos gunners o último sucesso tinha acontecido com um golo de Nketiah nos descontos de um duelo eletrizante. Agora, foi mais arroz. Literalmente: depois de um golo anulado a Garnacho aos 88′ por fora de jogo, Declan Rice, a maior transferência de sempre de um jogador inglês, foi ao segundo poste num canto para rematar com força e decidir o encontro no sexto minuto de descontos antes do 3-1 de Gabriel Jesus que mostrou bem a total desorientação que atravessava nessa fase o Manchester United.

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A jogar em casa e num momento melhor do que o adversário, o Arsenal assumiu de forma quase natural o comando da partida com algumas aproximações de perigo à área de um Manchester United com dificuldades em sair com bola e que de vez em quando tentava jogar mais direto sem ter uma referência mais fixa no eixo do ataque pela mobilidade de Martial. Ainda assim, e com o passar dos minutos, o nulo mantinha-se sem que nenhum dos guarda-redes fosse obrigado a grandes intervenções perante uma toada de ritmo mais lento que os red devils tentavam impor e uma constante agitação pelas alas promovida por Martinelli e Saka. Depois, tudo mudou. Com um golo contra a corrente, com mais um golo que quebrou a viragem da corrente.

Na sequência de uma recuperação no corredor central de Eriksen, o dinamarquês teve depois um passo de antologia para a velocidade de Marcus Rashford que ganhou na frente dos defesas, fez a diagonal para dentro e rematou sem hipóteses para Ramsdale num tiro que bateu ainda no poste antes de entrar (27′). Logo de seguida, numa grande combinação coletiva entre jogo por dentro e por fora a passar pelos pés de vários jogadores, Martinelli cruzou rasteiro atrasado para a entrada da área e Ödegaard atirou sem hipóteses para Onana fazendo de imediato o empate sem que o Manchester United tivesse sequer hipóteses de aproveitar a vantagem (28′). O intervalo chegava com o 1-1 e com a certeza de que num instante tudo podia mudar.

Se dúvidas ainda existissem, os dez minutos iniciais do segundo tempo reforçaram isso mesmo com a equipa da casa a instalar-se no meio-campo contrário mesmo sem criar ocasiões de perigo e os visitantes a irem lá abaixo uma vez com Bruno Fernandes a assistir Martial para o remate que Ramsdale defendeu antes de a recarga de Rashford acabar por sair para canto (55′). Martinelli, numa fase em que começavam a surgir as primeiras substituições, teve também uma tentativa que saiu próxima do poste da baliza de Onana (66′) mas o empate subsistia com Harry Maguire a render o lesionado Lisandro Martínez para uma irónica salva de palmas dos adeptos do Arsenal. O Manchester United ainda teria uma derradeira chance, com Garnacho a sair do banco para marcar antes de ver o lance invalidado por fora de jogo (88′), mas o golpe de teatro estava guardado para o final, com Declan Rice a aproveitar um canto para fazer o 2-1 aos 90+6′ antes de Gabriel Jesus sentenciar de vez o encontro aos 90+10′ após ser lançado na profundidade com todo o espaço.