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A ministra da Presidência desdramatizou a manifestação à entrada para o Conselho de Ministros, nesta quinta-feira,em que foram detidas 16 pessoas e três identificadas pela participação, promovida por jovens pela ação climática, contrapondo que o seu governo assume o ambiente como uma causa prioritária.
“As manifestações de opiniões diversas fazem parte da democracia. Nada mais temos a assinalar”, respondeu Mariana Vieira da Silva em conferência de imprensa, no final do Conselho de Ministros.
Vinte estudantes do grupo Greve Climática Estudantil bloquearam na manhã desta quinta-feira todas as entradas do local onde vai decorrer o Conselho de Ministros, em Algés, no concelho de Oeiras. A Unidade Especial da PSP, que está presente no local, já deteve alguns dos manifestantes, que não mostraram resistência.
Beatriz Xavier, a porta-voz dos ativistas, declarou à agência Lusa que quer descobrir “em que esquadra estão” detidos os estudantes para fazer outra manifestação “à porta”.”Estão mais uma vez a reprimir-nos”, acrescentou.
Antes das detenções os estudantes usaram cola e tubos de ferro — tapando as mãos e os braços — e agarraram-se uns aos outros nas portas de acesso ao edifício das instalações do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), onde vai decorrer a reunião interministerial que estava agendada para as 9h30 e que sofreu um atraso. O primeiro-ministro acabou por chegar ao local por volta das 10h30 e o Conselho de Ministros já começou, entretanto.
“É inaceitável que os governos não coloquem nas reuniões a crise climática no centro da mesa de discussão. A humanidade registou os meses mais quentes de sempre e vai ser mais intenso. Já sabíamos disto quando começámos os primeiros protestos em 2019”, disse a porta-voz do coletivo. A porta-voz afirmou ainda que os estudantes “não queriam estar aqui”, mas precisam de se manifestar.
“Somos desprezados. Segundo o último relatório da ONU, estamos no limite. O ano 2023 é fulcral”, acrescentou. Na porta principal esteve colocado um cartaz que diz “último inverno de gás”, alertando para os perigos da descarbonização.
Além dos ativistas que se prenderam às grades e aos portões, outros elementos do grupo de estudantes também se mantiveram no exterior de forma pacífica. As autoridades da PSP bloquearam com veículos a Avenida Alfredo Magalhães Ramalho, que dá acesso à entrada principal das instalações em Algés.
Os jovens detidos, foram conduzidos, algemados, para os veículos policiais. Um deles decidiu não caminhar, tendo sido arrastado por dois polícias.
“O centro da atividade do Governo tem sido muito dedicado à ação climática. Esse foi um dos desafios estratégicos incluído no Programa do Governo logo em 2019 e, ao longo dos anos, temos tomado ações muito relevantes”, declarou, numa alusão à aprovação em Conselho de Ministros, no passado dia 30, do Plano Estratégico de Ação Climática.
De acordo com Mariana Vieira da Silva, esse plano pretende atualizar “de forma mais exigente as metas a que o país está comprometido”. “Não é à toa que a Comissão Europeia considera que Portugal é o país mais bem posicionado para o cumprimento dos objetivos [do Acordo] de Paris”, acrescentou.
Segundo os dados da PSP, foram detidos 16 jovens que bloquearam o acesso ao Conselho de Ministros por desobediência e identificou outros três por terem participado na ação de protesto.
A PSP sublinha que, durante o protesto, vários jovens bloquearam os portões de acesso às antigas instalações do Ministério do Mar e do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), acorrentando-se e colando-se aos portões e portas de acesso ao edifício.
Segundo o Cometlis, os manifestantes foram sensibilizados para se desacorrentarem e libertarem o acesso às instalações, mas não acataram as ordens dos polícias e, esgotados todos os procedimentos legais, foram detidos 16 ativistas por desobediência e identificados outros três por participarem na ação de protesto. A PSP indica que a reunião do Conselho de Ministros prevista para aquele local decorreu sem incidentes.
Segundo aquela força de segurança, os detidos vão ser notificados para comparecer no Tribunal da Comarca de Lisboa Oeste – Oeiras.
Os ativistas do movimento Greve Climática Estudantil, que tinham marcado para sexta-feira uma marcha pelo clima em Lisboa, anunciaram em comunicado que a iniciativa vai decorrer junto do Ministério Público de Oeiras, às 10h00, em solidariedade com as estudantes que foram detidas nesta quinta-feira e que terão de se apresentar na sexta-feira naquele local. A marcha estava marcada para a Cidade Universitária, em Lisboa.
No comunicado os jovens dizem que não haverá paz “até ao último inverno de gás” e lembram que tanto a ação desta sexta-feira como a de sexta-feira têm como revindicações o fim dos combustíveis fósseis até 2030, e a eletricidade 100% renovável e acessível até 2025.
No comunicado, a PSP indica ainda que vai ser aberto um processo de inquérito interno para esclarecer as circunstâncias em que decorreram os protestos, uma vez que o local é vigiado pela polícia.