Muitas vezes o momento de um jogador de futebol depende de um sorriso. Uma cara trancada ou um olhar meio perdido no vazio podem sobretudo representar o espelho dos números que as estatísticas mostram do que se faz no campo e essa era a melhor imagem para descrever a versão Chelsea de João Félix. Agora, ainda no início de uma aventura para ganhar uma “segunda vida” aos 23 anos, aquilo que se vê é um jogador mais solto, mais alegre, mais capaz de decidir o que fazer com bola sem ter aquela obstinação prejudicial de andar a correr atrás dela apenas para perdê-la uns segundos depois. O que dizem depois os olhos do português? O que retratam os números: após ter sido suplente utilizado com o Osasuna e o Luxemburgo (onde marcou), foi titular com Betis e Antuérpia nas goleadas por 5-0 e fez três golos mais uma assistência.

As saudades que nós tínhamos, João: Barcelona goleia Antuérpia com dois golos e uma assistência de Félix

“Não esperava um início assim tão bom, sinceramente não esperava. Acreditava, e ainda acredito, que este é o sítio ideal para mim mas na verdade as coisas estão a ir muito bem, não espera até que corressem tão bem. Agora é esperar que continue assim até ao final. O que me disse Xavi? Desde o primeiro dia que possa jogar para desfrutar, que jogue com alegria e que ponha o meu futebol em campo. Claro que também me pede as questões táticas mas sobretudo que desfrute, que me divirta e é isso que tenho tentado fazer”, começa por dizer o jogador português emprestado pelo Atl. Madrid numa entrevista ao Mundo Deportivo.

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É verdade que renunciei a uma quantidade significativa de dinheiro para a minha vinda [para o Barcelona] mas necessitava de mudar, necessitava de um sítio onde pudesse praticar o meu futebol. Sempre acreditei que este seria o sítio ideal para mim. As coisas estão a sair bem e tinha mesmo de fazer esse esforço para voltar a ter alegria em jogar”, admite o internacional.

João Félix e João Cancelo estreiam-se a marcar em dia de goleada do Barcelona

“Como é possível não ter vingado no Atl. Madrid? Bem, é algo que está claro para todos mas o futebol é assim, quem está mal só tem de mudar de sítio. Fiz antes isso com o Chelsea e fiz agora com o Barcelona por não estar bem ali. Não me adaptei às ideias do clube e do treinador mas tentei sempre dar o melhor que podia e também passei momentos muito bons ali. O que estarei disposto a fazer para ficar? Bem, por mim depende de como terminar a temporada. Depois é o Barcelona que tem de negociar com o Atl. Madrid e isso depende do Atl. Madrid, se quer ou não facilitar as coisas. Mas isso já são coisas de negócios, de valores, não me meto. Faço o meu trabalho em campo, tento fazer o melhor para que me queiram”, destaca.

Por fim, Félix abordou também a chegada de outro português cedido pelo Manchester City, João Cancelo, após seis meses de empréstimo ao Bayern. “Está muito bem, em termos de qualidade é o melhor lateral com quem já joguei. Tem qualidade para ser um ’10’, até gosta de jogar a ’10’ e diz que quando terminar a carreira vai jogar a ’10’ na equipa da sua cidade [Barreirense]. Tem uma qualidade extraordinária, é muito bom jogador e oferece muito a esta equipa. De onde veio também conseguiu sempre acrescentar, ganhou sempre muitos títulos e por onde passou as equipas estiveram sempre bem”, salienta o avançado.

“O João é um talento natural. Acho que jogadores assim não aparecem muito, principalmente em Portugal. Ele é um talento a ser lapidado, acho que está no clube certo para chegar onde quiser. Ele é mais um para nos ajudar, tem a mesma ambição que eu, que é ganhar títulos e ajudar ao mais alto nível possível”, frisou também João Cancelo sobre o compatriota e agora companheiro no Barça, ao Mundo Deportivo.

Depois de uma passagem sem grande sucesso pelo Chelsea na segunda metade da última temporada, João Félix regressou ao Atl. Madrid mas nunca chegou a ser opção de Diego Simeone, falhando todas as partidas da pré-época e ficando no banco em duas das três primeiras jornadas da Liga. Em paralelo, o português foi assobiado e insultado na estreia dos colchoneros no Metropolitano, o que acabou também por acelerar a procura de uma alternativa que ficou apenas fechado no último dia de mercado. Foi nesse momento que o jogador teve de fazer cedências significativas para os dois clubes encontrassem uma solução a tempo. “O jogador surpreendeu-nos quando disse que só queria jogar no Barça. Tal como estava o plantel na altura, alguma coisa tinha de acontecer para que ele pudesse vir. Havia Ferran [Torres], Ansu [Fati]… O salário de João Félix é pago quase todo pelo Atl. Madrid, é ridículo o que o Barcelona paga por ele”, comentou Enric Masip, assessor de Joan Laporta, em entrevista ao Esport 3 quando se falava num salário de 400 mil euros.

Assobiado de início, afastado no meio, insultado no final: a noite de pesadelo de João Félix (mesmo sem jogar)

“Quando o senhor Masip disser isso, diga-lhe que ele não está a dizer a verdade, porque não é o caso. Não é verdade. Que pretendiam pagar 400 mil no início da operação, pode ser. O que custa ao Barça no limite do plantel é muito mais. O que eles vão pagar é muito mais. Para os nossos efeitos, o que João Félix ganha não é o que o Barcelona pode pagar-lhe, para efeitos do nosso limite é o que aquele jogador deve ganhar, o que é muito mais do que aqueles 400 mil que dizem que lhe pagam, porque também há outro clube envolvido. E depois há o preço do empréstimo. Para os nossos propósitos, não são 400 mil euros, é muito mais”, explicou mais tarde Javier Tebas, presidente da Liga. Segundo a imprensa espanhola, os catalães pagarão esses 400 mil líquidos depois de o Atl. Madrid liquidar julho e agosto, sendo que o empréstimo só aconteceu após uma renovação por mais dois anos até 2028 onde o avançado se comprometeu a baixar o salário que tinha, de seis milhões limpos por época, para apenas três milhões. Foi disto que o internacional abdicou para chegar ao Barça, entre aquilo que deixa de ganhar em 2023/24 e o que baixou até 2028.