O Grande Prémio de Singapura já não é o mesmo. A eliminação de quatro curvas lentas no circuito, para criar uma nova reta e acelerar a pista, tornou a prova asiática muito mais rápida, muito mais competitiva e muito mais interessante. Este domingo marcava a estreia do reformulado Grande Prémio de Singapura — ainda que as diferenças se tenham notado logo a partir de sexta-feira.

As dificuldades da Red Bull em Marina Bay foram notórias a partir do primeiro instante, com a Ferrari a dominar os treinos livres e Carlos Sainz a garantir a segunda pole-position consecutiva, seguido de George Russell e do colega Charles Leclerc. Max Verstappen e Sergio Pérez não foram além da Q2, com o neerlandês a partir de 11.º e o mexicano de 13.º, e o bicampeão mundial garantia que não tinha quaisquer perspetivas de chegar à liderança do Grande Prémio.

Carlos Sainz conquista pole position em Singapura em dia desastroso para a Red Bull

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“Sabia que iria ser difícil chegar à pole, mas não esperava isto. Na verdade, temos sentido dificuldades ao longo de todo o fim de semana. O terceiro treino não foi totalmente mau, mas depois testámos algumas coisas no carro para a qualificação que o tornaram impossível de guiar, com muito impacto com o solo nas zonas de travagem. Sempre que queria travar forte, as minhas rodas da frente perdiam todo o apoio. Foi uma experiência chocante, porque não tinha velocidade, não tinha tração. Muito difícil de guiar. Pódio? Não, de certeza que não. Ter um bom carro de corrida aqui é pouco importante, à imagem do Mónaco. Colocas tudo na qualificação e, mesmo com degradação dos pneus, é muito difícil ultrapassar. Será uma longa e dura tarde”, explicou Verstappen depois da qualificação.

Para além da pole-position de Sainz e das dificuldades da Red Bull, o sábado também ficou marcado pelo assustador acidente de Lance Stroll: o piloto da Aston Martin despistou-se na qualificação e viu o carro ficar quase destruído, falhando a corrida por se sentir “dorido” e deixando Fernando Alonso sem colega de equipa em Singapura.

Carlos Sainz arrancou muito bem e segurou a liderança da corrida, com Charles Leclerc a ultrapassar George Russell logo nas primeiras curvas, e Yuki Tsunoda abandonou logo na volta inicial devido a um furo no AlphaTauri. Mais atrás, Max Verstappen procurou começar uma obrigatória prova de recuperação e conquistou três lugares nas oito primeiras voltas — enquanto que, lá à frente, os dois Ferrari iam cavando uma distância de segurança para Russell.

A scuderia italiana começou a gerir a possível primeira vitória da temporada perto da volta 20, quando pediu a Leclerc que levantasse o pé e não ficasse a menos de três segundos da liderança de Sainz, não só para viabilizar a fuga do espanhol como para servir de tampão para os ataques do inglês da Mercedes. Pouco depois, porém, tudo ganhou novos contornos quando Logan Sargeant saiu largo numa curva e abriu a porta a um safety-car devido aos destroços que deixou em pista — os dois Ferrari pararam em simultâneo, Russell também trocou de pneus e os Red Bull mantiveram-se em pista, com Verstappen a saltar para 2.º e Leclerc e cair para 6.º, atrás de Sergio Pérez e Lando Norris.

No recomeço, Sainz segurou a liderança, Russell ultrapassou Verstappen para assumir a segunda posição e Lewis Hamilton conseguiu intrometer-se no grupo da frente, saltando para 5.º e deixando Leclerc a lutar com Pérez pelo 6.º lugar. O safety-car baralhou as contas da corrida, mas a fragilidade da Red Bull era notória e Verstappen pouco ou nada demorou a ser ultrapassado por Norris, Hamilton e também Leclerc, caindo para 6.º e deixando a ideia clara de que teria de existir uma enorme revolução para o neerlandês prolongar a série de 10 vitórias consecutivas.

A Red Bull chamou finalmente os dois carros à box na 40.ª volta, com Pérez a regressar à pista na última posição e Verstappen no 15.º lugar. Pouco depois, mais um golpe nas já parcas aspirações da marca austríaca: o Alpine de Esteban Ocon parou junto à entrada do pitlane, o safety-car virtual entrou em ação e a Mercedes aproveitou para mudar os pneus dos dois carros. Russell e Hamilton saíram seguidos, em 4.º e 5.º e atrás de Leclerc, com Norris a saltar para o segundo lugar.

Mesmo com o Ferrari a corresponder, Leclerc não conseguiu segurar a presença no pódio e acabou ultrapassado pelos dois Mercedes, confirmando a inteligência da estratégia que puxou Russell e Hamilton para a box na altura do safety-car virtual. No fim, Carlos Sainz não deixou fugir a vitória em Singapura e alcançou o segundo triunfo da carreira, tornando-se o primeiro piloto que não Max Verstappen ou Sergio Pérez a ganhar um Grande Prémio de Fórmula 1 em 2023 — ou seja, motivando a primeira corrida da temporada que a Red Bull não venceu.

Lando Norris igualou o melhor resultado de sempre, ao colocar o McLaren no segundo lugar, e George Russell ofereceu o pódio a Lewis Hamilton ao sair em frente numa das últimas curvas. Seguiram-se Charles Leclerc e Max Verstappen, que não foi além da 5.ª posição, com Sergio Pérez a ficar em 8.º. Mais do que isso, Singapura trouxe o que ainda não tinha acontecido este ano: a primeira corrida em que a vitória não foi totalmente entregue a Verstappen e à Red Bull, a primeira corrida em que o vencedor esteve em dúvida até ao último instante e a primeira corrida em que um único pormenor poderia ter mudado tudo.