A ex-coordenadora do Bloco de Esquerda (BE), Catarina Martins, considerou este domingo que o estado do Serviço Nacional de Saúde (SNS) se deve a um “plano de esvaziamento” em curso, que tem levado utentes e profissionais para o setor privado.

Ao intervir num painel do Fórum Socialismo — a ‘rentrée’ política do BE, que decorreu entre sexta-feira e este domingo, em Viseu —, Catarina Martins criticou o Governo por não ter conseguido “levar a bom porto as negociações com os médicos”, que era o mais importante “para assegurar que o SNS tinha capacidade para funcionar”.

“O ministro Manuel Pizarro acaba de dizer que está muito surpreendido porque não conseguiu chegar a acordo com os médicos. Poderíamos dizer que Manuel Pizarro está surpreendido com a sua própria incompetência”, afirmou a antiga líder bloquista, perante uma sala de aulas a abarrotar.

No entanto, Catarina Martins disse temer que “seja bem pior” do que incompetência do ministro: “Há um plano, e o plano é esvaziar o Serviço Nacional de Saúde”.

Catarina Martins ironizou que “a grande proposta” de Manuel Pizarro foi um aumento salarial de 5% o que “vale zero, vale nada”.

No seu entender, o fecho de dez maternidades este verão, levando a que os partos fossem feitos no privado, é um exemplo do que está a ser feito para esvaziar o SNS.

“É o melhor negócio que os privados alguma vez tiveram. Não têm nenhuma responsabilidade. Se lá chegar alguém e der à luz, o Estado paga cinco mil euros. É um negócio milionário, o euromilhões dos privados que está a começar com uma força que nunca teve”, criticou.

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Para Catarina Martins, “o que o Governo está a fazer hoje é a esvaziar o SNS de profissionais”, mandando “os utentes para o privado com a desculpa de que não há profissionais no SNS”.

O BE defende que o caminho “não é mandar utentes para o privado, é ir buscar profissionais ao privado”.

Segundo Catarina Martins, não foi o fim das Parcerias Público-Privadas que levou à crise do SNS, apesar de para o Estado estas terem servido para “esconder a dívida pública”.

“[Os privados], com tudo o que aprenderam e com o dinheiro que foram recebendo por esta via, cresceram, e cresceram tanto que hoje têm uma ambição muito, muito, maior”, alertou.

E se o Partido Socialista (PS) pode dizer que “nunca houve tanto dinheiro para o SNS e nunca houve tantos profissionais no SNS”, Catarina Martins argumentou que “as duas coisas são verdade e, ao mesmo tempo, são mentira”.

“O aumento do orçamento corresponde a um aumento de transferências do SNS para o setor privado”, explicou, acrescentando que “às vezes pode-se gastar muito mais dinheiro, mas o SNS tem muito menos”.

Segundo Catarina Martins, também “há mais profissionais”, mas “há muitos que não trabalham a tempo inteiro no SNS” e, portanto, há “menos a ter disponibilidades para fazer as escalas”.

A ex-líder bloquista lembrou que “os privados estão já por todo o lado: a fazer cirurgias, partos, a colocar profissionais no SNS, a fazer os meios complementares de diagnóstico, estão a fazer quase tudo, mesmo quando lhes chamamos SNS”.

“E é por isso que a saúde está a encarecer e vai encarecer cada vez mais”, alertou, considerando que esta “pressão gigantesca que existe na saúde não tem paralelo em nenhuma área do Estado social”.