Uma chamada, uma ideia, uma frase, uma demissão. Luis Rubiales foi tentando resistir a todas as pressões internas e internacionais para pedir a demissão, tendo inclusivamente feito aquele que foi o último “número” público de deixar que todos os jornais espanhóis escrevessem que iria apresentar a demissão na Assembleia Geral Extraordinária da Real Federação Espanhola de Futebol, subir ao palanque e dizer “Não me demito”. Uma, duas, três vezes: “Não, não me demito”. Três semanas depois, de forma inesperada quando já estava suspenso por 90 dias pela FIFA, voltou atrás numa entrevista a Piers Morgan. O que mudou? Uma chamada. De acordo com a Marca, Aleksander Ceferin, líder da UEFA, fez um ultimato que colocou em definitivo o dirigente espanhol num beco sem saída. “Ou te demites ou demito-te eu”, terá dito. E saiu mesmo.
Desde que começou a polémica com o beijo de Rubiales a Jenni Hermoso após a conquista do Campeonato do Mundo feminino pela Espanha que a UEFA foi um dos órgãos mais prudentes a nível de reações. Ainda assim, e no final de agosto, o presidente que tutela o futebol europeu falou o que podia sobre o caso numa entrevista ao L’Équipe. “O que fez foi inapropriado, todos sabemos. Espero que saiba que foi inapropriado. Isso é o suficiente para dizer neste momento porque o Comité de Disciplina é que irá decidir sobre o que se passou. Sou advogado e um dos vice-presidentes da FIFA, qualquer comentário mais que faça pode soar como uma pressão. Só posso dizer que me deixou triste um feito como aquele que foi alcançado com a vitória da seleção espanhola acabar por ser ensombrado por isto. Temos de mudar as coisas”, destacou.
Agora, numa entrevista ao canal televisivo esloveno N1, Ceferin voltou a abordar o caso já perante a medida de avançar para a demissão de Rubiales para fazer uma separação de águas entre o que está em causa. “O que Luis Rubiales fez foi algo inapropriado e incompreensível. Ainda assim, quando leio que aquilo que fez foi uma ofensa grave e um delito penal… Como advogado de Direito penal, isso parece-me ilógico. Os jornalistas também acabaram por levar a história a esse nível de importância”, apontou o líder da UEFA. “Era uma batalha que não poderia ganhar, não podia continuar como presidente da RFEF”, acrescentou.
❌???? Aleksander Ceferin, presidente de la UEFA, le quitó peso a nivel penal al beso no consentido de Luis Rubiales a Jenni Hermoso pic.twitter.com/aAI1ZDjzU4
— Diario AS (@diarioas) September 19, 2023
“Precisamos de um código de conduta que estabeleça de uma forma clara tudo o que são limites do que é um comportamento aceitável e determinar as consequências quando se cruza a linha”, apontou ainda Ceferin, que admitiu a falta de mudança na cultura reinante no futebol em relação às mulheres. “Na Europa só temos três mulheres como presidentes de associações nacionais de futebol entre 52 líderes. Realmente é um facto, há muito poucas mulheres dirigentes no futebol”, assumiu o presidente da UEFA.
"The press brought this story to this level of importance," #UEFA President Aleksander Ceferin has said of the Luis #Rubiales kiss scandal.
He says it would be illogical if Rubiales was convicted of a crime. (MD) pic.twitter.com/U2RDXMTGhM
— Football España (@footballespana_) September 19, 2023
Em paralelo, Ceferin abordou também o novo El Dorado da Arábia Saudita, relativizando aquilo que poderá ser o seu peso no plano europeu. “Creio que esta história será relativamente breve. Já disse muitas vezes que este é um foco errado para o desenvolvimento do futebol, não se desenvolve o futebol trazendo jogadores que praticamente já acabaram as suas carreiras na Europa. A China tentou fazer isso há uns anos e a sua seleção não se qualificou para o Mundial. Não creio que devamos tomar qualquer medida contra nenhuma liga. Os números são provavelmente um pouco mais altas hoje mas não vejo jovens estrelas como o Erling Haaland ou o Kylian Mbappé interessados em seguir para a liga da Arábia Saudita”, destacou.
“O nosso futebol é realmente grandioso. As nossas investigações e estudos mostram que as pessoas seguem duas coisas: o seu clube ou seleção e as competições. Se o teu jogador favorito vai para Marte, vais deixar de segui-lo. Esse tipo de notícias só são interessantes para o mercado de transferências”, concluiu.