Tudo parecia ter mudado em 72 horas. Ponto de partida: um comunicado a confirmar a renúncia por parte de 39 jogadoras espanholas entre quase todas as campeãs mundiais, as 12 dissidentes do período ainda antes do Mundial e mais seis pré-convocadas para a competição, uma lista de pedidos que não foram cumpridos a nível de mudanças na Real Federação Espanhola de Futebol mesmo após a saída de Luis Rubiales e Jorge Vilda, uma conferência e uma convocatória da nova selecionadora, Montse Tomé, que acabaram adiadas. Ponto de chegada, esta segunda-feira: uma lista de jogadoras que chamava todas as atletas que em termos técnicos eram consideradas as melhores, várias campeãs mundiais, nenhum nome riscado por recusar-se a jogar pela seleção. Afinal, não era bem assim. E a guerra aberta no futebol espanhola mantém-se.
“As jogadoras da seleção principal feminina de futebol querem manifestar, à luz da convocatória e posterior conferência de imprensa da nova selecionador nacional, Montse Tomé, que aquilo que ficou expresso no nosso comunicado de 15 de setembro de 2023 deixa claro e sem nenhuma opção para outras interpretações a nossa firme vontade de não ser convocadas por motivos justificados. Estas afirmações seguem plenamente vigentes. Durante os dias posteriores a esse comunicado, queremos colocar no conhecimento público que não foi transmitido nada diferente a ela nem a nenhum membro da RFEF, pelo que pedimos expressamente que a informação que seja transmitida seja verdadeira”, começa por dizer novo comunicado.
— Alexia Putellas (@alexiaputellas) September 18, 2023
“Como jogadoras profissionais de elite e pelo que aconteceu ao longo do dia, vamos estudar as possíveis consequências legais a que a RFEF nos está a expor ao colocar-nos numa lista para a qual tínhamos pedido para não ser convocadas por razões já explicadas em termos públicos e ainda com maior detalhe à RFEF e com isso tomar a melhor decisão para o nosso futuro e para a nossa saúde. Nesse sentido, é relevante aqui assinalar que a convocatória não foi feita a tempo e conforme está previsto no artigo 3.2 do Anexo I do Regulamento sobre o Estatuto e Transferência de Jogadores da FIFA, pelo que entendemos que a RFEF não se encontra em situação para exigir-nos que responda à mesma. Lamentamos mais uma vez que a nossa Federação nos ponha numa situação onde não desejámos estar”, acrescentou ainda a missiva.
???? Comunicado oficial | Compromiso RFEF
???? https://t.co/RytxxYB1em pic.twitter.com/RTCmbIL253
— RFEF (@rfef) September 18, 2023
Todo se sigue haciendo PEOR en la @rfef …
— Iker Casillas (@IkerCasillas) September 18, 2023
This is insane… how can you threaten your own player like this…????
call them to the national team, when they said they want clear changes before they come back!this is soooo disrespectful…
clearly they don’t care… and they dont allow them to make their own decision ????— Ana Crnogorcevic (@AnaCrnogorcevic) September 18, 2023
De recordar que, esta tarde, Montse Tomé tinha convocado várias jogadoras que faziam parte da lista de atletas que tinham confirmado a vontade de continuarem sem representar a seleção, incluindo não só 15 das campeãs mundiais mas também duas das jogadoras do grupo das 15 que tinha renunciado ainda antes da competição na Austrália e na Nova Zelândia, Mapi León e Patricia Guijarro. “Tenho plena confiança de que vou contar com estas jogadoras. O contador está a zero a partir de hoje, não há nada para trás. Estamos a passar por mudanças na estrutura da RFEF e tenho a máxima confiança para fazer bem as coisas, tenho a máxima confiança nas minhas jogadoras e no clima de segurança e confiança que temos. Trabalho com elas há cinco anos, ainda que noutro papel, e sempre senti que tinham confiança em mim”, referiu.
#SeAcabó pic.twitter.com/tV49CkOq4F
— Alexia Putellas (@alexiaputellas) September 15, 2023
Entre as várias exigências além das saídas de Luis Rubiales da liderança da RFEF e de Jorge Vilda de técnico estavam outros pontos como a reestruturação do organograma do futebol feminino dentro da RFEF, a reestruturação do gabinete da presidência e da secretaria geral da RFEF, a demissão do presidente da RFEF, a reestruturação da área de comunicação e marketing e a reestruturação da direção de integridade. Assim, existem agora dois cenários: ou existe um acordo que permita o regresso das jogadoras ou a dispensa das convocadas ou o grupo corre o risco de cometer uma “infração muito grave” à luz da Lei do Desporto de Espanha, com uma moldura entre uma multa entre 3.000 e 30.000 euros e uma suspensão da licença federativa entre dois a 15 anos (a graduação é feita pelo grau de culpa ou pela existência ou não de dolo).