A Associação SOS Voz Amiga vai disponibilizar atendimento contínuo no sábado e no domingo para assinalar o Dia Mundial de Prevenção do Suicídio, anunciou esta quinta-feira à Lusa o presidente do serviço, que atende cerca de 9.000 chamadas por ano.

A SOS Voz Amiga é constituída por voluntários que diariamente atendem, entre as 15h30 e as 00h30, quem liga para esta linha (213 544 545; 912 802 669; 963 524 660) destinada a ajudar pessoas que se encontram em situações de sofrimento causadas pela solidão, ansiedade, depressão ou risco de suicídio.

Para assinalar o Dia Mundial da Prevenção do Suicídio (10 de setembro), a associação vai promover “uma jornada contínua de 48 horas” como tem feito em anos anteriores, disse o presidente da SOS Voz Amiga, Francisco Paulino, contando que poder prestar ajuda 24 horas por dia a quem precisa é “um sonho antigo” da associação, que não é possível concretizar porque “vive da generosidade das pessoas”.

“Temos os nossos compromissos profissionais e também familiares e daí só conseguirmos dar esta ajuda diária entre as 15h30 e 00h30”, lamentou Francisco Paulino, adiantando que, neste momento, o serviço conta com 56 voluntários e vai iniciar uma nova formação na segunda quinzena de setembro em que entrarão mais 18 voluntários.

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Apesar de o número de voluntários ser maior do que em outros anos, o responsável disse que a resposta à população “não pode ser muito maior” por se tratar de um serviço “muito desgastante a nível emocional”.

Os voluntários fazem um serviço por semana no máximo, porque precisam também de algum período de descanso para estabilizar as suas emoções, porque há chamadas muito pesadas”, disse, referindo que os voluntários se reúnem semanalmente com as técnicas de saúde mental da associação para “tentar amenizar algum desgaste, algum desconforto” decorrente das chamadas “mais complicadas”, que chegam a durar entre duas e três horas.

“Se um voluntário está duas ou três horas a atender, porque é necessário, não está disponível para mais ninguém. E nós não somos propriamente um ‘call center’, não temos os voluntários todos ao mesmo tempo porque é impossível. Portanto, nunca vamos conseguir muito mais e fazemos um esforço imenso”, comentou.

Relativamente ao número de chamadas atendidas, afirmou que nos “anos mais complicados” da Covid-19 (2020/2021) houve um aumento substancial de pedidos, que depois decresceram ligeiramente, tendo-se mantido na ordem das 9.000 chamadas.

Mas alguma coisa ficou ainda desse período [da covid-19]. Já estamos em 2023, um pouco distantes, mas o que notamos é que a ansiedade criada na maior parte das pessoas, tanto naqueles que já sofriam de problemas de saúde mental, como no resto da população, aumentou imenso e neste momento é uma das situações mais colocadas nas nossas linhas”, salientou.

O número de chamadas motivadas por depressão e doenças psíquicas mantém-se equivalente ao período antes da pandemia, disse Francisco Paulino, notando uma mudança no perfil dos utentes: agora há pessoas de todas as faixas etárias, enquanto antes eram maioritariamente mulheres com idades entre os 45 e os 55 anos.

Para Francisco Paulino, as linhas de apoio são “um complemento do Serviço Nacional de Saúde” que “não dá para as encomendas”, porque há poucos especialistas e psicólogos.

Se nós pensarmos que a primeira consulta leva cerca de um ano a ser marcada, que as pessoas que já estão a ser acompanhadas e que precisam de acompanhamento recorrente esperam três e quatro meses entre cada consulta, ou se quiserem ir a um privado a consulta ronda os 100 euros (…) a maior parte das pessoas não pode pagar. Então o que é que resta? Existimos nós”, salientou.

Contudo, acrescentou: “Atendendo à quantidade de pessoas que estão a necessitar de apoio, nós não damos necessariamente para as encomendas e sem uma ajuda oficial, nunca vamos conseguir”.

Sobre o Dia Mundial da Prevenção do Suicídio, afirmou que, “apesar do estigma que a palavra suicídio ainda envolve, é muito importante falar” sobre o tema.

Havia a ideia de que falar podia acelerar as coisas para quem tem ideação suicida, mas não. Falar é essencial, partilhar com alguém o problema que está a viver é essencial, porque nós costumamos dizer que um problema não compartilhado só tem tendência a aumentar, portanto é muito importante continuar a falar de saúde mental”, defendeu.

É preciso falar sobre o suicídio

Segundo a Organização Mundial de Saúde, todos os anos, mais de 700.000 pessoas põem termo à vida.